sábado, novembro 18, 2017

IIL - 2º ENCONTRO 2017 50º ANIVERSÁRIO (COMENTÁRIO)

Fomos dos últimos seus alunos habitantes pois passados dois anos o velhinho IIL da Rua Buenos Aires de Lisboa mudou-se para as novas instalações actuais do ISEL.
Foram quatro anos passados naquelas mal adaptadas instalações tão degradadas que chovia em quase todas as salas e na sala de desenho trabalhávamos com o chapéu de chuva aberto sobre o estirador.
Mas a massa humana de estudantes era da melhor qualidade massa cinzenta que podia haver pois ali se reuniam, quase exclusivamente, os melhores alunos ditos os "dispensados" do Exame de Admissão vindos de várias Escolas Industriais nomeadamente de Lisboa, Leiria e Faro.
Quis o acaso da altura que tivéssemos sorte pois todos puderam escolher emprego entre várias hipóteses e alguns começaram a trabalhar ainda lhes faltava fazer alguma cadeira em segunda chamada. Era o tempo da industrialização pesada como as cimenteiras, as celuloses, a grande electrificação, a siderurgia, os automóveis, o Barreiro, Sines e Estarreja.
Tivemos boa formação muito especialmente em Electrotécnia (energia, correntes fortes) e também em Mecânica de estruturas além do estudo de Electrónica a válvulas (correntes fracas) e ainda de Ventilação e Aquecimento. Logo, nessas unidades fabris ou de montagens onde nos empregámos demos imediatas provas de boas  capacidades técnicas para superintender e dirigir os trabalhos a nós distribuídos.
Pelas nossas capacidades técnicas e inteligência de organizar e dirigir o trabalho rapidamente atingimos o topo de nossas carreiras, especialmente no Estado e também nas empresas privadas que tinham de seguir o mesmo modelo. Porque a mentalidade e organização hierárquica elitista do Estado Novo havia-nos discriminado,  primeiro como Agentes Técnicos e depois, para efeitos estatísticos face à Europa, como Engenheiros Técnicos.
Contudo, apesar das mudanças de título escolar, as limitações de acesso a cargos de chefia não se alteraram em nada  e os cargos de chefia superior foram-nos sempre integralmente interditos. Por tal motivo muitos de nós, logo após o 25 Abril e consequente abertura à possibilidade de completar os estudos, decidiram ir tirar o título académico no IST.
Por isso, para além do grande envolvimento de estudo e trabalho em grupos nos típicos cafés da zona da Estrela onde nos reuníamos e estudávamos, como diz no filme o nosso colega algarvio Granja Coelho, e que permitiu que através da entreajuda mútua nos estudos todos se tornassem amigos de todos houve também depois o mesmo espírito de sabermos uns dos outros e trocarmos opiniões acerca da situação e possibilidades de carreira face à rígida hierarquia imposta pelo Estado e, como exemplo, às empresas.
Perante tão grande cumplicidade e consequente amizade criada durante os quatro anos de estudos entre nós sentimos que perder-nos de vista era uma perda indesejada quer do ponto de vista sentimental quer do ponto de vista de mantermos o estilo de entreajuda por trocas de experiências no trabalho.
E assim alguém propôs, logo em Novembro de 1967, ainda mal acabado o curso, um jantar de comemoração e confraternização. E também logo nessa comemoração ficou definida a realização de duas reuniões de jantares anuais.
Até hoje, mantemos esta comunhão de amizade e troca de dados, ajudas e conhecimentos com a mesma franqueza quer na alegria dos vivos quer na saudade pelos que já morreram.
E assim será pois já não podemos mudar um facto que se tornou um caso de força maior. 

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