segunda-feira, dezembro 11, 2006

ESTRADA DE SANTA BÁRBARA DE NEXE

CÂMARA MUNICIPAL DE FARO

Exmos. Senhores Edis,

A freguesia de Santa Bárbara de Nexe é a única do concelho de Faro que está alcandorada sobre a cidade, sobre a Ria e sobre o Mar a cerca de 300m de altitude e fica apenas a 10Km da cidade capital do Algarve. Em qualquer pequeno carro utilitário são 10 minutos para alcançar a sede da freguesia. Seriam, pois que no caso presente serão mais e sobretudo com aumentadas possibilidades de graves riscos para a saúde do carro ou para a própria saúde do condutor e passageiros.
Como já devem estar a pensar estou a falar da estrada Municipal nº 520, principal ligação de Faro à nossa Freguesia. Passados mais de 30 anos sobre a promessa Abril, muitos anos sobre um país coberto de Auto-Estradas, IPs, ICs, Vias Rápidas, Circulares, Pontes, Túneis, Aeroportos, Estádios, e prestes a entrar na era da via Linha de Alta Velocidade, é com enorme desgosto que percorro a curta via de ligação à minha freguesia rural e constato que tudo mudou à volta excepto a velha estrada 520. Esta mantem-se obstinadamente na via Linha de Mesma Velocidade, aquela das carroças da pedra, da amêndoa, da alfarroba e dos peixeiros de bicicleta a pedal. Lembro-me quando ia para Faro de bicicleta fazia todo o percurso desviando-me das covas, buracos, poças de pó ou água, pedras, paus, para chegar inteiro e limpo à cidade. Hoje vamos de carro mas as manobras e os cuidados são os mesmos.
Verdadeiramente a velha estrada 520 ficando sempre igual piorou enormemente com a mudança verificada à sua volta. A população aumentou e toda a família, comércio, indústria, serviços, turismo, etc. se desloca em viatura própria. Onde passava uma carroça de vez em quando hoje passam dezenas de carros a velocidades 20 vezes superiores. Onde havia de vez em quando uma portada de saída para a estrada hoje há dezenas de portadas de saída de carros, carrinhas, camiões, velhos e crianças. É verdade, tudo mudou só a 520 não.
Como foi possível que se tenha gasto tanto dinheiro a fazer e desfazer pisos de ruas, largos, fontes, jardins, parques, parquinhos de estacionamento e para a 520 nem um tostão. Como foi possível gastar tanto dinheiro na Ilha de Faro a socorrer a duna, a fazer e desfazer o largo, abonitar o imbonitável, e para a 520 nem um escudo. Como foi possível deixar passar durante anos os apoios comunitários ao desenvolvimento rural, ao saneamento básico, havendo à vista uma estrada naquele estado nas barbas do Município. Não dá para acreditar.
Dá para se explicar: -a total falta de atenção às populações rurais, a total falta de consideração pelas populações rurais, a total falta de respeito devido a quem já sofre do isolamento da interioridade, da falta de meios e serviços à mão, da falta de água e esgotos à mão, da falta de tudo que o citadino tem em casa ou à porta dado e o rural tem de pagar com deslocação e tempo perdido. Contudo o rural paga exactamente as mesmas taxas camarárias que os demais.
É o velho paternalismo salazarista do “cidadenho” sobre o “montanheiro”: este passa bem com a sua courela de barrocal, com o seu hortejo de couves, favas, xixaros, papas, porco, cabras, galinhas e ovos frescos, e neste quadro fica a matar uma bacia turca de obrar sobe a pocilga. Neste quadro idílico para gente sem instrução e, por conseguinte sem necessidades finas, boas estradas, bons caminhos, bons acessos, água, luz, esgotos, etc. são pérolas por bolotas. Esta cultura mental do tempo do velho sen(il)hor durou, durou e dura ainda apesar da Europa Connosco.
Sei que tudo estava por fazer mesmo na cidade e que planear exige prioridades. Compreendo que eleições ganham-se com votos e estes estão concentrados nos dormitórios das cidades. Percebo que os meandros dos negócios criem redes e grupos de pressão à roda da política e dos políticos difíceis de contornar.
Mas alguém em perfeito juízo entenderá que um Município que possui a Capital Distrital tenha às porta da sua cidade povoações sem água nem esgotos e com acessos quasi intransitáveis? Que tudo isto aconteça nas barbas duma população rural que vê os seus Edis gastarem rios de dinheiro com um clube de futebol falido? E cegos, com o mealheiro já derramado no clube, acabam por bater com o mealheiro meio vazio no pedregulho mastodôntico inutilmente enfeitado para estádio de futebol do tal clube falido.
Penso que a extrema mais longa do nosso concelho se situa aqui nos Gorjões, isto é a 15kms de distância. Numa cidade que queira ser uma capital distrital que vise o futuro, que tenha ambições de alargar a sua área de influência, que faça sentir a toda a volta o peso do seu desenvolvimento, que seja um pólo de atracção para toda a região, tem forçosamente de entender que toda a zona envolvente até ou mais de 15kms à sua volta deve ser considerada seus arredores. No caso de Faro todo o resto do concelho deveria ser olhado como tal, arredores para sua futura expansão habitacional, comercial, industrial, cultural, desportiva, etc. Edis com vistas largas, optimistas quanto ao futuro da cidade, deveriam desde já começar a acreditar nessa possibilidade e iniciar o planeamento nesse sentido. O primeiro passo seria abrir vias rápidas modernas até às sedes das freguesia rurais como estrutura base, que só por si arrasta o resto. Claro que essa obra mãe não pode deixar de levar no ventre as redes de todas as necessidades já consignadas na carta do cidadão europeu.
Nem só de praia, sol e bom tempo pode o algarvio viver sempre, até por que o clima está a mudar e a amêndoa, o figo e a alfarroba foi chão que deu uvas, e uvas hoje é no Alentejo.

José Neves

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2 Comments:

Blogger HFR said...

De acordo.

4:21 da tarde  
Blogger Ze Didi said...

Completamente de acordo!

Didi

12:25 da tarde  

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