domingo, maio 17, 2015

O GOVERNO É TODO AMOR AOS POBRES E REMEDIADOS: O PROBLEMA É O BODE EXPIATÓRIO


Os gregos inventaram o teatro a partir dos ditirambos atirados ao povo pelos sátiros durante as festas dionisíacas celebradas com a matança do bode, vítima preferida do deus para as expiações; o bode e o vinho eram a apoteose da festa.
Este governo serve-se do teatro de pantomínia para, acerca de toda e qualquer situação, igualmente invocar em apoteose pantomineira essa figura mítica como sua vítima expiatória preferida; o bode expiatório.
Se houve corrupção à ganância e fartazana no BPN foi porque o supervisor não supervisionou e o governo anterior nacionalizou; salva a massa deles (o presidente não terá metido uma cunha através da sua magistratura de influência?), contentes, apontam o dedo ao bode expiatório, o governador supervisor.
Se houve uma crise financeira e de seguida uma crise das dívidas soberanas cá e em meio mundo, a qual apelidaram de abalozinho, foi porque o governo anterior não soube prever o que estava ali à vista de todos para precaver-se a tempo como devia; assim puderam apontar ao bode expiatório preferido, o governo anterior.
Se a troika foi desejada e chamada com gosto para nos ensinar a governar, não ser despesista e ter maneiras austeras à alemão foi-o porque um governo levou o país à bancarrota, assinou o acordão que obrigava a isso; limparam as mãos do PEC IV, aprovado em Bruxelas, e apontaram culpas ao bode expiatório, o governo anterior.
Se o governo acima de troikista se limitou a ser subserviente e cumprir notas e recados a toque de troika foi porque existiu o governo anterior que chamou a troika; culpado e bode expiatório, o governo anterior.
Se o ajustamento feito pelos troikistas acima da troika correu mal foi consequência da recusa e não adesão aos apelos do presidente, também troikista acima da troika, ao consenso com o governo; culpado e bode expiatório, a opoisição.
Se os portugueses se sentem espoliados de seus bens, pensões, vencimentos e empobrecimento violento é porque foram obrigados contra sua vontade; bode expiatório o memorando que obrigava e a troika que exigia.
Se a troika é, hoje em dia, mal vista pelos povos e por contágio também o governo troikista por ter sido subserviente e servil perante funcionários de 2ª ordem foi porque o governo anterior não inscreveu no memorando, que assinou e do qual é dito único responsável, a constituição, o nível hierarquico dos funcionários e modo de operar (manual de instruções?) com essa troika pois que, afinal, o governo troikista acima da troika se limitou a respeitar e seguir as indicações constantes no memorando; culpado por omissão e bode expiatório, o governo anterior.
Se se concluiu que houve corrupção na compra dos submarinos e contrapartidas foi porque um dia alguém se lembrou que era preciso fazer tal compra para a Armada e até queriam três e afinal, eles os poupadinhos, só compraram dois; origem da culpa e bode expiatório, o governo anterior. 
Se os indicadores estatísticos são desfavoráveis ao governo o problema é da estatística que é mal fundamentada; culpado e bode expiatório, o INE.
Se a TAP tem problemas económicos e financeiros graves e trapalhadas de gestão com trocas e baldrocas de compra e venda de empresas subsidiárias que mais que indiciam gestão danosa; culpados e bode expiatórios são trabalhadores e greves.
Já estamos sendo bombardeados com a propaganda apontando ao habitual culpado e bode expiatório que, se este governo teve a ideia de empobrecer os portugueses, foi culpa dos governos anteriores que enriqueceram os portugueses prodigamente com escolas, educação, ciência, pensões e serviços de saúde, tudo excessos de pobres armados em ricos. 
E brevemente seremos informados solenemente em pleno tribunal, engalanado de cruzes e fogueiras infernais, por juízes que obtêm verdades por meios ocultos apenas ao seu alcance, que os males e desgraças portuguesas têm a sua fonte original e única na vinda ao mundo, neste tempo actual, de uma força do mal para destruir as egrégias virtudes de Portugal; e dirão que essa força foi descoberta pela justiça, foi presa a tempo e vai ser crucificada na praça pública, como exemplo democrático, e Portugal libertado do mal.
A figura do "bode expiatóro" existe desde os tempos do ritual dionisíaco grego e modernamente sempre foi utilizado como figura de estilo passa-culpas com sentido mundano nas disputas políticas, contudo, a gente deste governo voltou a colocar a figura do bode expiatório como um verdadeiro sacrifício expiatório celebrado no altar em honra do seu governo divino todo rodeado e assessorado por anjinhos.

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