TI' GLORINNHA, BARBEIRA DE CINCO GERAÇÕES
Aos 11 anos, acabada de sair da Escola Primária com o exame da 3ª classe feito, ainda uma menina Maria da Glória começou a dar aulas em casa como Professora de “Escola Paga” para onde os meninos antes dos sete anos eram mandados pelos pais aprender as “primeiras letras".
Uma “Escola Paga” era o equivalente ao actual ensino pré-primário mas não oficial nem obrigatória e muitos alunos, especialmente alunas, com a 4ª Classe se dedicavam a ensinar em suas casas as primeiras letras às crianças cujos pais pretendiam fossem para a Escola Primária oficial pois a grande maioria de crianças do campo naquele tempo nem sequer frequentavam qualquer Escola.
A maioria das crianças desse tempo na idade escolar tinham de ajudar os pais nos trabalhos do campo para ajudar ao parco bolo de rendimento familiar tal qual as meninas, como Maria da Glória, o faziam instalando em casa uma Escola Paga.
A dita Escola Paga era assim chamada, precisamente, porque cada aluno pagava uma mensalidade. Em 1944, em plena 2ª guerra mundial e racionamento dos principais bens alimentares, um aluno na Escola Paga da Professora Maria da Luz pagava 2$50 escudos por mês (vinte e cinco tostões, duzentos cinquenta centavos, dois mil e quinhentos réis).
E foi a partir dessa experiência de Professora de Escola Paga para crianças que Maria da Glória também se iniciou como barbeira. A sua ligação às crianças levou-a a reparar que algumas delas levavam o cabelo comprido e num acto de bondade e amizade levou-a a pegar na tesoura para cortar e aparar o cabelo dessas crianças. E uma carreira de utilidade pública bondosa como barbeira de miúdos e graúdos durante 78 anos (setenta e oito) começou assim na vida de Maria da Glória.
O gosto pelo seu trabalho de alindar os meninos da Escola não a desligou mais daquele acto mimoso tão do seu agrado, das crianças e dos pais delas. Tanto assim foi que, como ela explica, os antigos meninos e meninas seus alunos ao tornarem-se pais levaram os filhos e depois os netos e assim sucessivamente.
Nesta passagem de testemunho de pais a filhos deu-se que também muitos dos primeiros antigos alunos, quando já pais, nunca deixaram de frequentar a casa da Maria da Glória e continuaram a lá ir acompanhados dos filhos e mais tarde seriam avós e netos ou pais e filhos na sala de espera de Maria da Glória para serem atendidos. Explica-se assim, por este costume hereditário de passagem de geração para geração, a razão pela qual a Maria da Glória barbeira nunca teve tabuleta à porta a anunciar-se.
Maria da Glória fez-se mulher, casou e construiu a sua própria habitação na qual fora reservada uma sala própria para os seus trabalhos de barbeira com clientela. Estávamos nos anos’30 em pleno tempo restrito ao rigoroso comportamento de costumes e moralidades que impunha uma quase interdição total de contactos entre homens e mulheres publicamente e onde até os namoros em casa eram vigiados.
Pois Maria da Glória foi uma das poucas mulheres, num mundo de homens, que por mérito da sua dignidade e total e impoluta dedicação ao seu trabalho, conquistou o direito e reconhecimento geral à sua diferença, ao seu trabalho invulgar para mulheres, ao seu estatuto de mulher independente de tabus, ao seu genuíno carácter e vontade de ser o que gostava, de apesar de estranho e incomum perante a moral vigente o seu trabalho de cortar cabelo e barbear homens obteve o respeito e carinho de todos.
Por tal digno comportamento foi trabalhadora barbeira ininterruptamente para cinco gerações e psssou a ser carinhosamente tratada por Ti’ Glorinha. E tão conhecida e famosa em toda a Freguesia e arredores que quando alguém via na rua uma criança com o cabelo grande logo lhe diziam; moço, tens de ir à Glorinha.
Suprema glória desta Maria da Glória mulher de vontade forte e bondosa foi ser tão popular e respeitosamente reconhecida que se alguém pronunciava Glorinha significava cortar cabelo ou se pronunciava cortar cabelo significava Glorinha, pois raros são os que conseguem uma identidade tão íntima entre pessoa e personagem.
