segunda-feira, julho 01, 2019

PALAVRAS GORJONENSES ÚNICAS

CARTA DO CUSTOIDINHO (MONGOLÓIDE)

Uns polícias da língua andaram há tempos agitadíssimos com o novo "Acordo Ortográfico", uns porque querem a língua(gem) do português imutável segundo a pureza do AO anterior e outros porque a querem alterar para a tentar uniformizar com os outros países de língua(gem) portuguesa, os ditos PALOPS.
E, de vez em quando lá se solta um deles, normalmente do lado dos ortodoxos pela pureza dela, gritando pelo atentado do novo AO à língua.
Uma forma estulta de querer condicionar a linguagem do povo a um modelo definitivo, como se isso fosse possível, ou uma forma expert de alguém se fazer ouvir em contramão para ser notado.
A linguagem nasceu antes da palavra, e muito antes de haver ortografia. Na Bíblia "No Princípio era a Palavra" oral pois no princípio haviam sons e não letras e muito menos escrita e ortografia.
Desde a escrita cuneiforme dos egípcios até hoje quantos "AO" já caíram no caixote do lixo da História quer houvessem ortodoxos a defendê-lo como outros a mudá-lo.
Já que a linguagem é inerente à existência e vida social dos povos ela alterar-se-à conformemente à mudança de vida cultural e social desses povos e nada nem qualquer AO poderá imutabilizar a linguagem dos povos.
Trata-se de uma falsa discussão ou um fingimento de discussão de gente que apenas se quer pôr em bicos de pé para ser avistado por sobre os demais.
Como exemplo de que a linguagem é algo vivo que nasce com a necessidade de expressar uma ideia, um conceito tal qual como, no homem primitivo, houve necessidade de nomear, dar nome às coisas para as designar na linguagem corrente, lembro aqui dois termos usados exclusivamente pelo povo de Gorjões que os empregavam, e ainda empregam, para definir um conceito para o qual não havia palavra única nem era explicável fielmente por meio das palavras de sentido próximo.
Uma é: ENTÉGUIDO.
Quando jogávamos ao berlinde em tempo muito frio ou quando escrevíamos no velho armazém que servia de Escola Primária, ao frio invernoso, sentíamos que às tantas não conseguíamos jogar o berlinde ou pegar na caneta de aparo de lata, então dizíamos que estávamos "entéguidos" e tínhamos de desistir de jogar ou escrever. Também as mulheres em trabalhos manuais sentados como fazer renda, empreita ou bordados deixavam de os poder realizar quando se sentiam no estado de "entéguidas". Eu próprio, nos anos 80/81 do Séc. passado, à noite de Inverno, nas salas enormes de Práticas de Electrotecnia do IST de grandes janelas quase sem vidros, o Professor nos mandava embora mais cedo pois não aguentávamos mais escrever porque tínhamos as mãos geladas.
Quando lhe disse que estava "entéguido" o Prof. não entendeu e eu tentei explicar-lhe que estava  enregelado de frio nas mãos e não tinha força nem conseguia segurar a caneta quanto mais escrever devido ao frio.  
Aqui, no povo de Gorjões, bastava dizer que estava "entéguido" que todo o sentido do conceito era apreendido por qualquer habitante local.

A outra palavra é: TIMÃO.
O Timão é um conceito mais completo que engloba numa palavra aquilo que chamamos normalmente o ter na mão "peso, conta e medida". Digo na mão porque trata-se, também neste caso, de uma situação de jogo manual e não de uma qualquer outra situação de jogo, diálogo ou discussão mental por ideias.
No jogo do "bicho" ou de "malha" ou das "setas" ou da "petanca" ou do "bowling" ou de "basket" e outros em que se atira ou joga com a mão uma peça de certo peso pelo ar ou sobre um piso próprio para atingir um fim premeditado de obter vantagem no jogo, quando um jogador atinge com regularidade o objectivo que se propõe dizemos que tem bom "timão".
Diz-se, portanto, de alguém que para atingir manualmente um alvo à distância o consegue fazer, independentemente de ter mais ou menos prática que outros, com maior frequência nas mesmas condições. 
Ter "timão" implica ter propensão natural ou ter adquirido pelo treino as medidas certas e precisas de força, direcção e distância para acertar no alvo como previsto e pretendido e ganhar a jogada. 
Não confundir com um bom atleta de lançamentos pois neste caso está apenas em causa a medida "força" porque o alvo é a própria distância.
Como no futebol poderíamos dizer que tem bom "pé(zão) de um jogador que raramente erra no passe quer seja curto ou longo o que o qualifica como jogador de bons pés.
Também, aqui, no povo de Gorjões para designar um bom jogador de lançar ao alvo basta referir que tem um bom "timão", palavra inventada pela necessidade de designar, definir e conceptualizar, numa palavra única, um conceito de explicação complexa.

Como mostram estes exemplos as palavras que são o fundamento da linguagem corrente alteram-se, crescem ou morrem, consoante as necessidades de expressar conceitos para tarefas novas ou precisar com palavras novas velhos conceitos.    
E isto, acontece, inteiramente alheio a qualquer existente ou não AO.       

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