OS ENGRAÇADISTAS E O ENGRAÇADISMO 1
O "engraçadismo" é o estado corporal e mental forçado que tomam
certas criaturas armadas em divertidas engraçadas para manterem um
permanente e aparente ambiente de fingida boa disposição à base da piada
superficial ou anedota sádica sobre qualquer assunto, velho ou do
momento.
Eles estudam e trabalham empenhadamente para ganharem notoriedade e
tornarem-se rapidamente profissionais do engraçadismo nacional e assim,
despudoradamente, enveredam pelo caminho fácil do trocadilho de cariz
sexual pró-pornográfico enveredando pelo facilitismo do engraçado
pimba.
Por outro lado, na peugada e em complemento da pimbalhice engraçadista,
usam e abusam de um patriotismo de garganta funda e moralismo contundente contra o
"amanhanço" e "corrupção" dos políticos fazendo-se, eles próprios,
passar por mais impolutos e honestos que a própria honestidade. Contudo,
atenção, aqui são contundentes contra os políticos ou os "grandes"
caídos em desgraça que, aos no activo. são exemplarmente dúbios e
cautelosos na distribuição equitativa do tempo, número, grandeza e,
sobretudo, no modo engraçadista de envolver as graçolas de maldizer, já
de si, normalmente falaciosas e inofensivas, em omo lava mais branco quando dirigidas a cada detentor de poder de todos os quadrantes ideológicos.
Ganho o estatuto intelectual de
"engraçadista" atribuído pelos media, passam a entrar-nos
inadvertidamente pela casa adentro a solo ou em grupo com plateias de
embasbacados estudantes rascas a tirocinar para humilhados de praxes e
futuras pavlovianas jarras decorativas dos programas da manhâ, e tentam impingir-nos
graçolas primárias quase sempre próximas da boçalidade ao pior estilo
do camionista de longo curso.
O
engraçadista desprezou, quase à partida, o inteligente bom humor que um
Herman José produziu e praticou largo tempo e agarrou ávida e
interesseiramente o seu lado pior de humorista quando cedia ao
facilitismo da imagem e linguagem reles e ordinária para agradar a
públicos sem exigências éticas nem estéticas.
O engraçadista não
faz humor que é uma coisa durável e fica na memória, não, o engraçadista
apenas quer provocar a risada imediata, instantânea, impensada e
repetitivamente em moto contínuo, precisamente, para evitar que o
pensamento funcione. O engraçadismo aposta no instinto e joga contra o
racional, ultrapassa o limite do ridículo pela ordinarice e gozo do
sucesso fácil. Contudo, o engraçadismo não passa de um espantalho que
apenas afasta o espírito, da inevitável existência e racionalidade
necessária, um breve tempo de enganos para depois regressar à sua
realidade de inútil enfeite sem função.
Como dissemos, o
engraçadismo nasceu do pior que o humorista misturava no humor são e não
doentio e imediatista. Podemos tomar como seu momento iniciador o humor
intelectual dos "fedorentos". Contudo, estes, ostentando o aplauso quase
unânime da esquerda e piscando já o olho à direita, muito rapidamente se
renderam à publicidade empresarial e, inevitavelmente, descambaram para o
uso e abuso do dúbio sentido das palavras e imagens para levar ao engano
a pessoa alvo fazendo-a crer que é melhor para si ser cliente autómato
que criatura clarividente quando, na verdade, é sobretudo melhor para o
engraçadista a quem o patrão paga correspondentemente aos resultados
conseguidos pelo trabalho de enganos executados como engraçadista
contratado.
E deste modo, politicamente, o engraçadista é sempre
uma personagem dissimulada mesmo quando enfeita às camadas a sua prosa
de palavreado progressista para disfarçar-se. O engraçadista, embora
sendo já uma figura pública, nunca é cidadão militante activo. Ele
resguarda-se socialmente em fazer passar-se por uma personagem neutra,
puro de contaminação politico-ideológica mas conspurcado de profundo
moralismo político-puritano, contudo, o seu visceral criticismo contra
os políticos revela um ser empenhadamente anti-partidos e,
consequentemente, anti-política que se deita para sonhar com um país de um partido democrático e único, o dos amigos.
O humorista é determinado pela
dimensão cómica da existência e usa-a não poupando ninguém, nem a si
próprio, quando trata de fazer humor recorrendo ao trabalho da
inteligência.
O engraçadista é o oposto daquele, também conhece
essa humana dimensão cómica mas, ao contrário, abusa dela pelo excesso e
cai no exibicionismo ridículo, poupa-se sempre a si próprio ou se
auto-elogia por contraponto, prescinde do trabalho da inteligência a
favor da esperteza e termina, quase invariavelmente, na piada de sentido
insultuoso ou mesmo no insulto puro provocatório.
É que alguns
engraçadistas, como é sabido, usam o seu talento parasitário para fazer
da provocação ignóbil o meio prático de subirem ao topo da Babel
mediática e, paralelamente, descerem ao fundo da subserviência.
O
engraçadista é o novo bobo da corte agora com a missão de divertir e
distrair o povo e, por tal motivo e bom comportamento, atingem tão
elevada reputação e são bem pagos junto dos detentores de poder.
Etiquetas: o engraçadismo
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