Uma “Escola Paga” era o equivalente ao actual ensino pré-primário mas não oficial nem obrigatória e muitos alunos, especialmente alunas, com a 4ª Classe se dedicavam a ensinar em suas casas as primeiras letras às crianças cujos pais pretendiam fossem para a Escola Primária oficial pois a grande maioria de crianças do campo naquele tempo nem sequer frequentavam qualquer Escola.
A maioria das crianças desse tempo na idade escolar tinham de ajudar os pais nos trabalhos do campo para ajudar ao parco bolo de rendimento familiar tal qual as meninas, como Maria da Glória, o faziam instalando em casa uma Escola Paga.
A dita Escola Paga era assim chamada, precisamente, porque cada aluno pagava uma mensalidade. Em 1944, em plena 2ª guerra mundial e racionamento dos principais bens alimentares, um aluno na Escola Paga da Professora Maria da Luz pagava 2$50 escudos por mês (vinte e cinco tostões, duzentos cinquenta centavos, dois mil e quinhentos réis).
E foi a partir dessa experiência de Professora de Escola Paga para crianças que Maria da Glória também se iniciou como barbeira. A sua ligação às crianças levou-a a reparar que algumas delas levavam o cabelo comprido e num acto de bondade e amizade levou-a a pegar na tesoura para cortar e aparar o cabelo dessas crianças. E uma carreira de utilidade pública bondosa como barbeira de miúdos e graúdos durante 78 anos (setenta e oito) começou assim na vida de Maria da Glória.
O gosto pelo seu trabalho de alindar os meninos da Escola não a desligou mais daquele acto mimoso tão do seu agrado, das crianças e dos pais delas. Tanto assim foi que, como ela explica, os antigos meninos e meninas seus alunos ao tornarem-se pais levaram os filhos e depois os netos e assim sucessivamente.
Nesta passagem de testemunho de pais a filhos deu-se que também muitos dos primeiros antigos alunos, quando já pais, nunca deixaram de frequentar a casa da Maria da Glória e continuaram a lá ir acompanhados dos filhos e mais tarde seriam avós e netos ou pais e filhos na sala de espera de Maria da Glória para serem atendidos. Explica-se assim, por este costume hereditário de passagem de geração para geração, a razão pela qual a Maria da Glória barbeira nunca teve tabuleta à porta a anunciar-se.
Maria da Glória fez-se mulher, casou e construiu a sua própria habitação na qual fora reservada uma sala própria para os seus trabalhos de barbeira com clientela. Estávamos nos anos’30 em pleno tempo restrito ao rigoroso comportamento de costumes e moralidades que impunha uma quase interdição total de contactos entre homens e mulheres publicamente e onde até os namoros em casa eram vigiados.
Pois Maria da Glória foi uma das poucas mulheres, num mundo de homens, que por mérito da sua dignidade e total e impoluta dedicação ao seu trabalho, conquistou o direito e reconhecimento geral à sua diferença, ao seu trabalho invulgar para mulheres, ao seu estatuto de mulher independente de tabus, ao seu genuíno carácter e vontade de ser o que gostava, de apesar de estranho e incomum perante a moral vigente o seu trabalho de cortar cabelo e barbear homens obteve o respeito e carinho de todos.
Por tal digno comportamento foi trabalhadora barbeira ininterruptamente para cinco gerações e psssou a ser carinhosamente tratada por Ti’ Glorinha. E tão conhecida e famosa em toda a Freguesia e arredores que quando alguém via na rua uma criança com o cabelo grande logo lhe diziam; moço, tens de ir à Glorinha.
Suprema glória desta Maria da Glória mulher de vontade forte e bondosa foi ser tão popular e respeitosamente reconhecida que se alguém pronunciava Glorinha significava cortar cabelo ou se pronunciava cortar cabelo significava Glorinha, pois raros são os que conseguem uma identidade tão íntima entre pessoa e personagem.
Etiquetas: barbeira, ti glorinha
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