segunda-feira, agosto 17, 2015

CONTRIBUTO DE JERÓNIMO PARA O APROFUNDAMENTO DO MARXISMO



Sabe-se, desde que há História com escritura de factos, que no Olimpo mesmo entre os deuses havia classes; deus chefe e seus irmãos deuses maiores, deuses menores já filhos do deus chefe, deuses domésticos e até deuses "ignotos" além de deusas de baixa condição divina como as Musas, as Graças, Nereidas, Ninfas e outros semelhantes ou semi-deuses.
Também nesse tempo igualmente na ordem social sobre a Terra, como no Olimpo e à sua semelhança, a população existente estava dividida em classes; Eupátridas "os bem nascidos"da aristocracia, metecos, periecos e hilotas considerados cidadãos com plenos ou restritos direitos políticos segundo as suas capacidades económicas, e finalmente os escravos "instrumentos de trabalho" sem quaisquer direitos políticos ou sociais.
E, desde sempre, foi a luta entre desigualdades, primitivamente entre a quantidade e qualidade das terras para a caça ou pastorícia, depois as lutas entre "gens" sobrepovoadas pela conquista de novas terras aráveis para agricultura e não mais cessaram as lutas entre dominadores senhores do poder e riquezas e dominados reduzidos a "força de trabalho".
A luta histórica entre desigualdades de classe social assumiu aspectos paradoxais quando foi introduzida pelos pensadores gregos pré-clássicos o problema da "liberdade" e implantada em Atenas uma democracia, precisamente, no interior de uma sociedade esclavagista. Mais tarde dá-se a revolta dos escravos que lutaram pela libertação total do jugo e escravidão imperial de Roma. Sempre com a ajuda dos grandes pensadores clássicos gregos dão-se as revoltas religiosas vitoriosas da implantação do cristianismo, depois a revolta de Lutero Calvino e o Cisma papal dado o mau estado a que chegara o próprio cristianismo o que permitiu pequenos graus de liberdade e avanços sociais, sempre em prejuízo das desigualdades. Por fim, ainda na peugada dos mesmos grandes pensadores clássicos gregos, nasce o "iluminismo" que dá fundamentação à Revolução Francesa, imediata libertação das Américas e um século mais tarde continua o movimento de libertação com as lutas vencedoras da independência das colónias indianas e africanas.
Entretando, um célebre estudioso rato das bibliotecas investigador das lutas sociais históricas, interpretou a constância dessas lutas e designou-as "luta de classe" dando-lhe uma carga política e uma significação social que o levou à descoberta de uma teoria econónico-revolucionária. Marx foi profundo e brilhante nas suas análises sócio-económicas acerca da exploração dos trabalhadores pelo patronato industrial.
Foi longe de mais e enganou-se quando pretendeu ter descoberto uma lei científica que pré-definia o caminho do futuro e respectivo curso histórico da humanidade e que, desse modo, tinha matado e acabado com a dita História.
Houve de seguida uma corrida enorme de entusiastas pensadores a divulgarem e a explicarem a grande novidade politico-sociológica-revolucionária. Contudo, foram sempre mais intérpretes e explicadores do marxismo que propriamente inovadores da nova filosofia; contributos novos para o desenvolvimento teórico do marxismo foram quase nulos.
Em Portugal também houve uma chuva de leitores dos intérpretes e explicadores de fora, o habitual, para nos explicarem cá a grande verdade científica e certificarem o fim da História. O mais interessado deles foi Cunhal, o último marxista romântico, que teve a oportunidade de dirigir uma revolução marxista-leninista e implantar a "ditadura do proletariado", o "kama-sutra" do leninismo que distribui a felicidade em doses perfeitamente igualzinhas a todos sem excepção. Mas o "sol" de leste andava fraco e com falta de energia iluminante e brilho que entusiasmasse pelo que o velho romantismo revolucionário, sem luz do sol de leste, rapidamente apreendeu que melhor era jogar o jogo democrático europeu.
Contudo a sua auréula revolucionária ficou brilhando entre os seus e fez escola nos subditos aprendizes os quais, após o seu desaparecimento físico, lhe foram prestando tributos à obra, ideais e pensamentos. E passados uns tempos indecisos e revistas muitas teorias à luz das novas condições objectivas e subjectivas, chegou ao lugar de direção e comando outrora de Cunhal, o grande pensador Jerónimo de Sousa.
Este operário de tenra idade e depois quadro partidário sempre subindo a pulso pelo trabalho dedicado e pelo estudo da teoria acaba, hoje em dia, de atingir a sua maturidade intelectual filosófica. 
Fazendo a síntese perfeita entre o marxismo teórico mais profundo e os mais populares provérbios da nossa literatura descobriu que, afinal, actualmente a luta pela revolução está simplificada e dá-se apenas entre duas classes; os proletários seus camaradas e os outros que são todos "farinha do mesmo saco".
Os representantes da chamada classe média de quadros públicos e privados, os pequenos comerciantes e proprietários, operários especializados, gente das profissões liberais, pequenos industriais e produtores domésticos e toda uma população transversal socialmente que vive no meio termo onde está a virtude de existir para poder viver como ser humano, são atirados e colocados no mesmo saco onde antes ensacavam os latifundiários, grandes industriais e os grandes merceeiros.
Jerónimo, o pensador simplicista, resumiu as classes a duas apenas e sustentado nessa base teórica, entusiasmadamente alegre e feliz, tenta fazer sentir aos seus que a revolução, a mudança, não só é possível como está prestes a acontecer inevitavelmente. 
Depois dos tempos anti-fascistas e do "sol" de leste que moldaram o pensamento intelectual do austero Cunhal, homem de uma estratégia internacional capaz de analisar mudanças e estabelecer tácticas momentâneas adaptadas a cada situação nova, chegaram os tempos de uma democracia menor, amordaçada e vigiada, que moldam o pensamento popular de Jerónimo, homem de uma estratégia unipessoal, de um só pensamento, de uma só táctica, sempre. 
Depois de um homem cerebral, para os tempos exigentes de tomadas de poder e expansão do socialismo real, veio o homem de sabedoria oracular expressa por ditados populares para os tempos medíocres. 
Tinha, necessariamente, de acontecer.      

