AINDA O FUTEBOLISMO
O "FLUXO FUTEBOLÍSTICO" DO EDUARDO GRAÇA E O MEU
Tenho andado fora e por conseguinte afastado deste espaço. Voltando, encontrei no ADF uma reflexão do Eduardo Graça, "Futebol - Fluxo e Resistência" sobre o meu tema "O Futebolismo Continua" publicado no mesmo ADF. Saúdo a coragem do EG pela sua reflectida e racional incursão por este fenómeno tão infiltrado socialmente, tão macivamente vivido e tão individualmente sentido que se tornou o assunto mais publicitado, lido e discutido em Portugal.
Mas vamos tentar dissecar a idéia exposta de "fluxo-futebolístico".
Nos princípios do século xx, estava o desporto na infância, foi muito elogiado por desenvolver a boa ética do "desportivismo" para além da ética grega da "mente sã em corpo sã". Fundamentado por estas éticas maiores e muitas mais menores, o desporto foi acarinhado e apoiado pelos Estados, criaran-se organismos e instituições para superentender e gerir o desporto. Independentemente de nascer como uma necessidade organizativa e mostrar trabalho promovendo e desenvolvendo a actividade, sabe-se que toda "Instituição" que paga bem centenas de empregados, toma logo como seu principal objectivo, quase automáticamente, o controlo feroz pela auto-sobrevivência e expansão, atirando o objecto da sua actividade para segundo plano e ao serviço do objectivo principal. A partir desta contradição fundacional entre objectivo-actividade, qual pecado original, vão desenvolver-se as contradições, cada vez mais confusas e dissimuladas entre amador - profissional, amador - alta competição, futebol - futebolismo, olímpico - olimpismo, etc.
Paralelamente, com o desenvolvimento industrial e económico pós-guerras, a sociedade rural passou-se para a cidade. Esta massa analfabeta desenraizada, atirada para subúrbios lúgubres intelectualmente desertos, cresceu espiritualmente alimentada a 3F, "fado, futebol, fátima". Esta massa de gente deserdada, abandonada e perdida na cidade encontrou nos relatos, depois aos domingos no campo de futebol e durante a semana na taberna, o seu consolo espiritual, a sua emancipação social. Foi, quanto a mim, esta massa anónima e simples, sem futuro à vista mas sobrevivendo religiosamente com esperança, que constituiu o primeiro "fluxo futebolístico" que depois virá a engrossar espantosamente.
A "Instituição" futebol engordou para todos os lados e sobretudo para o lado do cofre e, com este a abarrotar, a pequena corrupção tambem engordou. O monstro agora tornado "rei" tem de manter o trono e alimentar os súbditos barões e pajens e manter ordeiramente, dentro dos limites sociáveis, o dito "fluxo-futebolístico".
Em menos de cem anos o desporto-futebol perdeu a honra se bem que não o seu fascínio. E exactamente é quando não existe o mínimo de honorobilidade no futebol que ele se tranforma na "honra nacional" de alguns países. EG fala de jogo-espectáculo, jogo-ilusão de jogo, pois aí está uma das contradições filhas, a não verdade do jogo futebol e por consequência a sua desonra. Mas outras contradições descendentes, filhas e netas, se têm igualmente desenvolvido e são socialmente graves e até anti-sociais: a criação de bolsas de jogadores e sua venda em hasta pública (épocas de abertura de mercados de jogadores), retrato de negreiros agora sob a forma de escravatura dourada; a corrida de abertura de escolas de futebol para onde os pais correm a meter meninos em desfavor e oposição à Escola de Educação e Ensino para a necessária formação integral do homem; a criação de claques organizadas que integram gente do moderno submundo "lumpen"e fomentam a violência já imbuidos duma filosofia totalitária racista com intuitos políticos; a criação de tribunais especiais desportivos por entidades particulares com juizes seus funcionários (UEFA), à margem dos tribunais e leis gerais dos países; a cada vez maior corrida dos "artistas da bola" à droga para conseguir em campo as victórias exigidas (performances à Marion Jones e Maradona); o comportamento obsceno dos jogadores a cuspirem-se na cara, encostarem a cabeça como dois carneiros prontos a marrar, as fraudolentas simulações de faltas e aleijados, como exemplo e estudo dos meninos das escolas futebolísticas que os irão imitar e suplantar ainda com mais estudo, engenho e arte teatral, etc.
