domingo, fevereiro 02, 2020

NEVE(S) NO ALGARVE


 
No dia de hoje do ano de 1954 o Algarve surgiu da noite tapado de um espesso tapete de neve que foi uma novidade espantosa e um acontecimento único nunca visto para os algarvios vivos.
Na tarde anterior saíra da Columbófila na esquina da Rua de São Pedro com a esquina da, hoje em dia, chamada Rua do "Crime", onde tinha ido jogar bilhar com o Claudino, meu familiar.
Atravessávamos o Largo da Igreja do Carmo em Faro quando começou a cair pequenos flocos que se pegavam à roupa e se enfiavam pelo cabelo; sem saber o que era perguntavamos um ao outro "mas que é isto, mas que é isto" enquanto, intrigados, sacudíamos a roupa e linpavamos a cabeça. 
Chegados a casa um pouco  abaixo do "Montinho" na Rua D. Diogo Mendonça Corte Real as flores e o pessegueiro do pequeno quintal já estavam muito enfeitados de branco e perante o nosso espanto a Mana Bi' Luz, mãe do Claudino e dona da casa, esclareceu que a telefonia estava dizendo que era neve.
No outro dia de manhã, 02 de Fevereiro de 1954, fomos para o Liceu e atravessámos a "Carreira de Tiro" militar, o bairro de S. Luis e a vereda entre as amendoeiras até à estrada de Olhão já próximo do Alto de Santo António sempre com os pés enterrados na neve.
Na escadaria do Liceu a neve estava amontoada e os alunos à porta gozavam o manto branco no "Largo do Infante" em frente. Tocou para a entrada e imediatamente os professores mandaram sair as turmas pelas portadas trazeiras do parque desportivo do Liceu.
Alunos e professores brincaram na neve toda a manhã e foram mandados para casa depois; naquele dia especial e único até hoje houve uma borla às aulas.
Naquele tempo, até aquela data, apenas houvera anualmente a tal neve das amendoeiras floridas que, segundo a lenda, matava a tristeza da princesa nórdica. Esta neve tipicamente algarvia das resplandecentes e alvas manchas de Barrocal cobertas de amendoeiras floridas durou ainda algumas décadas.
Hoje em dia, princípes e princesas nórdicas, fartas de neve na terra deles, preferem sol e praia e nós, os algarvios, que na lenda os servíamos alegrando-os com neve de amendoeira, mantemo-nos os mesmos quase exclusivamente vivendo do turismo dedicados a servir alegria e bem-estar dos mesmos vindos do norte.
Só mudou o estatudo da amendoeira algarvia que, de rica e bela, foi deixada ao abandono tornando-se árvore em vias de extinção e simbolo de decadência.

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