sábado, setembro 02, 2017

A ESTRADA LUNAR


Sete décadas seguidas percorri
aos baldões
sobre aquela que chega aqui
feita buracaria de vulcões
(imagem de sempre de ti)
teres buracos aos milhões
que é tua marca de pele
produto do papel
de desvios e discriminações
indignas contra o lado rural
ostracizado na raia marginal
de Gorjões
tomadas por gente que habita
o mundo mental dos salões
palacianos onde o edil edita
editais lixados aos mexilhões.

Falo da nossa inditosa estrada
que já foi caminho pra Milreu
sempre imprópria e ignorada
é hoje arqueologia de Museu
amostra nua e crua
da superfície que há na Lua.
Um dia o lunar piso de MaC'Adam
pintaram com tinta de alcatrão
e num outro dia também infame
barraram-na com tinta de betão.
Estávamos neste ledo e quedo
aguento quando rasgo visionário
anuncia: vamos cobrir o ossário
desta danada e de vez perder o medo
de nela viajar como sobre tempestade.
Mas, oh!, novidade;
sobre o total da fatia pavimentada
houve um crime de facada
que da fatia toda cortou metade.

Sobre tal insólito caso não durmas
pois breve será entregue às urnas.

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