sábado, junho 13, 2020

CONTRIBUTO DOS GORJÕES NO DEBATE ACERCA DA FREGUESIA DE SANTA BÁRBARA DE NEXE


Tese especulativa e explicação histórica do povoado de Gorjões.
No debate trocado em 09.06.2020 o bordeirense Brito Afonso fundamentado nas suas investigações acerca da presença da mui antiga, provavelmente de origem próximo do calcolítico, palavra Nexe em factos documentados constatou a existência de um vasto território denominado Gorjões que abarcava terras que, hoje, são de Loulé e Alportel.
E até expressou a sua estranheza porquê os Gorjões, dada a sua extensão territorial e consequente importância económica, não se transformou ele próprio a sede da futura Freguesia.
A explicação lógica que encontrou teria sido o facto de tal território estar no centro de disputas de jogos de influências entre paróquias; disputas que fizeram que as terras de Gorjões ora pertenciam a um lado ora a outro o que lhe retirou estabilidade e protagonismo próprio.
Estamos inteiramente de acordo com tal hipótese.
E de acordo e gratos por verificarmos que tal constatação vem no sentido da tese que defendemos de que o povoado primitivo original dos Gorjões, tal como o de Nexe, vem desde tempos desconhecidos e deriva do povoado neolítico existente no Cerro do Algarão na Goldra fundamentado este por dedicados estudos arqueológicos. Defendemos que, tornados insuficientes os recursos naturais para sustento do povoado ao longo de milhares de anos, descendentes desse primitivo povoado se instalaram no Cerro da Mina no qual ainda nos anos'40 do Séc. passado havia um Algarão onde os míudos brincavam nas grutas de várias entradas abertas no cimo do Cerro chamado da "Mina", precisamente, por motivo da existência de tais grutas.
O Cerro da Mina, menos alto, ficava à vista do povoado do Cerro do Algarão e imediatamente ao lado depois do vale da Goldra pelo que já em época do pré-Calcolítico seria, certamente, do conhecimento dos caçadores e pastores do povoado do Algarão.
Em pleno Calcolítico e idade do "silex", do barro e depois do bronze desceram do alto do Cerro da Mina pela encosta suave norte e instalaram-se nas terras planas aí existentes que desmataram, aplanaram e iniciaram o cultivo de cereais e desse modo aí se fixaram definitivamente. E aí, pela experiência, evoluíram as suas técnicas de trabalhar a terra, de construir as suas habitações e os seus utensílios e instrumentos de cultivo até há idade do ferro e posterior.
Este espaço de terras planas, ocupado durante cerca de mil anos pelos filhos do povoado do Algarão tornou-se importante pela boa produtividade dos seus terrenos planos e alagados de água grande parte do ano, foi por volta do Séc.XVI ocupado por um negócio de "Estanco", plantação, secagem e venda de tabaco o qual ainda mais importância económica deu ao Lugar. De tal forma que foi decidido construir em 1518 uma Ermida de Santa Catarina dos Gorjões para garantir a evangelização católica da gente do povoado.
Tal negócio de tabaco daria nome de Estanco ao Lugar e aos familiares donos e descendentes do dito negócio.
 
Desertificação humana e decadência.
O Sítio dos Gorjões foi sempre próspero e populoso até aos anos'60 do Séc.XX. E desde então iniciou-se uma queda em plano inclinado acentuado.
As causas são fáceis de acertar dada a sua evidência e coincidência temporal:
-Desvalorização dos chamados "Frutos Secos" do Algarve e sua maior riqueza na altura; figo, amêndoa e alfarroba.
-Surgimento simultâneo do turismo, da guerra no ultramar e emigração em massa.
-Proibição severa de construção de casa aos filhos dos gentios nas suas terras próprias.
-Falta de infra-estruturas básicas que chegaram com 30 anos de atraso.
Com a desvalorização dos Frutos Secos algarvios deu-se o abandono das terras o qual originou uma forte desertificação estrutural. Porque se perdeu simultâneamente o "espírito comunitário" criado e mantido na entreajuda familiar e entre vizinhos e por fim na comunidade onde eram prática corrente as "ajudadas" na lavoura, na apanha dos frutos secos, na construção de casa própria, nos acidentes e na doença.Tal espírito comunitário tornara-se uma tradição passada de pais a filhos só possível pela posse e exploração das pequenas parcelas de terras que quase todos possuíam. 

