segunda-feira, março 19, 2018

HORA DE INAUGURAÇÃO



O gorjonense Adolfo Contreiras falou sobre a história do "jornal do Pau".
Assim:

Diz-se, e todos concordam, com o conceito proverbial de que é da discussão que nasce a luz, que do confronto de ideias nasce a melhor ideia. Como no confronto de sons nasce a música e quanto mais harmoniosa o conjunto de sons mais bela a música é.
Os sábios antigos afirmavam que o Homem vive segundo uma "harmonia dos contrários".   
Aqui neste “jornal do Pau” houve muitas trocas de conversas e discussões e não consta que delas nascesse luz que iluminasse o mundo, contudo, certamente nasceram muitas pequenas luzes que iluminaram muitos pequenos problemas pessoais dos homens humildes que aqui se reuniram anos a fio.      
Pois é, este monumento ao “Jornal do Pau” que hoje inauguramos vem no rasto da permanente discussão dos Homens acerca do que é e do que não é ou devia ser.
Desde sempre o Homem que nasce livre teve necessidade de juntar-se a outros homens e viver em comunidade partilhando a sua defesa e conhecimentos.
Foi a troca de ideias, de práticas e de experiências que geraram o conhecimento que gerou a evolução e o trajecto da humanidade até hoje.  
E essa evolução e trajecto do Homem sobre a Terra até hoje, não só não dispensa como aumentou a necessidade do Homem se juntar para dialogar acerca dos problemas, cada vez mais complexos, que diariamente surgem quer num povo localmente quer entre povos a nível global.
Também numa comunidade pequena a necessidade de trocar conversas e histórias, dar opiniões, tecer críticas e ter ideias acerca de como resolver problemas da comunidade, como é o caso dos  Gorjões, se faz sentir entre os que melhor conhecem os problemas locais, os seus habitantes
Desse modo, no fim dos anos’70 início dos anos'80 do século passado, alguns gorjonenses regressados da emigração e outros, quando se viram privados dos velhos poiais de rua, onde os pais e depois eles próprios costumavam juntar-se para cavaquear à vontade, sentiram necessidade de voltar a ter um espaço próprio seu para estar juntos e "dar à língua". 
Pensado e feito. Uns foram buscar um pau de poste da linha telefónica abandonado numa berma da estrada, outros foram buscar a uma velha casa abandonada duas pedras iguais trabalhadas para ser suporte de um pau que fazia de cancela à entrada de propriedade rural.
Quase da noite para o dia surgiu, instalado nesta esquina de cruzamento local e centralidade dos Gorjões, um banco de pau improvisado mas perfeito para a função de seu destino. Aqui, durante décadas, velhos homens de antigas famílias gorjonenses, voltaram a juntar-se para trocar histórias antigas locais e novas histórias da emigração matando saudades com alegria e felicidade.
Foram esses mesmos homens gorjonenses, criadores e utilizadores do banco do pau que, pelo costume de ali trocarem diariamente novidades deram em chamar ao dito banco o "Jornal do Pau".   
É justo a inauguração de um monumento escultórico, precisamente, representando a história desses homens reunidos no banco do pau e é bonita a homenagem e perpetuação de sua memória no próprio "palco" onde foi representada.
Porque, segundo um olhar de sentido histórico, este monumento é também, no fundo, uma homenagem a todos os homens que desde sempre se reuniram para conversar e confrontar opiniões que deram à luz ideias novas que fizeram mudar e avançar o mundo.
Será uma singela homenagem para a humanidade mas grande para o pequeno povoado dos Gorjões.
E para que a discussão continue, já hoje, uns dizem que ali está apenas lata e outros, como eu, que ali está uma jóia dos Gorjões.

Etiquetas:

1 Comments:

Blogger HFR said...

Agradecemos a vossa estimável colaboração.
Abraço do Helder.

11:08 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home