Etiquetas:

11 Comments:

Blogger sergio said...

Bom dia Adolfo,

Programa do PCP - "A democracia avançada que o PCP propõe, incorporando uma concepção de regime e a definição de uma política democrática, caracteriza-se fundamentalmente por constituir um projecto de sociedade cuja construção se apresenta como inteiramente correspondente aos interesses da classe operária, dos trabalhadores e das outras classes e camadas antimonopolistas e às necessidades nacionais".

Ora classes e camadas antimonopolistas são precisamente "os representantes da chamada classe média de quadros públicos e privados, os pequenos comerciantes e proprietários, operários especializados, gente das profissões liberais, pequenos industriais e produtores domésticos".

Num jantar com micro, pequenos e médios empresários, realizado em Lisboa no dia 14-11-2014, Jerónimo de Sousa apelou à construção de uma «vasta frente antimonopolista, capaz de criar condições para uma verdadeira alternativa política».

3:45 da manhã  
Blogger Unknown said...

Muitíssimo agradável surpresa a descoberta deste blog e da identidade do seu autor. Salvé! Vai já para os meus favoritos.

O texto sobre os contributos do Jerónimo, pela forma, esplêndida, e pelo tom, irónico, cáustico e culto, oferece-nos um naco de prosa cuja saborosa leitura vale por si.

Pena é que o dogmatismo pequeno-burguês do seu autor, depois de agradáveis afagos laudatórios, deite Marx para o caixote do lixo da história, despreze todos os pensadores e marxistas práticos que se lhe seguiram até aos nossos contemporâneos, preferindo ficar-se, estático, pelos realmente grandes clássicos gregos, com particular simpatia por Aristóteles cuja autoridade evoca para chegar ao seu "fim da história". O "centrão", onde está a virtude!

Deixe que lhe diga, caro Adolfo que, ao ler na metáfora politica expressa pelo Jerónimo "todos farinha do mesmo saco", a concepção da existência de apenas duas classes, e ao não admitir evolução de pensamento teórico(nem mesmo Descartes, Leibnitz ou Espinosa?)desde há mais de dois mil anos, não deixa também de sofrer, pelo menos aparentemente, do mesmo simplismo que atribui ao Jerónimo.

Surpreendente é também a classificação da Revolução Democrática do 25 de Abril como uma Revolução Marxista-Leninista, dirigida por Álvaro Cunhal? Valha-nos Stª Engrácia!

Um abraço de consideração e camaradagem, não militante, militar, claro!

Américo Nunes

9:25 da manhã  
Blogger Unknown said...

Muitíssimo agradável surpresa a descoberta deste blog e da identidade do seu autor. Salvé! Vai já para os meus favoritos.

O texto sobre os contributos do Jerónimo, pela forma, esplêndida, e pelo tom, irónico, cáustico e culto, oferece-nos um naco de prosa cuja saborosa leitura vale por si.

