AMENDOEIRA EM FLOR
Por quem te enfeitas tu assim brilhante e vistosa?
Por quem desejas tu ser assim vista com espanto?
Para quem te vestes de noiva de branco e rosa?
Quem esperas enfeitiçar nesse teu encanto?
Que desígnio encarnas nessa tua postura ditosa?
Quem és tu a quem a natureza deu tanto?
Que mistério guardas em ti que ininterruptamente
assim te vestes de noiva no mesmo tempo sempre?
Que força é a tua que mesmo abandonada e doente
não desesperas, não desistes de avisar tua presença
invulgar, nunca deixas de brilhar e ser imponente,
nunca deixas de ser tu mesma ou rival te vença
em dignidade tal que, mesmo moribunda sente
igual força e vontade de repetir-se bela e intensa
como se foras a própria figura da dignidade viva
erguida do chão, olhando o mundo, doce e altiva.
De que natureza és feita que embora já lenho
seco ainda ergues rebento verde e flores de neve
luzindo ao alto denotando querer e empenho
de anunciar ao mundo, como quem escreve
uma promessa de amor eterno, sempre prenho
de nova vida para ofereceres a quem já te deve.
Como se foras uma noiva sempre linda e pronta
a dar-te ao mundo todo sem medida nem conta.
O apressado há-de pensar que és caso de Narciso
ao expores assim tua beleza sem nada em troca,
sem nada exigires, humilde, nem sequer o riso
estático de Madona exibes, em ti nada evoca
o ver-se mas sim o dar-se a ver quanto é preciso,
sem medida, sem cálculo, sem batota.
Tu és tão só aquela natureza limpa e pura que alia
a beleza da flor ao fruto e este ao pão do dia a dia.
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