sexta-feira, janeiro 15, 2016

DAVID BOWIE E A COLÓNIA BASBAQUE DA NOSSA PERIFERIA


A maior especialidade portuguesa é ser basbaque do que se faz e passa lá fora. E esta especialidade mental tem raízes históricas, talvez, quer devido à nossa pequenês territorial e comunidade que produz pouca massa crítica e pensamento quer no nosso fado religioso-beato propiciador de sentimento subserviente perante o criador(s).
Basta alguém da elite parasita dar o tom e logo um mundo de portugueses de embasbacados repete e repete e repete sempre adicionando novos cânticos e loas aos feitos e grandezas inicialmente inventariadas e trombeteadas aos quatro ventos pelos basbaques especialistas.
Repare-se no caso David Bowie. Não sei se a sua música é inovadora muito ou pouco, se a figura em causa foi grande ou pequeno artista ou deixa um espólio musical e artístico para a escola e história da arte musical ou de representar. Ao longo do tempo fui lendo histórias artistico-recambolescas do personagem e li agora no blog "um jeito manso" um resumo sucinto das pegadas deixadas pela sua passagem interligada entre o mundo artístico e sua persona feita de personagens.
E penso. Que teria dito e feito o tal mundo português, agora embasbacado, se tal persona tivesse nascido cá e tivesse encetado uma carreira com tal figurino na nossa terrinha plena de preconceitos morais e culturais sob os moldes de Velhos do Restelo e santos e santinhas de fátimas. Também inovador e com música de reconhecida qualidade foi o nosso Variações e lembremo-nos do que foi a sua luta e foram os seus trabalhos para poder iniciar a sua carreira e depois ser aceite pelas elites artísticas que, ao contrário do embasbacamento actual perante Bowie, na hora da sua morte o desprezaram. 
Penso portanto que uma personagem portuguesa que se inventasse como Bowie se inventou teria sido atacado impiedosamente pela sua arte contra a moral bolorenta vigente e sua rebeldia social seria atribuída a um carácter demoníaco e por conseguinte seria destruído à nascença.
As nossas elites, já educadas para basbaques porque feitas de leituras de revistas lá de fora concebidas por especialistas precisamente para fabricarem os mitos que lhes interessam promover, incapazes de produzirem um pensamento próprio sobre a arte e os "tipos" artísticos existentes no mundo, limitam-se a parasitar o pensamento e modelos de arte divulgados nessas revistas da especialidade.
À parte maior da nossa elite crítico-artística, tal qual a elite crítico-política, basta-lhe saber duas ou três línguas estrangeiras dominantes para debitarem opinião camaleónica aparentemente sábia sobre todos os assuntos que, afinal, não é mais que a repetição embasbacada do pensamento que outros produziram, imprimiram em papel e vendem às escolas de basbaques da nossa periferia.

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