Pena é que o dogmatismo pequeno-burguês do seu autor, depois de agradáveis afagos laudatórios, deite Marx para o caixote do lixo da história, despreze todos os pensadores e marxistas práticos que se lhe seguiram até aos nossos contemporâneos, preferindo ficar-se, estático, pelos realmente grandes clássicos gregos, com particular simpatia por Aristóteles cuja autoridade evoca para chegar ao seu "fim da história". O "centrão", onde está a virtude!

Deixe que lhe diga, caro Adolfo que, ao ler na metáfora politica expressa pelo Jerónimo "todos farinha do mesmo saco", a concepção da existência de apenas duas classes, e ao não admitir evolução de pensamento teórico(nem mesmo Descartes, Leibnitz ou Espinosa?)desde há mais de dois mil anos, não deixa também de sofrer, pelo menos aparentemente, do mesmo simplismo que atribui ao Jerónimo.

Surpreendente é também a classificação da Revolução Democrática do 25 de Abril como uma Revolução Marxista-Leninista, dirigida por Álvaro Cunhal? Valha-nos Stª Engrácia!

Um abraço de consideração e camaradagem, não militante, militar, claro!

Américo Nunes

9:25 da manhã  
Blogger josé neves said...

Salvé, camarada de armas de matar e morrer na guerra, Américo Nunes.


Primeiro vamos tentar desfazer equívocos, mal-entendidos ou mal-explicados meus:


1)25 Abril
De maneira nenhuma digo ou quis dizer que o 25A foi uma revolução marxista-leninista e muito menos dirigida por Cunhal. Digo, isso sim, que Cunhal "teve a oportunidade" (talvez aqui falte acrescentar a palavra 'tentar') de o fazer mas que, embora tentando-o, não o pôde concretizar por falta de força política e militar suficiente e, sobretudo, porque o regime soviético, já depauperado e em decadência, não apoiou a tentativa. Por outro lado, dado o seu avançado estado decadente, a já então estabelecida 'entente' designada "coexistência pacífica" entre USA e URSS determinava outras prioridades.

Aliás, é meu entendimento que o 25A, foi originalmente, um golpe militar no qual quer o PCP quer outras forças políticas e a própria pide foram apanhadas de surpresa; só após o golpe iniciado e tendo resultado a acção militar esta arrastou o povo e políticos e o movimento se foi transformando rapidamente.

2)Marx.
Também aqui, daquilo que digo acerca de Marx, não se pode concluir nem um nadinha que "deite Marx para o caixote de lixo da História"; sublinho até que Marx foi profundo e brilhante nas análises sócio-económicas certeiramente tipificadas com matemática e valores.

Marx continua expoente das análises e estudos sociológicos e de estudo obrigatório para quem quer perceber o modo implícito escondido da exploração social do sistema capitalista.

Contudo, não o disse mas posso dizê-lo aqui, as suas deduções (sublinhadas por Engels) tidas e enunciadas como lei científica que determinava e definia o curso histórico e, consequentemente, o fim da História já foram para o caixote do lixo há muito tempo.

E acrescento que, a sua conclusão de que "a contradição original" do capitalismo consistia na oposição entre "os meios de produção individuais e a produção social" que o levou à dedução teórica da abolição da propriedade privada para abolir as classes, foi outro erro monstruoso que custou milhões de vidas quando, no socialismo real, o stalinismo forçou à bruta o desaparecimento total da classe média russa.

No preciso tempo que foi terminada a proletarização forçada e sangrenta das forças vivas capazes de relançar a produção e criar riqueza a revolução russa bolchevique iniciou o tempo de sua decadência e morte a prazo.

Um abraço de estima e consideração ao camarada militar que, a pulso, chegou aos cumes do sindicalismo português.

Nota: De férias uns dias sem net só agora tomei conhecimento do comentário do Caro Américo.
Aqui ficam os esclarecimentos e opiniões sobre as questões que comentámos, ambos.
Dado os caracteres a mais reparti a resposta por dois comentários.

10:22 da manhã  
Blogger josé neves said...

3)Ainda Marx
e o meu deixar-me ficar "estático" desde os grandes pensadores clássicos gregos. Sou realmente um leitor admirador dos clássicos gregos mas, precisamente por isso também leio, embora menos, nuitos dos pós-clássicos e modernos para poder medi-los. Acerca dos citados; Leibnitz nada, Espinosa pouco, Descartes e Kant bastante.

E a conclusão a que chego sempre é a mesma daquele filósofo que afirmou um dia; "tudo o que os filósofos disseram depois não passam de "notas de roda-pé" sobre o que disse Platão".

