terça-feira, dezembro 01, 2015

A UTOPIA DE JOSÉ PINTO CONTREIRAS 6


EM 1981 AINDA ESTAVA ABERTA AO PÚBLICO, COM SE VÊ NA PORTA DA DIREITA DESTA FOTO, QUE NA FAIXA BRANCA VISÍVEL AO ALTO TINHA INSCRITA A PALAVRA "RETRETE"

ACTUALIZAR A MODERNIDADE, MANTER VIVA A UTOPIA (2)

Também pela primeira vez no sítio uma construção era fechada com uma laje de betão armado. Foram precisos dúzia e meia de homens de muita envergadura e resistência para garantir acabar a placa durante um dia de sol a sol utilizando apenas pás, baldes, sarilhos e muita força e suor humano.
Além desta inovação técnica para a cobertura do “Salão” outra de cariz social estava pensada e era posta em construção para a inauguração. Tratava-se de dotar o moderno edifício de uma rede de esgotos canalizados para uma fossa em local distante no terreno do largo quintal adjacente. E, simultaneamente, aproveitar para instalar também uma rede idêntica na habitação dita "casa dos altos" interligada  à rede do "salão".
Mas o forte entusiasmo e sentir social da pessoa Estanco ficou expresso de forma incomum ao construir, aberto ao público, uma "Retrete" ao serviço da população. Ligada à rede de esgotos da casa dos altos e do salão construiu sob um vão de escada, entre a casa de barbearia e a do sapateiro, uma "Retrete", assim mesmo estava inscrito a tinta sobre a entrada da mesma, com porta para a rua pública e aberta a todo o povo. 

Construído todo o conjunto do "Salão", a "Retrede" e respectivas redes de águas e esgotos que os serviam, ficou estabelecida a sua inauguração, com festa de arromba, para 9 de Abril de 1945 em memória da data da mortífera batalha de La Lys, para a qual todos os camaradas de trincheiras habitantes locais e arredores foram convidados, incluindo Mestre José Ferreiro (Pai), também camarada de guerra, brilhante acordeonista e compositor que abrilhantou a festa.
Foram mortos, esfolados e assados no espeto três carneiros, digeridos com discursos comemorativos, histórias da guerra, episódios das trincheiras, música de corridinhos e valsas francesas durante um dia inteiro.
Esgotaram-se pipa e meia de cem litros e alguns garrafões de medronho escorrendo pelas gargantas dos participantes entusiasmados e população local assistente, declamaram-se versos do já popular Poeta Aleixo e cantaram-se desgarradas ao despique.

Tempos depois, o Poeta Aleixo, que frequentava quase semanalmente o Sítio para cantar e vender os seus versos em folhetos de "Quadras" populares, que já fora o autor da letra da Marcha da Sociedade Recreativa Gorjonense, como habitualmente, veio aos Gorjões e, junto à taberna que frequentava e onde cantava, deparou-se com o nome "RETRETE" pintado no frontespício da mesma.
Inteirado da obra concebida e do Homem que a concebeu, logo ali rematou,

Temos aqui um homem novo
Que sabe bem onde se mete
E que para benefício do povo
Mandou construir uma "Retrete"


(continua)

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