sexta-feira, janeiro 21, 2022

AMENDOEIRA EM FLOR

 

Por quem te enfeitas tu assim brilhante e vistosa?

Por quem desejas tu ser assim vista com espanto?

Para quem te vestes de noiva de branco e rosa?

Quem esperas enfeitiçar nesse teu encanto?

Que desígnio encarnas nessa tua postura ditosa?

Quem és tu a quem a natureza deu tanto?

Que mistério guardas em ti que ininterruptamente

assim te vestes de noiva no mesmo tempo sempre?

 

Que força é a tua que mesmo abandonada e doente

não desesperas, não desistes de avisar tua presença 

invulgar, nunca deixas de brilhar e ser imponente,

nunca deixas de ser tu mesma ou rival te vença

em dignidade tal que, mesmo moribunda sente

igual força e vontade de repetir-se bela e intensa

como se foras a própria figura da dignidade viva

erguida do chão, olhando o mundo, doce e altiva.


De que natureza és feita que embora já lenho

seco ainda ergues rebento verde e flores de neve

luzindo ao alto denotando querer e empenho

de anunciar ao mundo, como quem escreve

uma promessa de amor eterno, sempre prenho

de nova vida para ofereceres a quem já te deve.

Como se foras uma noiva sempre linda e pronta

a dar-te ao mundo todo sem medida nem conta.

 

O apressado há-de pensar que és caso de Narciso 

ao expores assim tua beleza sem nada em troca,

sem nada exigires, humilde, nem sequer o riso

estático de Madona exibes, em ti nada evoca

o ver-se mas sim o dar-se a ver quanto é preciso,

sem medida, sem cálculo, sem batota.

Tu és tão só aquela natureza limpa e pura que alia

a beleza da flor ao fruto e este ao pão do dia a dia.

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