Com Marx é mais ou menos o mesmo; o que disseram os pós-marxistas são notas de roda-pé dos textos de Marx. Foram sempre, mais que inovadores, apenas vulgarizadores do marxismo.

E Descartes; o filósofo célebre do "penso, logo existo"?
Meu Caro, deve saber que tal pensamento já havia sido analisado e levado ao puro abstracionismo metafísico por Parménides no seu célebre poema "Sobre a Natureza" quando racionalizou abstratamente sobre o "ser e não ser", "o todo e o imóvel" e que o Eleata foi de certo modo precursor do "idealismo" de Platão.

Marx defendia absolutamente o oposto de Descartes e, como filósofo sábio materialista, defendia e disse-o de muitas outras formas diferentes precisamente o contrário; "Existo, logo penso". Marx perguntava "o que é que determina o ser humano, a consciência ou a existência?" E, claro, optava sem reserva que era a existência que nos determinava, caso contrário estaria ao lado de Platão e os idealistas contra Leucipo e Demócrito, os materialistas clássicos fundadores dessa escola de pensamento.
3)Ainda Marx e o meu deixar-me ficar "estático" desde os grandes pensadores clássicos gregos. Sou realmente um leitor fã dos clássicos gregos mas, precisamente por isso também leio, embora menos, os pós-clássicos e modernos para poder medi-los; Leibnitz nada, Espinosa pouco, Descartes e Kant bastante.

E a conclusão a que chego sempre é a mesma daquele filósofo que afirmou um dia; "tudo o que os filósofos disseram depois não passam de "notas de roda-pé" sobre o que disse Platão".

Com Marx é mais ou menos o mesmo; o que disseram os pós-marxistas são notas de roda-pé dos textos de Marx.

E Descartes; o filósofo célebre do "penso, logo existo"? Meu Caro, deve saber que tal pensamento já havia sido esmiuçado por Parménides no seu célebre poema "Sobre a Natureza" quando racionalizou abstratamente sobre o "ser e não ser", "o todo e o imóvel" e que o Eleata foi de certo modo precursor do "idealismo" de Platão.

Marx defendia absolutamente o oposto de Descartes e, como bom materialista esclarecido, defendia e disse-o de muitas outras formas diferentes precisamente o contrário; "Existo, logo penso". Marx perguntava "o que é que determina o ser humano, a consciência ou a existência?" E, claro, optava sem reserva que era a existência que nos determinava, caso contrário estaria ao lado de Platão e os idealistas contra Leucipo e Demócrito, os materialistas clássicos fundadores dessa escola de pensamento.

Portanto, talvez esteja pouco preparado para preciosismos de espírito hegelianos, leibnitzianos, espinosianos, cartesianos e outros que, certamente acrescentaram ou precisaram os conceitos mas que desviaram a discussão filosófica para variações à volta dos pais fundadores gregos.

11:13 da manhã  
Blogger josé neves said...

4) E vamos finalmente, que o comentário vai longo, ao meu "dogmatismo pequeno-burguês" e ao "centrão" onde está a virtude e que é, no entender do Caro Américo, o meu "fim da história".

Se entendi bem é este o espírito do seu texto.

Não vou comentar caso a caso porque seria fastidioso.

O Américo, tal como toda a esquerda e direita radicais, aplica o termo "centrão" com toda a carga pejorativa que os tempos democráticos foram criando pela voz de oportunistas de gente da imprensa, hipocritamente ao serviço desse mesmo centrão por interesse próprio e dos patrões, precisamente, com o propósito de fazer intuir na cabeça dos ingénuos e ignorantes que os males do mundo estão nesse malvado "centrão".

Pois eu tenho uma pensamento precisamente contrário e, claro, fundamentado nesses tais grandes pensadores clássicos gregos, sábios génios que levaram décadas a inquirir-se e perseguir o fundamento e a essência da vida, dos valores e das coisas em sí.

E ainda recentemente, mais uma leitura sobre a "História da Grécia Antiga", veio reforçar a ideia de que o principal motor da História está, precisamente no tal centrão. Claro, não o infiltrado de oportunistas interesseiros que ao fim de quarenta anos, tal como na Grécia de fins do Séc. V (a.C), infestaram os partidos tradicionais e de que o PCP também não escapa, apesar...

Neste livro, Europa-América a 2,5 euros na feira do livro, é realçado o ponto de vista novo sobre as reformas profundas de Sólon para salvar a Grécia da escravização e miséria do povo grego que, diz; "favoreceu nos campos o desenvolvimento da pequena propriedade e na cidade os progressos de uma classe média de negociantes, engrossada por numerosas naturalizações, para as quais a sua legislação parecia mostrar-se muito generosa; preparou o advento dessa espécie de terceiro Estado de camponeses, de comerciantes e de industriais, que faria a grandeza de Atenas nos Séc. V e IV e donde sairiam alguns dos seus melhores homens de Estado".