Heraclito, o pré-socrático, que a partir da observação de que ninguem se banha duas vezes na mesma água do rio, descobriu e desenvolveu o conceito filosófico do fluxo, de que tudo flui, tudo está em mudança, e provávelmente o grande inspirador de Darwin, foi apelidado de o "obscuro", no seu tempo, pela sua linguagem hermética que os conterrâneos não entendiam. Tambem eu, agora, talvez ainda não entenda o conceito de "fluxo futebolístico" do EG. À maneira de Heraclito entendo que o actual fluxo futebolístico, tal como o correr da água do rio, são as massas humanas que vão cantando para os estádios e regressam chorando, vaiando, guerreando, violentados e violentando, por um lado. Por outro lado e invisivelmente, as avultadas massas bancárias que correm encobertas de cofre em cofre, de algibeira em algibeira, num circo(lo) mafioso. Com um esforço de imaginação penso que EG com a idéia de um "fluxo futebolístico no qual o que se consome é o próprio fuxo", estará a pensar na caudalosa torrente de imagens repetidas e repetidas, discutidas e discutidas, marteladas e marteladas quase ininterruptamente, por pomposos afofadinhos auto-cientistas sábios das banalidades da bola e que se tornam, pavlovianamente, o alimento e consumo diário em doses de cavalo do fluxo futebolístico real, o de carne e osso. Não é por acaso que a imagem repetida até à exaustão é usada e abusada na publicidade(propaganda), que o futebolismo igualmente usa e abusa para condicionar o consumidor. O homem da caverna de Platão, obrigado a apenas poder ver as sombras do real, tomava as sombras pelo real, a imagem passava a real como idéia. Assim no futebolismo, a imagem passa a ter a força e substância do real e por conseguinte , pronta para consumo.
Na reflexão de EG existem dois conceitos-força que são o de "Fluxo Futebolístico" e o de "Resistência". Como para blog, já vai longo o texto para explanar o que entendo sobre fluxo futebolístico, oportunamente direi o que penso sobre o conceito de resistência do EG.
Mas vamos tentar dissecar a idéia exposta de "fluxo-futebolístico".
Nos princípios do século xx, estava o desporto na infância, foi muito elogiado por desenvolver a boa ética do "desportivismo" para além da ética grega da "mente sã em corpo sã". Fundamentado por estas éticas maiores e muitas mais menores, o desporto foi acarinhado e apoiado pelos Estados, criaran-se organismos e instituições para superentender e gerir o desporto. Independentemente de nascer como uma necessidade organizativa e mostrar trabalho promovendo e desenvolvendo a actividade, sabe-se que toda "Instituição" que paga bem centenas de empregados, toma logo como seu principal objectivo, quase automáticamente, o controlo feroz pela auto-sobrevivência e expansão, atirando o objecto da sua actividade para segundo plano e ao serviço do objectivo principal. A partir desta contradição fundacional entre objectivo-actividade, qual pecado original, vão desenvolver-se as contradições, cada vez mais confusas e dissimuladas entre amador - profissional, amador - alta competição, futebol - futebolismo, olímpico - olimpismo, etc.
Paralelamente, com o desenvolvimento industrial e económico pós-guerras, a sociedade rural passou-se para a cidade. Esta massa analfabeta desenraizada, atirada para subúrbios lúgubres intelectualmente desertos, cresceu espiritualmente alimentada a 3F, "fado, futebol, fátima". Esta massa de gente deserdada, abandonada e perdida na cidade encontrou nos relatos, depois aos domingos no campo de futebol e durante a semana na taberna, o seu consolo espiritual, a sua emancipação social. Foi, quanto a mim, esta massa anónima e simples, sem futuro à vista mas sobrevivendo religiosamente com esperança, que constituiu o primeiro "fluxo futebolístico" que depois virá a engrossar espantosamente.
