segunda-feira, abril 22, 2024

CINQUENTA ANOS DE ABRIL

 


 ABRIL 50 ANOS 1974-2024


Foi o dia inicial e limpo, disse a nossa poetisa.

E, disse o povo; foi também o dia necessário.

Agora, 50 anos passados do nosso diário

de vida, que podemos dizer? Que divisa

o define, se ele foi tudo e o seu contrário?

Foi guia e um ideal vivo que nunca se realiza.


Foi também o dia das espingardas floridas

pelo cano, de canto e alegria pela liberdade

saudada de rua em rua, da lágrima por vontade.

Dos vivas, dos cravos e bandeiras erguidas

em festa de celebração à nova realidade,

desejada e sentida, bem-vinda a nossas vidas.


Foi ainda o dia de rasgar, proibições e grades.

De soltar à rua, a aprisionada esperança.

Sonhar um futuro digno de herança.

Fazer regressar, a suas aldeias e cidades

os jovens filhos, enviados à força sem fiança,

p’rá guerra, defender impérios de vaidades.


Foi há 50 anos, que aconteceu aos militares

sacrificados, o toque a rebate de consciência,

de que ser militar não é cega obediência,

nem só corporativismo, de pré entre pares.

Nem foi a vontade de ser herói, a essência,

do ato de libertar o povo, de pides e salazares.

 

Há 50 anos, houve quem arriscasse a vida por nós.

E que fizemos nós, por esses neste período?

Que fizemos, por quem, por nós arriscou tudo?

Que deixamos, aos jovens, de quem somos hoje avós?

Que tudo o que desejam, eles veem por um canudo,

emprego, educação, saúde, habitação e os popós.

 

E os jovens hoje, julgam ver longe e muito mais

que os antigos jovens, impedidos de ver e ler.

Trazem o mundo no bolso, e dedos de o percorrer,

de lés a lés, cada país, pelas redes sociais.

Eles sabem tudo de repente e, além do seu saber,

julgam-se génios, filhos, de inteligências artificiais.

 

Afinal, são jovens e velhos simultaneamente,

não querem saber de conselhos.

São jovens mas também são velhos,

tal qual os jovens de antigamente.

Querem ser homens quando ainda são fedelhos,

que, face ao medo do futuro, são contra o presente.


Como sempre, querem mudar o mundo q’existe, real.

Por que o mundo é feito de mudança.

Por que o mundo, gira sobre si próprio e dança,

à volta do sol, muda incessantemente, nunca é igual.

A mudança é o novo, é novidade, é ponta de lança,

é arma contra-corrente, para além do bem e do mal.


Por que, afinal, não são as mais fortes as ditas

leis dos homens, esta maravilha da criação

que luta e busca atingir o divino, por imitação,

mas sim aquelas nunca vistas nem escritas,

que fazem, quer o homem queira quer não,

a história humana, contra estados de almas, aflitas.

 

Assim, nós os vindos de novos a velhos, pedem meças,

aos novos de hoje, que realizem novos Abril.

Que novos saltos de idade, impeçam novas leis de funil,

ou se regresse, ao reino, das falsas promessas.

Que não vos arraste, o faz-tudo e o fala-barato, ao covil.

Saber história das ideias enjeita mundos e vidas às avessas.


Gorjões, 14Abril2024

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