O autor defende que a libertação dos pequenos proprietários, comerciantes e industriais-artífices arruinados pela velha legislação aristocrata-oligarca que os levava à escravidão por dívidas, e sua ascensão social e política com estatuto de poder disputar lugares políticos de chefia nas Assembleias do povo, foi o catalizador que fez implodir finalmente o poder aristocrático, elevar o nível participativo democrático e conduzir a Grécia ao cume da civilização do seu tempo, política, social e cultural.

O nosso Sócrates estava fazendo, creio, algo semelhantemente, ou pelo menos uma ideia visionária concreta o determinava nesse sentido entre nós; alargando ao máximo a classe média, o tal centrão, elevando os de mais baixa condição à classe média pela acesso à escola, à educação, à ciência, ao saber e conhecimento introduzindo maior igualdade de oportunidades à grande maioria abandonada mas interessada em instruir-se e desejosa de participar.

Todo este manancial de sangue novo e vontade de demonstrar faculdades, competências e singrar até às elites e superá-las, bem apoiados e conduzidos, poria o centrão em agitação activa e criativa e faria dele, o motor do futuro desenvolvimento, engrandecimento e bem-estar do povo e do país.

Infelizmente a crise tempestuosa que sobreveio a meio caminho não lho permitiu levar a cabo a tarefa.

Ficou por provar se seria assim mas creio que era patriota bastante, mostrou-o vivamente, e os indícios deixados na obra iniciada vigorosamente aparentam querer atingir tal objectivo tal foi o manancial de ideias e realizações, para o desenvolvimento, que lançou.


Um abraço fraterno com muita consideração e estima pelo camarada de armas e pelo homem sindicalista-político de craveira e percurso feitas a pulso.

11:28 da manhã  
Blogger Unknown said...

Caro APG,
Também uma explicação e alguns esclarecimentos: o meu raciocínio para o comentário anterior partiu da leitura de outros textos seus e não apenas daquele a que está subordinado.
No que respeita à filosofia e outras leituras sou um simples diletante. Por isso vejo bem pelo que escreve que você é homem de leituras mais extensas, quiçá, mesmo um estudioso. Por mim, dediquei- me mais à acção. Apenas li com mais atenção, Marx, Engels e Lenine, e mesmo assim, não posso dizer que os estudei. Dos outros, conheço pouco mais que as vulgatas, ou mesmo apenas pequenas recensões. Dos gregos, devo dizer-lhe que me entusiasmou muito mais o Homero (que segundo o cânone não é filósofo). Embora eu julgue que, tal como todo o homem é politico também todo o homem porque existe e pensa, é filósofo. Daí que Homero, por maioria de razão, com toda a sua genialidade também o seja.
De qualquer modo, do que apreendi, acho uma grande injustiça e um exagero considerar-se que todos os contributos e desenvolvimentos do pensamento desde há mais de dois mil anos sejam simples notas de rodapé ao que disseram os gregos. Se estivesse tão deslumbrado com Marx como o Adolfo parece estar com Platão, diria que o Alemão arrumou de uma penada o Grego e todos os discípulos que se lhe seguiram até hoje, com a certeira asserção: «Os filósofos têm interpretado o mundo apenas de diversas maneiras trate-se de o transformar.». Já agora aproveito para neste parágrafo lhe dizer que o Sócrates de Platão não merece o vexame de o meterem ao barulho com o «nosso» (meu não!)Sócrates. Mesmo que o seu Sócrates esteja inocente dos crimes de que é acusado. Parece-me mirabolante atribuir-lhe o mérito de ser um paladino das chamadas classes médias, e os seus argumentos para o considerar um visionário não são convincentes. E, certamente não será por ele ter estado em Paris, (à custa de um empréstimo da CGD?!) um ano a estudar filosofia, num luxuoso andar dos Campos Elísios pertença de um amigo) que o associa ao que bebeu a cicuta. Avento uma hipótese. Sectarismo politico.

