segunda-feira, maio 21, 2007

MARAFAÇÕES XXIII


A LONGA ILITERACIA

Já era voz corrente dos historiadores que o nosso primeiro rei, fraco general mas astuto e valente guerrilheiro, não sabia ler e escrever, o que José Mattoso confirma em entrvista ao "Público" de sexta-feira. Como muitos reis e princípes da época, era analbabeto, o que se julga ter acontecido com os nossos primeiros reis até D. Dinis. Estava-se ainda em plena e madura Idade Média e toda a ciência estava encerrada nos conventos e a literacia no clero o que lhe dava o poderoso poder do conhecimento aliado do poder superior fundamentado no transcendente religioso. Isso fazia do clero, já fortemente enriquecido pelas heranças e legados dos crentes, e pela vassalagem real ao papado desde Zamora(mais as quatro onças de ouro anuais), a força mais influente e determinante na condução da coisas do principado e depois do reino.
Contudo a um homem ambicioso, valente e observador atento dos homens e da situação favorável existente no seu tempo, a ignorância histórica aguça-lhe a esperteza, a perfídia e a determinação da independência. Nem brios cavaleirescos, nem sentimentos familiares, nem heroicidades homéricas ou grandezas poéticas suas desconhecidas, enchiam a sua cabeça estreita e inteiramente ocupada na idéia de independência. Rasgando tratados e sem palavra, com alguma fortuna mas sobretudo com muita audácia e coragem conseguiu o seu objectivo e como diz Oliveira Martins:
"...se entre os herdeiros de uma história comum, há o amor por essa pátria e a veneração pelos antepassados, nenhum merece na alma dos portugueses respeito maior do que o primeiro de todos aqueles a cujo braço esforçado se deve a obra da contituição política da nação. Neste sentido as manias chegam a ser sublimes. Um salteador é, não raro, um verdadeiro herói; a perfídia é uma virtude, a crueldade é um titulo de glória, porque o espírito colectivo substitui o critério moral e abstrato pelo critério histórico, o qual tem como base a consagração dos factos consumados.
A separação de Portugal foi um facto consumado, graças ao valente, medíocre, tenaz, brutal e pérfido carácter de Afonso Henriques."

A nacionalidade e desde então o nascimento de uma identidade portuguesa tem na sua fundação um rei que conseguiu totalmente os seus objectivos sem necessidade de saber ler, escrever ou contar, mas tão só actuando prosaica e pragmaticamente apenas com a sua coragem, astúcia e perfídia perante a família ibérica da altura. Talvez a nossa maior marca identitária esteja nesta matriz original baseada na esperteza ambiciosa e na coragem mediocre, que por artes e manhas vai obtendo os fins que deseja alcançar. E se se consegue sempre safar e sobreviver sem precisar usar de literacia para que raio quer saber de números, contas e leituras? Que é isso de conhecimentos, para que serve, como e onde se aplica essa sabedoria na conta corrente da luta do dia a dia? O desenrrascanso e a improvisação já considerados como feitos da nossa maneira de ser não são o retrato e a marca de origem do desenrrascado Afonso? A tão cantada e própria saudade portuguesa, aquela "...que sempre nos está fazendo interiormente de que, fóra de nós, há outra cousa melhor que nós mesmos com que nos desejamos unir", não é um sentimento de recurso da ignorância que encobre a nossa atávica iliteracia?
Evidentemente que sem aprofundada apreensão de todo o conhecimento passado e presente jamais um povo tem capacidade de inscrever cientificamente o que quer que seja na história. Poderá inscrever uma gesta épica baseada numa actitude aventuresca corajosa e tendo como móbil o pérfido enriquecimento pela rapinagem, ou seja um bem para vencedores que acarreta um mal a vencidos e jamais um bem para a humanidade sem ser contra outrem. Até a victoriosa gesta dos Descobrimentos que nos inscreve na história universal, ainda hoje se discute e não se sabe com certeza se foi um acto pensado, estudado e preparado à luz dos mais actualizados conhecimentos da altura na matéria ou uma sucessão de experiências inicialmente um tanto lançadas ao acaso. A longa ileteracia que acompanha o nosso já longo passado, apesar da épica marítima e também consequência dela, ilustra bem o vazio do nosso contributo para o conhecimento actual da humanidade.
E pensarmos nós que 1500 anos antes já, na primitiva democracia grega, seria impensável alguem alcandorar-se ao topo do poder sem ser instruido do mais elevado conhecimento existente à época. Estes reuniram e discutiram criticamente todo o elevado saber dos povos mais civilizados da altura, formaram escolas de estudo, ensino e difusão, racionalizaram o conhecimento existente, deduziram racional e lógicamente novos conhecimentos, tornaram-se sábios e inventores e inscreveram inapagavelmente a fundamentação da nossa civilização ocidental. Também eles tiveram um poderoso império territorial que como todos ruiu estrondosamente, contudo o seu império cultural tornou-se objecto de culto de toda a humanidade, imortalizou-se.

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1 Comments:

Blogger Makejeite said...

Plágio é grave, claro que é, mas mais grave é, mas muito mais, é fazer supor e passar uma ideia falsa. Quanto ao preço deles...eu "caguei" para isso, também se paga a comunas e socialistas e ppdistas e outros quejandos para estarem com o cu sentado numas secretárias que todos nós pagamos a não fazer a ponta dum corno.
Eu não vim aqui parar por acaso, mas não dou o meu tempo por perdido. Abraço

2:14 da tarde  

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