sexta-feira, dezembro 19, 2008

MADOFF E DONAS BRANCAS


ANDAM POR AÍ, AFANOSAMENTE
Fora de casa por uns dias, li nos cabeçalhos dos jornais o novo caso Dona Branca em escala global. À nossa "dona" a inteligência caseira tratou o assunto com a habitual professoral e displicente sobranceria como tratando-se de um caso de xico-espertismo à portuguesa. O "Dona Madoff" que copiou e pôs em prática o mesmo "conto do vigário" para fazer ricos os remediados e multimilionários os já ricos, sem esforço e em prosperidade perpéctua, enganou uma elevada dose de "experts", banqueiros, economistas, reguladores, etc., das praças financeiras de todo o mundo e da nossa, inevitavelmente.

Da nossa inevitavelmente, dada a nossa natureza de embasbacamento face ao reputado "cientifismo" económico-financeiro, e outras artes, de personalidades altamente credênciadas e certificadas por sonantes universidades e altos cargos, não obstante terem passado, aqui em casa, pela experiência ao que leva não desconfiar da milagrosa fartura de multiplicação de património de bens, notas ou selos de per si, sem mais. Jamais algum estudioso caseiro poria em causa, ou alertaria para a impossibilidade de tais altos dividendos sem que houvesse fraude no sistema, que não fosse logo catalogado de provinciano, porque nunca ninguém deste cantinho de copistas, pôe a questão a si mesma de que a muita experiência, os muito e altos estudos, a elevada inteligência, a alta reputação das pessoas tanto podem estar ao serviço do bem como do mal, ao serviço do bem comum como do próprio ilicitamente. Os portugueses são dados a olhar a "representação" da figura e não a figura representada, a valorizar o símbolo e não o facto, a reverenciar a liturgia e não questionar o mistério.

Igualmente neste tempo de crise global, muitas espécies de madoffes e donas brancas andam por aí, afanosamente, propagandeando vários modelos e formas de "conto do vigário". São todos aqueles que propôem aos portugueses resolver a crise por simples passo de mágica de feiticeiro político, como assim: o Estado é que deve pagar a crise e não as pessoas. E muita gente aplaude tão desonesta proposição pela firmeza patética da eloquência sem se aperceber da vigarice política que subjaz em tal proposta. No caso de fraude estilo dona branca estão em jogo somente bens materiais, no caso de fraude com o Estado está em jogo bens materiais e imateriais como a liberdade de agir, pensar e sonhar sempre.

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