Quanto ao impulso que me levou a "meter-me" consigo teve duas motivações:

A primeira, certo alvoroço e contentamento em comunicar com um velho companheiro de jornada numa guerra injusta previamente condenada á derrota.
A segunda, porque quem não se sente não é de boa gente (olhe que nos provérbios populares também há muita sabedoria! Até filosofia!) e você trata com muita arrogância o Jerónimo, para além de não compreender que ele é Secretário-geral de um Partido que não é como os da burguesia onde o "chefe" decide tudo. No PCP o "chefe" não decide nada. Subordina-se às deliberações do colectivo. Depois porque gosto de discutir politica com quem tem posições contrárias às minhas.
De Novo Marx. Você diz que não o mandou para o caixote do lixo, mas, afinal mandou mesmo, apenas foi há muito tempo. Digo isto porque para mim, o Marx económico e social, não é dissociável do Marx politico, do Marx, filósofo, do Marx historiador, do Marx revolucionário. O seu pensamento é um todo coerente e global.
Mas olhe, estamos de acordo numa questão: O 25 de Abril de 1974 foi como diz, um golpe militar seguido de um levantamento popular, que o transformou num processo revolucionário, digo eu.
As outras questões podem ficar para outra altura. Se quisermos continuar o nosso "bate papo" por via electrónica.
Com um abraço de consideração,
Américo Nunes

5:21 da manhã  
Blogger josé neves said...

Caro Américo Nunes,
Temos percursos de vida completamente diferentes logo era previsível que tivéssemos pontos de vista sobre a Sociedade também diferentes.
Eu fiz o meu percurso de estudos sempre como autodidata; o 5º ano dos liceus já na tropa em Santarém e depois o exame de admissão ao IIL já na guerra quando estávamos no Mucondo em Angola (enquanto os meus colegas e oficiais milicianos jogavam à lerpa eu estava estudando na tarimba e ficava no estudo mesmo depois de acabar o jogo. Por estar acordado de madrugada a estudar fui escolhido para ir fazer a protecção à fazenda Bela Vista onde, como sabe,na volta foi morto o Soldado Pires com um tiro que foi dirigido a mim). Nas férias de 1962 vim ao "Puto" e fiz a prova escrita do exame de admissão ao IIL e quando desembarcámos fiz "Requerimentos" aos Ministérios do Exército e da Educação reclamando o direito de fazer a parte oral. Dado a minha condição de "Combatente" foram deferidos os requerimentos (talvez o 1º caso reclamado deste género) e fui fazer a oral ao IIL onde me passaram também condescendentemente.
Com as poupanças do "soldo" de guerra fiz os quatro anos do IIL e fui trabalhar para a Efacec durante dez anos e depois arrisquei criar, com mais quatro colegas, uma empresa que aingiu o nível de PME. Em 1980-82 tirei o IST à noite como trabalhador-empregado.
O meu trajecto de leitura começou ainda mais cedo quando chumbei no 4º ano do Liceu e o meu pai me pôs a trabalhar nas estradas como dumperista; estive em Baleizão e Canhestros no anos de 1957-58 e, como, além dos magníficos e inesquecíveis cantos alentejanos que mulheres e homens cantavam ao pôr do Sol à chegada da aldeia vindos dos trabalhos do campo,não havia mais nada comecei, nas idas a Beja, a comprar livros. Até hoje o que, depois da "Reforma", se multiplicou muito.
O Américo fez, segundo sei, a sua carreira sempre dentro do sindicalismo de escola ligada ao PCP.
Portanto são percursos e leituras bem distintos que, logicamente, teriam de conduzir a tomadas de consciência e pensamentos, necessariamente, também diferentes ou distinnos.

Com tais percursos tão diferentes não temos de concordar, especialmente, no campo mais profundo e complexo do filosófico-político. Podemos contudo, e nada o impede, trocar ideias sobre a nossa vida diária colectiva quer com a sabedoria dos prvérbios populares quer acerca das teses sobre Feuerbach de Marx.
Basta, quando o quizer, fazer aqui um comentário.

Um abraço de consideração e amizade.

10:08 da manhã  
Blogger Unknown said...

I

Boa tarde, caro amigo Adolfo,

É verdade, todo o homem é fruto da sua herança biológica, genética e da sua circunstância. Por isso, ser único irrepetível. Essa é a grande riqueza da vida.

Gostei muito que me desse conhecimento do seu percurso, e de ver que se orgulha dele. Eu também me orgulho do meu e retribuo-lhe na mesma moeda, com prazer, para que melhor me conheça. Poderá reparar que com diferenças de escala, os nosso percursos, não sendo iguais têm vários pontos de proximidade. O mais óbvio é termos estado os dois 28 meses na mesma guerra, na mesma unidade militar, nos mesmos lugares. Você como furriel e eu como soldado. Vimos os mesmos mortos e feridos, percorremos as mesmas picadas.

Não, não fiz carreira no PCP, sempre fui e sou no Partido, um militante de base. Nunca exerci nele qualquer cargo de direção. Quanto à escola sindical devo-a 90% à prática, os outros 10% às leituras de Marx, dos utópicos, veja lá, e também aos revolucionários e anarquistas da 1ª República. Que muito admiro.

