QUARTEIRA A TRÊS TEMPOS
Quarteira que era uma aldeia sem idade
que tinha pescadores e casas rasteiras
com quintais e noras, hortas e sementeiras
sobre a terra e sobre o mar que sem piedade
nem juízos de valor de moral ou verdade,
indiferente, com suas manápulas guerreiras
de águas alterosas que lançavam de arremesso
sobre ligeiros e artesanais barquinhos levados
a remos onde bravos de rostos salgados
eram engolidos pelo brutal excesso
de irados mares sabotadores do regresso
dos bravos a seus lares e deixados imolados
no altar sustento da vida e esta vira do avesso
quem ia pescar ao mar e são pelo mar pescados.
Quarteita que era aldeia hoje é uma cidade
que tem pescadores, porto de pesca e lota
que tem barcos e traineiras, uma frota
motorizada veloz equipada de última idade
digital que detecta cardumes e quantidade
que cavalga o mar como se fora numa mota
d'água e pesca peixe fino para turista,
que trocou "challets" por torres d'apartamentos
que trocou por festa o que eram lamentos
de viúvas e preces-procissões de sacrista,
que trocou casa para arrendamentos
do pescador ao serrenho por vasta lista
de hotéis em fila que vende diárias com vista
de serra e mar ao estranho de rendimentos.
Quarteira que foi primeiro cidade de chacota
nacional do parido menino-fino (poeta Aleixo)
crítico feroz da arquitetura d'Abril, um desleixo
inqualificável, um arranjismo, uma batota
de pedreiros construtores cujo fito e desfecho
foi plantar casas a eito sem plano rumo ou rota.
O tempo que tudo muda, até as mentalidades,
veio armado de novas arquiteturas e modernice
abriu novas e largas avenidas que se visse,
embelezou património histórico e com criatividade
plantou à beira-mar um calçadão quase uma planície
que mudou o rosto imagem e ser de sua realidade.
E hoje Quarteira é lugar do povo comum que a invade
de falas do mundo e sotaques de Portugal inteiro.
O lugar puro inicial que já fora do serrenho e montanheiro.
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