segunda-feira, abril 09, 2018

EM MEMÓRIA DO NOVE DE ABRIL DE 1918

José Pinto Contreiras mobilizado pelo CEP embarcou em Lisboa a 25 de Junho de 1917 para a Flandres francesa como Soldado e promovido a 1º Cabo Observador em Setembro de 1917 foi colocado no Q.G.B. em Fevereiro de 1918.
Em Novembro de 1917 enviou de Flandres um postal com a foto abaixo fardado a preceito na sua qualidade de 1º Cabo Observador.
Após a grande derrocada da frente portuguesa no 09Abr1918 é colocado em Hendaya em Junho de de 1918 e incumbido de escoltar três desertores portugueses deixou fugir um deles no Metro de Paris pelo qual apanhou dez dias de prisão disciplinar que cumpriu integralmente.
Foi repatriado em Junho de 1919.  

FOTO ENVIADA DE FLANDRES EM NOVEMBRO DE 1917

DOCUMENTO REGISTO DO 'BOLETIM INDIVIDUAAL' DO C.E.P. 

INSCRIÇÃO NO REVERSO DE UMA MOEDA DE FRANCO FRANCÊS ÚNICA "RECORDAÇÃO DE GUERRA" TRAZIDA COMO MEMÓRIA DESSE TEMPO

Excertos do livro "A Malta das Trincheiras" de André Brun, Comandante do Bat. 23 e herói da guerra 1914/18, dão-nos uma ideia realista do que era e foram os dias duros desses tempos de guerra passados nas trincheiras às intempéries da chuva e neve mal enroupados e alimentados.

Assim, nos primeiros dias:
- Afizemo-nos à lama pelo joelho, aos charcos de água barrenta, aos dugouts, ás visitas do general, aos morteiros de todo o tamanho...-. 
- Aquela espada, que alguns sonhavam brandir em arrancadas de glória,foi substituído por um cacete nodoso em que se amparavam os nossos passos sobre as passadeiras viscosas e com que se enxotavam os ratos.

A 09Abr2018:
- De súbito a artilharia desperta ao longe. O seu rumor avoluma-se e torna-se dentro em pouco como o marulhar de uma onda brava batendo a rocha sem descanso-.
- Temos a impressão de que cousas formidáveis se estão passando. As horas vão decorrendo sem que aquele furacão abrande.Os nossos ouvidos afeitos a tais tempestades reconhecem que esta é a maior de todas-.
-Começam a chegar outras novas. O desastre é maior. Os boches estão em Vieille Chapelle, o outro extremo do front que defendiamos desde Junho do ano passado. É todo o Corpo Expedicionário repelido.
- Todos aqueles que, nos últimos dias , tínhamos reflectido na precipitação das nossas deslocações, febrilmente executadas desde que a insubordinação começara lavrando em tropas inutilmente sacrificadas nos últimos tempos, olhávamos mudamente uns para os outros, aterrados pela rápida confirmação de todos os nossos receios -.   

José Pinto Contreiras nunca falou com a família acerca da guerra nas trincheiras ou fora delas na sua passagem pelas cidades e aldeias de França. Nunca contou qualquer história passada consigo ou entre outros expedicionários durante a sua passagem pela 1ª Grande Guerra, o maior acontecimento mundial até à data.
Mas recordo ter ouvido ele dizer, era eu garoto, falando com antigos seus camaradas das trincheiras durante uma das Festas comemorativas que se realizavam todos os 9Abril de cada ano aqui nos Gorjões, acerca da má alimentação das tropas portuguesas que "quando se apanhava uma ratazana grande e gorda era um petisco e uma festa na trincheira".
Parece que numa primeira fase inicial ainda o bordão nodoso servia para enxotar os ratos mas por fim teria sido precioso para os matar e comer.
Muito provavelmente a "insubordinação" de que fala André Brun teve origem na incapacidade dos Comandos manterem os Soldados em boas condições de alimentação, fardamento, alojamento e descanso o que levou à quebra total do moral para combate e depois à insubordinação.
E por fim à tragédia que foi a nossa pequena participação na Grande Guerra.  

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