O CIENTISTA POLÍTICO FALHADO
Só agora dei conta do artigaço bem esgalhado literariamente à Pacheco Pereira titulado Chamar à democracia 'sistema' e depois ser contra o 'sistema', jornal "público" de 16.02.2019.
Trata-se de pretenso libelo pachequeano que tenta desmontar o populismo actual dos justiceiros que são contra os políticos porque dizem eles, só andam no 'amanhanço' e são 'todos corruptos' mas que no fundo, tais populistas, não são mais que oportunistas a trabalhar para criar um clima geral anti-democrático à espera de um 'salvador' duro, teso, de promessa fácil e resoluções instantâneas, mágicas, que de uma penada ponha 'ordem', dizem, na corrupção mas no fundo falam segundo aquele popularuncho e manhoso conceito de 'vocês sabem de quem eu estou a falar' para apontar os políticos e atacar a fragilidade e incapacidade de gestão da liberdade em democracia aberta.
Nesse aspecto Pacheco vai bem.
Contudo vai mal e muito mal quando se põe de rabo de fora como se não tenha sido ele próprio um dos grandes animadores na criação desse clima de atingir condições objectivas para a revolta dos ignorantes guiados pelo oportunismo populista. E fá-lo de forma intelectualmente algo fundamentada pelo que se torna muito mais eficiente e perigoso pois penetra até nas classes médias letradas mas pouco cultas.
Ele quer desmontar o salazarismo e a sua face demagógica mais forte propalada pelo populismo de que 'nesse tempo não havia corrupção' e quase chega ao ponto certo mas não o aponta e que é: no salazarismo, corrupto era o Estado num todo. A corrupção é parte integrante da ditadura, estava tão intrinsecamente ligada que era o próprio 'sistema' ditaturial e só ele ditava quem podia ser corrupto ou honesto, enriquecer, ser chefe, ser doutor, ser industrial, ser latifundiário, ser pobre, ser miserável, ser preso, ser carrasco, ser piedoso, ser informador delator, ir à escola ou ser analfabeto a vida inteira com agradecimento à caridade do regime e impunemente sem que alguém pudesse protestar sem ser visitado pelo guardião do Estado Corrupto: a polícia política, PIDE.
E para corroborar esse seu pensamento contra a 'bondade' salazarista volta ao seu carácter bandalho do costume. Vem, tal qual os anti-sistema populistas oportunistas que critica, fazer coro com eles ao trazer à baila o caso 'operação marquês' que, afirma, nunca seria possível no velho regime salazarista.
Mas onde estudou Pacheco História que acha que casos como de Sócrates nunca aconteceram naquele tempo de ditadura? Ó Pacheco então como tratou o regime salazarista o Mário Soares, Alvaro Cunhal e de forma generalizada todos os comunistas? E, pior ainda, até o mais simples cidadão que fosse democrata ou pensasse pela própria cabeça e criticasse o regime como era tratado, digo mal-tratado, levado à Pide ou encarcerado ou 'julgado' pelos tribunais 'especiais'? E o que foi o processo 'Operação Humberto Delgado' lembras-te? E o da Catarina de Baleizão? E o dos enviados para o Tarrafal?
E também nunca pensaste como a própria Democracia original e os homens que a inventaram e usaram orgulhosos como um bem maior que todos os outros modelos de governação, por manipulação da opinião pública, condenaram à morte o velho Sócrates porque desmascarava a falsa sabedoria de gente sábia e sábios magistrados.
Tu, Pacheco, fazes parte daqueles que afinal são as lebres no atletismo que fazem correr mais soltos e à vontade e mais rápido e ligeiros os populismos oportunistas que dizes combater.
Tu, Pacheco, fazes parte daqueles que afinal são as lebres no atletismo que fazem correr mais soltos e à vontade e mais rápido e ligeiros os populismos oportunistas que dizes combater.
Já escreveste, pidescamente, que quem contactou ou apoia/apoiou Sócrates traz consigo uma 'mancha' inapagável no carácter no sentido nazi acerca dos judeus.
Como os bandalhos fedorentos dos eixos-do-mal e governos sombra achas que com provas ou sem provas Sócrates tem de ser condenado e pesadamente quando não o populismo tem mais um cavalo para montar, mesmo velho e gasto de tanto ser usado e abusado por ti e pelos ditos populistas, e pedir ao povão a revolta popular e a 'ordem' de um novo Estado Novo.
Como Sousa Tavares achas que mesmo senão com provas neste caso Sócrates deve ser condenado pelas 'provas' que deu em casos incertos da governação ao estilo: se não foste tu foi o teu pai ou avô.
Ainda o homem era Secretário de Estado e já os do teu partido inventavam cartas a incriminá-lo no caso Freeport e até um implicado da PJ foi condenado por tal invenção. Andam há cerca de quinze (15) anos a perseguir e prender o homem e quando não tinham nada na mão para mostrar ao pagode implicaram meio mundo no 'processo' e gastaram milhões a encher páginas e tratar documentos avulso para tornarem ininteligível o caso e haver condenação correspondente à dimensão das toneladas de papel.
Dizes tu, ó Pacheco, que na ditadura nunca houve nada de parecido. Claro que não, precisamente por que se tratava dum regime de base corrupta-ditaturial, como aquele para o qual andas a contribuir para que volte, pois os casos eram tratados secretamente e a justiça uma farsa total ao serviço da ditadura. Nesta, os 'poderosos' eram os homens do regime, fabricados pelo regime, consentidos e protegidos pelo regime e, claro, eram mesmo homens verdadeiramente poderosos.
A pergunta a fazer é como é possível um caso como a 'operação marquês' acontecer em Democracia e Reino da Lei porque na ditadura a 'justiça era como o 'hábito' que o padre veste diariamente no segredo da sacristia.
A pergunta a fazer é como é possível um caso como a 'operação marquês' acontecer em Democracia e Reino da Lei porque na ditadura a 'justiça era como o 'hábito' que o padre veste diariamente no segredo da sacristia.
E a resposta mais correcta é aquela que implica na sua possibilidade o facto de haver mentira e corrupção na luta política, onde andaste e andas metido, e corrupção de grupos corporativos que tu apoias e que são os verdadeiramente poderosos que se gabam de prender 'poderosos' pobres-desgraçados sucateiros ou pobres-sucateiros da política.
Etiquetas: o cientista falhado da política, pacheco
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