HORA DE INAUGURAÇÃO
O gorjonense Adolfo Contreiras falou sobre a história do "jornal do Pau".
Assim:
Diz-se, e
todos concordam, com o conceito proverbial de que é da discussão que nasce a
luz, que do confronto de ideias nasce a melhor ideia. Como no confronto de sons nasce a música e quanto mais harmoniosa o conjunto de sons mais bela a música é.
Os sábios antigos afirmavam que o Homem vive segundo uma "harmonia dos contrários".
Aqui neste
“jornal do Pau” houve muitas trocas de conversas e discussões e não consta que
delas nascesse luz que iluminasse o mundo, contudo, certamente nasceram muitas
pequenas luzes que iluminaram muitos pequenos problemas pessoais dos homens
humildes que aqui se reuniram anos a fio.
Pois é, este
monumento ao “Jornal do Pau” que hoje inauguramos vem no rasto da permanente
discussão dos Homens acerca do que é e do que não é ou devia ser.
Desde sempre
o Homem que nasce livre teve necessidade de juntar-se a outros homens e viver
em comunidade partilhando a sua defesa e conhecimentos.
Foi a troca
de ideias, de práticas e de experiências que geraram o conhecimento que gerou a
evolução e o trajecto da humanidade até hoje.
E essa
evolução e trajecto do Homem sobre a Terra até hoje, não só não dispensa como
aumentou a necessidade do Homem se juntar para dialogar acerca dos problemas,
cada vez mais complexos, que diariamente surgem quer num povo localmente quer
entre povos a nível global.
Também numa
comunidade pequena a necessidade de trocar conversas e histórias, dar opiniões,
tecer críticas e ter ideias acerca de como resolver problemas da comunidade,
como é o caso dos Gorjões, se faz sentir entre os que melhor conhecem os
problemas locais, os seus habitantes
Desse modo, no
fim dos anos’70 início dos anos'80 do século passado, alguns gorjonenses
regressados da emigração e outros, quando se viram privados dos velhos poiais
de rua, onde os pais e depois eles próprios costumavam juntar-se para cavaquear
à vontade, sentiram necessidade de voltar a ter um espaço próprio seu para
estar juntos e "dar à língua".
Pensado e
feito. Uns foram buscar um pau de poste da linha telefónica abandonado numa berma
da estrada, outros foram buscar a uma velha casa abandonada duas pedras iguais
trabalhadas para ser suporte de um pau que fazia de cancela à entrada de propriedade rural.
Quase da
noite para o dia surgiu, instalado nesta esquina de cruzamento local e centralidade
dos Gorjões, um banco de pau improvisado mas perfeito para a função de seu
destino. Aqui, durante décadas, velhos homens de antigas famílias gorjonenses,
voltaram a juntar-se para trocar histórias antigas locais e novas histórias da
emigração matando saudades com alegria e felicidade.
Foram esses
mesmos homens gorjonenses, criadores e utilizadores do banco do pau que, pelo
costume de ali trocarem diariamente novidades deram em chamar ao dito banco o
"Jornal do Pau".
É justo a
inauguração de um monumento escultórico, precisamente, representando a história
desses homens reunidos no banco do pau e é bonita a homenagem e perpetuação de
sua memória no próprio "palco" onde foi representada.
Porque,
segundo um olhar de sentido histórico, este monumento é também, no fundo, uma
homenagem a todos os homens que desde sempre se reuniram para conversar e
confrontar opiniões que deram à luz ideias novas que fizeram mudar e avançar o
mundo.
Será uma
singela homenagem para a humanidade mas grande para o pequeno povoado dos
Gorjões.
E para que a
discussão continue, já hoje, uns dizem que ali está apenas lata e outros, como
eu, que ali está uma jóia dos Gorjões.
Etiquetas: inauguração da escultura ao "jornal do Pau"
1 Comments:
Agradecemos a vossa estimável colaboração.
Abraço do Helder.
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