domingo, abril 25, 2010

ABRIL ÚNICO E VERDADE CERTA

Foste em Abril único e um
dia mil vozes uma só
libertada do xelindró
do pensamento e do zum
zum bufo à espreita e à
escuta. Libertaste cantes,
correste com mandantes
que mandavam cá,
sob ameaça de fusil
postos em fuga os ratos fedorentos,
ergueste novas velas e ventos
mais altas e fortes depois de Abril.

E criaste sonhos falsos
entre os pés-descalços
oferecendo um éden alí
à mão feito a bisturi
sob idéias-mestras finais
dirigidas por batutas
sem falhas nem mais
humanas reles disputas.


O pedestal elevado ao céu, opus
do teu sonho acima da vida,
contém em sí a medida
do humano, e vem da luz
o inamovível signo preto
dito sombra, uma sem-figura
que indica amarra segura
indivisível o corpo concreto
à alma e aponta a todo
mortal que pelo pensamento
julga poder definir o modo
a medida o lugar e o tempo
do homem feito esquema,
abolindo a vontade própria
exigindo seja papel de cópia
sem alma de um sistema
sem sombra de dúvida, que voa
tão alto que perde de vista
a sombra, esta não lhe perdoa,
atrai-o ao chão e imperialista
amarra-o a sí, obriga-o a correr na sua pista.

A sombra está lá viva vigilante
sempre presente como seta
apontada ao homem, a preta
mancha lembra ao ignorante
ao tolo ao sábio que a meta
final é uma cova no chão
onde vão parar juntos intelecto
alma pensamento e seu abjecto
objecto corpo carnal maldição
iniludível da humana condição.


Nenhum Abril nos liberta desta
amarra que trazemos aos pés
seja vontade ideia única seja fés
crentes de existências em festa
sempre. Nenhum Abril haverá
que automaticamente
pós-festa de liberdade aumente
ao que há o que não há
ou faça ser nova a velha gente.


Só douto farsante demagogo
vende felicidade porta a porta
proclama a memória morta
promete ser Prometeu e fogo
novo que tráz num fósforo
mágico a chama redentora
do mundo sujo e geradora
final do feliz mundo próspero.


As utópicas almas ou peregrinas
almas aflitas portadoras vestais
do archote de fogo e luz iniciais,
são subtis raptoras de Proserpinas
que descuidadas colhendo
flôres à procura de felicidades
e levadas à escuridão do Hades
são feitas sombra mais nada sendo.
Tais almas são apenas alminhas
perdidas do corpo, sem humanidade
nem sombra, perderam da verdade
o sentido, sendo errantes de falinhas
mansas tornam-se falsos arautos
de manhosos, infelizes e incautos
que à procura de fadas madrinhas
pródigas de felicidades bastas
são apanhados na teia de madrastas
profetas do inferno nas entrelinhas.


Demócrito disse: a palavra é
a sombra da acção. Significa
que a palavra faz mais fé
que mil assinaturas certifica.
Palavra dada e logo uma recta
sombra a amarra até que seja
cumprida integral e de sobeja
restanto impoluta e predilecta
sempre a palavra. Quem iluda
a palavra por força do poder
não muda a natureza do ser
apenas a circunstância muda
porque é preciso entender
que há dois mundos em
um vivente, um fora e um dentro,
contendo ambos o ser no centro,
atacado o fora, o ser faz-se ninguém,
quando atacado o ente indivíduo
a individualidade faz-se opaca,
o ser refugia-se no seu resíduo
mental impenetrável a quem ataca,
reduto imune que faz do forte força miúda
face à existência, única que estipula a verdade
verdadinha:
podem mudar tudo que nada muda
porque a existência é uma linha
sem roturas ou descontinuidade.
Até à morte, fim e eternidade.

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1 Comments:

Blogger vieira calado said...

Bem esgalhado!

Gostei


***

25 de ABRIL

SEMPRE!

Forte abraço.

5:06 da tarde  

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