Nasci numa aldeia inóspita das faldas da Gardunha, do lado do Pinhal, em 1940. Os meus pais e de mais quatro irmãos eram analfabetos. Ele mineiro na Panasqueira e ela camponesa sem terra. Após o fim da guerra, 1945, as minas fecharam 3 anos e o meu pai foi despedido. Passei fome daquela de não se ter nada para comer. O melhor que aparecia em casa era alguma broa misturada com aveia, e uma sopa de couve sem um fio de azeite. Quando havia, alguma fruta, nem sempre obtida da forma mais convencional, e até bolota.
Comecei por volta dos seis anos, a ajudar os pais em pequenos trabalhos, ir à lenha etc. Aos dez anos fiz a 4ª classe e fui guardar um pequeno rebanho de cabras que ordenhava antes do nascer do sol, saía com elas para os pastos baldios e voltava a ordenhá-las à noite regressando a casa com a lata do leite.

Tinha 12 anos, aparece na terra um tio, que disse á irmã: «se quiseres levo-te o Américo para Lisboa, é menos uma boca que tens de alimentar».

Vim dar a um bar de prostitutas na Praça da Alegria onde ganhava "cama mesa e roupa lavada" a fazer recados. Durante dois anos. Dinheiro, apenas uns tostões das gorjetas. As minhas leituras começaram na casa onde dormia. Havia lá colecções completas do "Mosquito" do "Cavaleiro Andante" que devorei e as obras completas do Emílio Salgari foram pelo mesmo caminho. Depois, numa estante, franceses e ingleses, Zola, V. Hugo, Balzac, Voltaire, W. Scott, Jane Austen e até Shaquespeare! Na minha inocência comecei a lamentar não haver escritores portugueses. Até que alguém me emprestou livros de Ferreira de Castro, do Eça, e grande Aquilino. Aos 20 já tinha lido todo o Doestoevski, quase todo o Tolstoi e os americanos Steinbeck e John dos Passos.

Em 1956 arranjei emprego como aprendiz de Criado de Mesa num restaurante de luxo na Praia da Conceição em Cascais, onde vendi gelados aos veraneantes e às refeições ajudei a servir o almoço a pessoas como o Rei Humberto de Itália, o Conde de Barcelona e o filho, Juan Carlos, o Duque de Palmela, ministros do regime, Amália e Espíritos Santo. Veja os extremos! No fim da época balnear fui despedido e vim trabalhar para um restaurante no Cais do Sodré. Passava as horas de folga e os dias de descanso a ler, na Biblioteca Popular de Lisboa que era perto.

Américo Nunes

10:01 da manhã  
Blogger Unknown said...

II

Quando abriu o Hotel Tivoli, em 1957, fui para lá trabalhar, novamente a fazer recados e a carregar as bagagens dos clientes. Aqui lidava com gente de todo o mundo e de todos os quadrantes. Lá, falei com bailarinos como Nureyev e Margot Fontaine, intelectuais como Almada Negreiros e Jaime Cortesão. Com Jorge Amado e a mulher Zélia Gatai, muito amigos da Beatriz Costa, que se tornou uma boa amiga da minha mulher e minha. Atendia Almeida Santos quando vinha de Moçambique, Sá Carneiro e os Burmester, clientes habituais tal como outras famílias conhecidas do Porto. Lá ouvi nos pianos do Hotel, Pedro Burmester desde menino e Varela Cid. Era outro Mundo novo na minha vivência. Para servir esta gente rica, nas entranhas do Hotel trabalhávamos 10 horas por dia, seis dias por semana, sem férias ou poucos dias de férias e sem feriados, mais de 600 pessoas. 95% dos quais muito mal pagos.
O meu baptismo politico foi a fugir das espadeiradas dos sabres dos GNR a cavalo, no meio da multidão que foi a Stª Apolónia esperar o Humberto Delgado vindo do Porto. No hotel fui dos primeiros a saber pela voz de um ministro conselheiro da Embaixada do Brasil que lhe haviam dado asilo politico e não o deixariam prender.
Antes de ir para a tropa, podia ter ido para o Canadá onde estava já um dos meios irmãos, e para onde iriam mais dois. Mas, apesar de muitas vezes pressionado pela família, nunca aceitei emigrar. Portugal era a minha pátria, o meu povo, a minha cultura, a minha língua.

