segunda-feira, abril 25, 2016

ABRIL SEMPRE CADA VEZ MENOS


O dia antes
Era o tempo de lobos e cães  
epidémicos, anónimo bufedo
olhos e voz única de charlatães,
bocas mudas olhos de medo,
lágrimas de viúvas e mães
de filhos levados à morte cedo.

O dia
Soltou-se bravo antes do Sol
nascer feito faca mata-esfole
do dia antes, de tirar pele,
manhas, garras e dentes,
soltar presos medos e mentes,
as esperanças, que liberte e vele

as liberdades mordaças e toucas,
pare a guerra e os choros,
ponha paz e cantes nas bocas,
alegria e vivas na rua aos coros,
erga o país de pé, alto e visível
com alma de fogo imperecível.

O dia depois
Julgámos atingido o dia, o tal
justo e seminal parido de fuzis
floridos plantando dias abris
sempre. Ó ingenuidade fatal
do homem aluno de aprendiz
da liberdade à solta no arraial

montado na praça e à nua mesa
pretendentes pintavam a presa:
será rosa, será rubro o tónico
da cor sem jogo democrático?
Pé ante pé o capital pragmático
veio; tom sujo disse, salomónico.

O dia hoje
Sem amanhãs, sonhos e utopias
os dias hoje correm indecisos.
Abril escapuliu-se, nenhum messias
nos acode nem troca paraísos
por chão pobre. As mais valias
somos nós, os valores, os juízos.

O dia amanhâ
 Tivemos os Henriques e João II.
     Recusai ser o eterno cu do mundo.


                                                                                  José Neves
                                                                                  Gorjões, 20.04.2004

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