Que fazer para um novo povoamento?
Se se sabe que a desertificação humana se deve à partida dos filhos e netos dos antigos habitantes naturais então é preciso que algo se faça para um possível regresso dos filhos e netos dos pais e avós pródigos.
Procurar devolver aos filhos da terra dispersos a estima e dedicação aos lugares de origem dos pais e avós. Dizer-lhes que não devemos trocar as paisagens naturais da nossa infância pelas enganosas paisagens dos bilhetes postais. Fazer-lhes perceber que nascer e ter uma "Terra" ou um "Lugar" único com nome próprio é possuir uma identidade diferente de quem tem como identificação um nome de Rua qualquer entre milhentas iguais da Cidade. 
Estes Sítios e Lugares, hoje em dia, têm todas as condições de vida como na Cidade; estão no centro geométrico e são arredores das Cidades próximas e em volta e do aeroporto internacional de Faro. Ficam a 1/4 de hora dos grandes centros populacionais, do aeroporto e das praias, são, portanto, um lugar estratégico para se viver usufruindo do bom que tem a Cidade o Campo e o Mar.   
Como propõe a Junta de Freguesia de Nexe, criar habitação social ou a preços controlados em cada localidade núcleo e um parque industrial para PME, Oficinas e Artesãos que proporcionem a vinda e fixação de nova gente e gente nova.
Igualmente, como propõe a Junta de Freguesia, criar e desenvolver o Polo de Desporto e Lazer no Sítio da Igreja, e os Polos Culturais de Bordeira com o Museu do Canteiro e Acordeão e dos Gorjões com a planeada Casa Museu José Pinto Contreiras a partir do núcleo habitacional e espólio cultural dessa família e outras que queiram doar outros espólios museológicos.
A criação de Residências Artísticas é uma ideia já posta em prática nos Gorjões com a fixação aqui do reconhecido artista de jazz Zé Eduardo e possibilidade de criação imediata de mais algumas.
O desenvolvimento destes três núcleos culturais em terras de Nexe e, incluíndo neles, o Palácio e ruinas de Milreu em Estói, permitiria a criação de um circuito turístico com potencial e, mais ainda terá se for recuperada a teimosa ideia do Wenceslau, antigo Secretário da Junta, de incluir nesse circuito um amplo "Miradouro" com esplanada e restaurante na encosta Sul do Cerro Nexe, para apreciar a imensa e bela paisagem sobre o litoral de meio Algarve.
Por fim mas não em último era fundamental olhar de novo para a antiga riqueza do Barrocal; os "frutos secos". É preciso que a UALG, Universisade do Algarve, se deixe de olhar apenas e estar focada no Mar e Biologia Marinha e se volte igualmente para as potencialidades naturais e tradicionais do Barrocal.  
É preciso que os Municípios algarvios, todos com mais ou menos partes de Barrocal, se unam e financiem projectos em comum com a UALG para estudar novas aplicações na produção de produtos manofacturados de consumo de massa ou industrial. Exemplo: um dia no Lidl comprei uma lata de aperitivo especial de amêndoa de fabricação alemã com amêndoa da Califórnia, assim vinha descrito no rótulo.
O Algarve está deixando morrer estas árvores tradicionais e autóctones assim como figueiras e alfarrobeiras que entretanto se vão deslocalizando de forma industrializada para outros locais do país; os frutos secos algarvios foram durante séculos fonte de alimento, vida e riqueza natural das populações enquanto o turismo é apenas fonte de divertimento e lazer associada a uma riqueza sazonal flutuante e tão falível como as correntes de ar.    

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