sábado, abril 19, 2008

CURTAS- METRAGENS



MANOEL DE OLIVEIRA

Em boa hora o Cine Clube de Faro exibiu esta noite, no prosseguimento da celebração do centenário do realizador, 4 curtas-metragens que vão do ano 1932 a 2007. As curtas mais recuadas foram filmadas no período de cerca de 30 anos em que MO, por falta de apoios, não pôde filmar longas-metragens pelo que se dedicou a pequenos filmes, tipo documentários, acessíveis às finanças familiares. Estas são da época de Douro Faina Fluvial e remetem para uma visão de choque entre o contraste do novo e moderno e o uso e costume tradicional. É o caso da oposição flagrante entre os dois carros "espadas" último grito, e os dois cavalos na mesma cena junto à bomba de gasolina, e depois o "espada" metendo gasolina onde de seguida aparece a carroça de burro também para meter gasolina. E aqui o humor fino de MO sobressai, pois faz o espada sair da bomba de gasolina rolando lenta e graciosamente e a carroça sai desarvorada aos saltos.
Mas a curta mais longa e mais significativa cinematográficamente é a titulada Famalicão que retrata o que nesta localidade acontece, mais uma vez para mostrar o novo em oposição à velha tradição rural. Aqui MO filma e monta à maneira Eisensteineana influenciado pela escola russa em voga na altura. Os grandes planos dos rostos dos camponeses na feira de gado e o ritmo de montagem na malhada do milho são magníficos exemplos da linguagem cinematogáfica da escola russa. O interessante é que na cena de malhar o milho, o autor começa por uma rotação lenta da câmara, muito à maneira do futuro estilo MO, que vai mostrando o ambiente até focar o milho a secar. A partir daqui a montagem torna a linguagem cinematográfica vigorosa com as imagens dos rostos, corpos, instrumentos e o milho alternando-se frenéticamente.
A curta mais tardia é de 2007 e por conseguinte muito recente. Trata-se de um retrato quase ao estilo video-clip em cenas lentas sobre a bandeira portuguesa, segundo a visão exposta em vários telas por um pintor numa exposição no Museu de Évora. Aqui já é reconhecível fácilmente o seu estilo pensado de nos mostrar e evidenciar a mensagem fílmica.

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