FESTA DAS TOCHAS FLORIDAS 2018
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Esta "procissão" inédita em termos religiosos cristãos pode ter milhentas interpretações a partir do que foi o seu registo há cem ou duzentos anos e é agora. Contudo teremos de ir muito mais atrás na história quando na Grécia arcaica se realizavam festas de um cariz e natureza com algumas características desta festa das tochas floridas.
Tratava-se das "festas dionisíacas" consagradas ao culto do deus do vinho Diónisos (Baco) na sua forma primitiva. Mas Diónisos era primeiramente deus da fertilidade agreste que tinha como símbolos vegetais a hera e a videira. Era por isso o deus do vinho que alterava as consciências e por tal pressupunha a intervenção de uma divindade.
O cortejo dionisíaco era um fenómeno de massas contagiante composto pelo grupo dos Sátiros encharcados de vinho que cantavam os "ditirambos" e o grupo de mulheres, as ménades ou bacantes, que empunhavam as suas "tochas floridas" chamadas tíaso. O conjunto da festa formava uma manifestação colectiva de delírio a que ninguém era indiferente.
Estas festas deram origem ao nascimento do teatro original e a inultrapassáveis tragediógrafos cujas peças eram representadas em concurso, precisamente, na festa da grande dionísica.
Nesta festa o cântico dos homens ainda se assemelha ao que seria o cântico dos ditirambos pelos sátiros.
O culto da fertilidade agreste ainda se revê na ida ao campo agreste da serra fértil apanhar canastras de lindas e belas flores silvestres para enfeitar as ruas e as tochas floridas transportadas pelos homens.
Também quanto ao vinho para ajudar na euforia dos cânticos, em conjunto de grupos, os homens transportam escondidos nas algibeiras frascos adequados cheios, não de vinho, mas de aguardente de medronho, outra preciosidade devida à fertilidade agreste da serra algarvia.
Também, ainda, das tochas floridas se pode dizer que são a representação do tíaso dos tempos arcaicos que eram o símbolo devoto das bacantes.
Sintomaticamente a integração da festa pela religiosidade católica transformou a festa grega arcaica, dedicada ao culto da fertilidade da terra, num culto ao nosso Cristo ressuscitado. E as mulheres, como em toda a ordem hierárquica da igreja, passaram a desempenhar um papel secundário.
Mas, para se manter contagiante de multidões, os ingredientes de "festa" arcaica grega mantêm-se de forma disfarçada.
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