Da guerra e da sua iniquidade sabemos os dois bem o que foi. Portanto, adiante. Dela tenho apenas recordação e saudade de alguns homens bons com quem privei mais, como o Sargento Leitão, o Dr. João Alves Pimenta, os meus amigos, Carrasco, Humberto Fernandes e Felisberto Rato, entre outros.

Chegado a Lisboa, vindo de Angola, regressei ao Tivoli e fui promovido a Porteiro passando a trabalhar durante a Noite no Hotel Palácio Seteais. Ali passei a vestir a farda de Lacaio usada no século XVII, a condizer com a decoração luxuriante do palácio. Menos de um ano depois voltei ao Tivoli como recepcionista. Estudei durante dois anos inglês e francês e em seguida frequentei a Escola de Hotelaria e Turismo de um saí com a categoria de Chefe de Recepção. Fui sempre empregado desta empresa até me reformar em 2004.

Américo Nunes


O resto vem no comentário seguinte.

Américo Nunes

10:13 da manhã  
Blogger Unknown said...

III

No limiar de setenta fiz o 1º e 2º anos dos liceus e letras do 4º e 5º, num ano. Noutro ano fiz o 4º e 5º de ciências e noutro ano fiz o 6º e o 7º. Encontrava-me a repetir algumas cadeiras para elevar a nota a fim de evitar o exame de admissão, e a fazer mais duas disciplinas para alargar o leque de escolha do curso universitário a seguir, quando se deu o 25 de Abril de1974.

Só voltei ao Liceu Pedro Nunes e soube os resultados, depois de reformado quando precisei de um certificado para obter o CAP a fim de fazer formação.

Em todo este entretanto tenho em casa cerca de três mil livros e devo ter lido dezenas de milhar. Muita literatura, História, divulgação cientifica, alguma poesia e filosofia, não muita como já lhe disse. Ensaios políticos, trabalhos de economia e sociologia, coisas variadas e ecléticas sem qualquer outro propósito que cultivar-me, fruindo. Também escrevi. Muitos artigos quando no activo, dois livros quando já na reforma. Um sobre história do sindicalismo português na I república. Outro, Plagiando Almeida Santos, de Quase Memórias, titulado "Sindicalismo na Revolução de Abril". Estou a dar os últimos retoque noutro. "Contributo Para a História do movimento sindical e Operário (1977-1989).

Usando o seu termo carreira, acho que posso dizer que tive duas: uma profissional outra, sindical. No dia 29 de Abril de 1974 fui um de entre os mais de mil trabalhadores que foram à sede do sindicato de hotelaria de Lisboa. Corremos de lá com os fascistas e elegeu-se logo ali em Assembleia AD-OC uma Comissão Directiva Provisória: Fui um dos 10 elementos que a compuseram. por estranho que lhe possa parecer nem um era na altura militante do PCP. iniciámos de imediato a democratização do sindicato elegendo delegados nas empresas, fazendo grandes assembleias gerais. O Coliseu dos Recreios Cedido graciosamente por Ricardo Covões, muitas vezes a abarrotar. Ao fim de 3 meses fizemos eleições por voto directo e secreto, em que participaram milhares de trabalhadores. Concorreram duas listas, e a organizada por mim ganhou com 73% dos votos expressos. Desta vez, três dos 21 elementos eleitos eram do PCP 3 eram do PS, 1 era do CDS e os outros não pertenciam a qualquer partido.

As listas em que participei ganharam sempre as eleições com resultados acima do 60%. Em 1975 fui eleito suplente ao Secretariado da Intersindical. Fui fundador e 1ª Coordenador da Federação Nacional de Hotelaria e turismo. Em 1986 passei a ser da Comissão Executiva da CGTP-IN onde detive sempre o departamento de organização e politica de quadros até 2004.

Enquanto estive a tempo inteiro na actividade sindical nunca recebi mais do que se estivesse a trabalhar na empresa, pelo contrário, suplementos salariais como prémios e comissões e gratificações típicas da minha profissão deixaram de ingressa na minha casa na sua quase totalidade. E, nunca mais fui promovido na empresa.

Mas, ainda hoje, não imagino que possa ter tido um trajecto cívico tão gratificante e realizador como aquele que a Revolução de Abril me proporcionou. Evitar um despedimento, negociar um contato colectivo que pode melhorar a vida de centenas de milhares de trabalhadores contribui mais para a realização do ser humano e para transformar a sociedade do que ir à missa rezar um milhão de pai-nossos ou ganhar um milhão de euros na exploração de trabalhadores ou na especulação bolsista.

Um abraço de amizade e consideração.

Américo Nunes

NB: Em 2013 estive 2 meses em angola e passei por sítios por andámos em 61 um dia destes vou falar-lhe desta experiência.

11:19 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home