segunda-feira, janeiro 19, 2015

BLASFÉMIA OU LUTA DE IDEIAS!

Claro que Francisco Teixeira da Mota, no "Público" de 16 pp, põe a questão da sanha religiosa, qualquer que seja a religião, no sítio exacto colocando-o no plano do pensamento. Pois com certeza, mesmo antes de ser um problema do pensamento foi, é, um problema das ideias.
À Ideia de Bem Absoluto que Platão deduzira de sua inteligente, sábia e inigualável racionalidade os religiosos, até então apenas armados mui fraca e duvidosamente com argumentos de fé e milagres, a partir do cristianismo primitivo com o helenista Saúlo (depois S.Paulo), apoderaram-se desse legado platónico e aristotélico, inscreveram na sua teologia que, precisamente, a Ideia que Platão deduzira como O Bem Absoluto, afinal, não era mais de que aquilo a que os cristãos  chamavam Deus.
Também a Moisés, no Sinai, apresentou-se-lhe algo que lhe disse ser Javé, que quer dizer "aquele que é"; uma maneira expediente de dizer que é qualquer ou ninguém. E nesse momento ditou os mandamentos, isto é as leis ou as ideias de cumprimento obrigatório, canónicas para os seguidores.
Portanto, o que temos sempre acerca destes e de todos os deuses, quer os existentes quer os já desaparecidos, não passam de ideias acerca de algo criado pela imaginação. Ideias que, como prova a história das religiões, variaram ao longo de milénios segundo o conhecimento respectivo a cada época antropológica.
E o gigantesco erro original que nos impõem à nascença é essa do conceito de “blasfémia”; mas qual blasfémia qual carapuça se quando estamos criticando, ridicularizando, apoiando ou desprezando um deus de uma facção religiosa simplesmente estamos usando da nossa faculdade racional de discutir, rebater, rejeitar ou aplaudir uma ideia que uns imaginam representar algo que querem impor como sagrado e outros racionalmente questionam?
Querem fazer-nos crer que praticamos um crime de "blasfémia" quando insultamos a ideia de deus mas se for a ideia de diabo já não, assim como ninguém se insurge se se humorizar ou ironizar com a ideia dos atributos de deus como o “o infinito”, “o imóvel” “o omnipotente”, “o omnipresente”, “o omnisciente”, "o indefinido", "o absoluto", "o inamovível", "o infinito", "o uno", "o todo" ou outros atributos que nunca alguém jamais presenciou ou pressentiu que justifique a presença ou existência de um deus real para além da ideia que fazemos dele.
Por conseguinte, a crítica religiosa é, especialmente desde o racionalismo grego, uma crítica das ideias e é nesse plano que o devemos entender; a única sagração que existe é a natureza que nos proporcionou a capacidade de ter ideias e submetê-las à racionalidade dos humanos.
Historicamente, sempre o poder se aliou e serviu das ideias, feitas proposições religiosas, e seus consequentes sobre justiça, moral, comportamentos sociais, valores e virtudes de obediência assim como medos de desobediência e respectivos castigos e punições, para dominar e manipular os subditos .
 A “blasfémia” é outra ideia, tal como a de deus, que a imaginação do homem inventou para obter, assegurar, manter e aumentar sempre um poder de grupo ou elite obtido à bruta pela força ou conscientemente pela força das ideias; a "blasfémia" não passa de um conflito de ideias que hoje, como ontem, algum poder transformou numa batalha suicida na tentativa desesperada de manutenção de privilégios primitivos há séculos ultrapassados.
A “blasfémia” um dia será um arcaísmo tal como os deuses do olimpo.

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