MÁRIO SOARES 1924 - 2017
TEATRO VASCO SANTANA (ANTIGA FEIRA POPULAR DE ENTRECAMPOS)
António Costa refere no seu artigo "Sempre Livre Como Um Pássaro" a criação nas eleições de 1969 da CEUD por Mário Soares, como alternativa ao que sempre representara a CDE, de cunho frentista liderada pelo PCP.
Precisamente nessas eleições a CEUD organizou um comício no Teatro "Vasco Santana" onde estava sediada a Companhia "Teatro Estúdio de Lisboa" dirigida por duas grandes senhoras do Teatro, Luiza Maria Martins e Helena Félix.
Fui cedo e, mesmo assim, já não consegui lugar sentado e ficámos, eu e minha mulher, de pé no fundo do Teatro, que era à entrada e próximo da porta de saída e onde se foi juntando filas de gente de pé, como nós. Uma pequena mesa e cadeiras colocadas lá à frente para os oradores não tinham ocupantes ainda.
Com alguma gente já na rua e zum-zuns de que na sala estavam muitos pides e, dada a hora e a falta dos oradores a tensão aumentava e pressentia-se no ruído ambiente. Por fim, atrasados devido aos entraves de controlo administrativo salazarista, lá foram chegando os oradores; Soto-Maior Cardia, José Magalhães Godinho e por fim faz-se um burburinho enorme e entra Mário Soares no seu passo largo bamboleante, com ar cerrado e preocupado, por um corredor apertado de gente a bater palmas.
Pela mesma ordem os oradores falaram sempre de forma quase codificada, como era hábito fazer à época com as notícias nos jornais, até que chegou a vez de Mário Soares.
Este, não se conteve, e quis ser mais directo e logo se levantou algum sururu na sala. Soares protestou, esgrimiu que estava em período eleitoral e que tinha de falar das suas ideias aos ouvintes interessados e a sala acalmou passado um tempo.
Já no final do discurso Soares voltou a falar claro para os presentes e então os pides organizados na sala quiseram acabar com o comício imediatamente. Não tinham força para tanto face à grande maioria na sala que apoiava Soares mas, entretanto, já tinham chamado a tropa da Legião. Esta chega em dois camiões armada com bastões e armas de fogo e desce, frente à entrada Norte da Feira Popular, que era também junto do Teatro, e desata à bastonada sobre as pessoas que entretanto começaram a sair à pressa. Vieram depois polícias que juntamente com os legionários correram atrás das pessoas em fuga dentro e fora da Feira Popular.
Houve alguns feridos com escoriações ligeiras e, penso que o Cardia, foi a sangrar para fazer tratamento clandestino algures. Não me recordo o que aconteceu depois mas creio que os "comícios autorizados" para aquelas eleições de 1969 terminaram logo ali quando terminou o primeiro comício permitido.
Mário Soares foi àquelas eleições viciadas para perder como travou muitas lutas perdidas à partida mas, a sua visão e instinto de futuro, dizia-lhe que em cada luta perdida obtinha pequenos ganhos que um dia, todos juntos, se tornariam um ganho único, grande e vencedor.
Foi assim sempre, directo e inquebrantável na luta em defesa da liberdade contra a injustiça e, mesmo quando foi vencido e desrespeitado, o futuro deu-lhe razão.
Mário Soares foi àquelas eleições viciadas para perder como travou muitas lutas perdidas à partida mas, a sua visão e instinto de futuro, dizia-lhe que em cada luta perdida obtinha pequenos ganhos que um dia, todos juntos, se tornariam um ganho único, grande e vencedor.
Foi assim sempre, directo e inquebrantável na luta em defesa da liberdade contra a injustiça e, mesmo quando foi vencido e desrespeitado, o futuro deu-lhe razão.
Etiquetas: mário soares 1924-2017, uma recordação.
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