A "Instituição" futebol engordou para todos os lados e sobretudo para o lado do cofre e, com este a abarrotar, a pequena corrupção tambem engordou. O monstro agora tornado "rei" tem de manter o trono e alimentar os súbditos barões e pajens e manter ordeiramente, dentro dos limites sociáveis, o dito "fluxo-futebolístico".
Em menos de cem anos o desporto-futebol perdeu a honra se bem que não o seu fascínio. E exactamente é quando não existe o mínimo de honorobilidade no futebol que ele se tranforma na "honra nacional" de alguns países. EG fala de jogo-espectáculo, jogo-ilusão de jogo, pois aí está uma das contradições filhas, a não verdade do jogo futebol e por consequência a sua desonra. Mas outras contradições descendentes, filhas e netas, se têm igualmente desenvolvido e são socialmente graves e até anti-sociais: a criação de bolsas de jogadores e sua venda em hasta pública (épocas de abertura de mercados de jogadores), retrato de negreiros agora sob a forma de escravatura dourada; a corrida de abertura de escolas de futebol para onde os pais correm a meter meninos em desfavor e oposição à Escola de Educação e Ensino para a necessária formação integral do homem; a criação de claques organizadas que integram gente do moderno submundo "lumpen"e fomentam a violência já imbuidos duma filosofia totalitária racista com intuitos políticos; a criação de tribunais especiais desportivos por entidades particulares com juizes seus funcionários (UEFA), à margem dos tribunais e leis gerais dos países; a cada vez maior corrida dos "artistas da bola" à droga para conseguir em campo as victórias exigidas (performances à Marion Jones e Maradona); o comportamento obsceno dos jogadores a cuspirem-se na cara, encostarem a cabeça como dois carneiros prontos a marrar, as fraudolentas simulações de faltas e aleijados, como exemplo e estudo dos meninos das escolas futebolísticas que os irão imitar e suplantar ainda com mais estudo, engenho e arte teatral, etc.
Heraclito, o pré-socrático, que a partir da observação de que ninguem se banha duas vezes na mesma água do rio, descobriu e desenvolveu o conceito filosófico do fluxo, de que tudo flui, tudo está em mudança, e provávelmente o grande inspirador de Darwin, foi apelidado de o "obscuro", no seu tempo, pela sua linguagem hermética que os conterrâneos não entendiam. Tambem eu, agora, talvez ainda não entenda o conceito de "fluxo futebolístico" do EG. À maneira de Heraclito entendo que o actual fluxo futebolístico, tal como o correr da água do rio, são as massas humanas que vão cantando para os estádios e regressam chorando, vaiando, guerreando, violentados e violentando, por um lado. Por outro lado e invisivelmente, as avultadas massas bancárias que correm encobertas de cofre em cofre, de algibeira em algibeira, num circo(lo) mafioso. Com um esforço de imaginação penso que EG com a idéia de um "fluxo futebolístico no qual o que se consome é o próprio fuxo", estará a pensar na caudalosa torrente de imagens repetidas e repetidas, discutidas e discutidas, marteladas e marteladas quase ininterruptamente, por pomposos afofadinhos auto-cientistas sábios das banalidades da bola e que se tornam, pavlovianamente, o alimento e consumo diário em doses de cavalo do fluxo futebolístico real, o de carne e osso. Não é por acaso que a imagem repetida até à exaustão é usada e abusada na publicidade(propaganda), que o futebolismo igualmente usa e abusa para condicionar o consumidor. O homem da caverna de Platão, obrigado a apenas poder ver as sombras do real, tomava as sombras pelo real, a imagem passava a real como idéia. Assim no futebolismo, a imagem passa a ter a força e substância do real e por conseguinte , pronta para consumo.
Na reflexão de EG existem dois conceitos-força que são o de "Fluxo Futebolístico" e o de "Resistência". Como para blog, já vai longo o texto para explanar o que entendo sobre fluxo futebolístico, oportunamente direi o que penso sobre o conceito de resistência do EG.
Etiquetas: futebol
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