domingo, setembro 04, 2016

OS ENGRAÇADISTAS E O ENGRAÇADISMO 2


A escola e a montra mais visível do engraçadismo está centrada no canal "Q". Aqui tudo é dito e se produz sob a ideia e culto do estilo engraçadista e nada se vê ou ouve que não seja envolvido de risadas altas como sendo aplausos às próprias trocas de piadas sem piada. O piadismo e risadismo crítico em moto-contínuo a propósito ou despropósito, sobre todos os temas, tenta fazer criar a ideia que estão tratando de fazer a desmontagem da eventual demagogia, erro ou mentira do tema tratado e que, desse modo, são pessoas altamente inteligentes, sérias e empenhadas em prol da verdade dos ofendidos sem voz.  
A acção deste falso efeito sobre os embasbacados pré-condicionados pela cultura do estilo é a do enfeitiçamento irracional. Contudo, o que verdadeiramente o engraçadismo faz é lançar demagogia sobre o tema ou acumular mais demagogia sobre a eventual demagogia existente no tema criando, deste modo, uma confusão que contamina e baralha qualquer visão e raciocínio lógico sobre o assunto.
 Enquanto o humor tenta esclarecer ou dar uma visão que explique fundadamente desmontando ou subvertendo a mentira ou demagogia implícita no tema tornando-o absurdo e risível, ao contrário, o engraçadismo atira lesto um anátema preconceituoso dogmático catalogando o tema imediata e fixadamente para depois parodiar o tema "fotografado" com variações de bordel e cores de alcova de modo a provocar, por automatismo instintivo, a risada alarve.
O engraçadismo não educa nem esclarece, confunde para dividir e baralhar e, deste modo, promover a manutençao do reino dos poderosos. E, por interesse e condescendência destes, manter vivo, igualmente, o próprio miserável pequenino reino dos parodiantes contratados para levar o povo ao pagode da distração permanente.
 O engraçadismo consegue manter-se, talvez devido a trabalhar por interposta representação mediática, embora entre posições opostas segundo um paradoxo flagrante. De facto, o dito engraçadismo, toma-se a si próprio com grande seriedade e considera o seu trabalho como de pesquisa inventivo mas, paradoxalmente, depois trata todos os assuntos sérios com a maior das leviandades do piadismo feito a martelo para o divertimento fácil e forçado e, sobretudo, inócuo e paralizante. E que tende ser mais uma falácia da banalidade segundo uma postura de falsa irreverência que uma actitude racional nascida do pensamento e provinda do saber.
Um exemplo paradigmático do engraçadismo foram os "homens da luta" que perseguiam insolentemente o poder político da altura, onde quer que este aparecesse na figura dos seus máximos representante, no intuito político deliberado de, sob a aparência da irreverência artística engraçadista, trabalharem para derrubar esse governo. Se eram contratados ou a soldo, talvez um dia se saiba, sabe-se todavia que eram fortemente apoiados pelos media e poderosos e que, caído esse governo e empossado o novo, os "homens da luta" desapareceram da rua e dos ecrãs.  E a propósito, onde param os organizadores da célebre manif da "geração à rasca"
Sob a capa do engraçadismo o engraçadista porreiro-nacional trabalha ao serviço dos poderosos internos que, por sua vez, são agentes menores dos plutocratas do mundo. Também o "jornalismo", mesmo o de referência, se está transformando rapidamente numa espécie de "jornalismo engraçadista" na medida em que, tal como o engraçadismo mesmo, se toma e disfarça de sério para fazer passar a mensagem conveniente à plutocracia.
Sinal dos tempos pró-unidimensionais que vivemos actualmente são, precisamente, o aparecimento inesperado de modernaços grupos activos organizados que se dissimulam sob as vestes mais diversas para esconderem a verdadeita bandeira pela qual labutam. Quer se apresentem sob a capa de "engraçadistas", de "homens da luta", de "jornalismo de referência", de "observadores", de "deolindos", de "fedorentos" ou "geração à rasca" todos, deste género que se fingem sem pecado original, fazem parte da pulhice universal desde Adão e Eva. 

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