quarta-feira, maio 21, 2008

ACORDO ORTOGRÁFICO


Trata-se de uma polémica menor aquela travada entre o linguista "nacionalista" e o "economicista", pois penso que independentemente de qualquer acordo imobilista ou dirigista da língua, esta manter-se-á sempre viva e mutante e tomará sempre o caminho traçado na sua origem segundo a incorporação, na língua adoptada, de termos autóctones ou criados por força de costumes e tradições próprias. A língua é o mais importante instrumento de comunição entre o povo que a vai simplificando para a tornar mais prática e entendível e assim facilitar cada vez mais e melhor a conpreensão da sua comunicação. As enormes mutações das línguas ao longo da História foram sempre no sentido de facilitar a transmissão e conpreensão do pensamento e não para dificultá-lo. Uma imposição nacionalista da pureza da língua entre nós, desde o início, levar-nos-ia a que ainda hoje falássemos e escrevessemos à maneira do tempo de D. Diniz, e que nos Palop apenas uma língua nativa maioritária pderia ser língua oficial. A língua escrita nasceu milhões de anos depois da fala e é a sua representação simbólica que deve evoluir de acordo com o falar de cada época. À academia compete apenas regulamentar e preservar a boa etimologia, fonética, gramática e ortografia da linguagem falada.

Diz Pedro Mexia que " O argumento é de que a língua não é nossa porque a antiguidade não conta nada. É claro que a antiguidade não conta nada: mas a quantidade também não conta nada". Ora aqui está uma argumentação fora do real, só possível por um jogo de palavras puramente linguístico, abstracto e sofista em que nenhum dos argumentos palavrosos se encaixa na realidade. Senão vejamos: antes da colonização havia algum sinal ou tipo de língua portuguesa em algum lugar fora de Portugal? Se hoje ela existe nos Palop quem a levou e impôs nessas paragens? Então qual a origem, de quem era então, essa lingua portuguesa? Exactamente por ser antiga e origináriamente única e nossa que o português é, continua sendo e será nosso. Outros podem adoptá-lo, usá-lo e enfeitá-lo que se se mantiver a sua matriz original, a sua marca será sempre portuguesa.
Quanto ao argumento "economicista" da quantidade também enferma de falta de realidade, e vejamos: em matemática ( a tal ciência exacta), 10 são 10, pura e simples, sem mais; mas vinte vezes mais são, 20x10= 200, realidades de quantidade muito diferentes. Um conta uma realidade de dez, outro conta uma realidade de duzentos, portanto são realidades desproporcionadas que se impõem precisamente pelo matemático contar, ou seja pela grandeza numérica a qual o homem sempre históricamente teve não apenas em conta como na devida medida.

Porque é que na nossa actual sociedade um lugar rural, afastado de poucas famílias, é remetido para último da fila de prioridades quanto a ter direito a água, saneamento, recolha de lixo, eléctricidade, estradas para carros, escola, transportes públicos, telefone, telemóvel, televisão, internet, etc, enquanto na cidade em qualquer grande bairro clandestino é urgente e em qualquer nova urbanização é obrigatório, antes de tudo o mais, que as redes de infra-estruturas estejam garantidas e instaladas? Porque um lugar de poucas famílias dispersas tem 200 votantes e um bairro citadino tem concentrados 2000 ou 20000 votantes. São dez ou cem vezes mais votos concentrados e concentráveis e isso não só conta como faz toda a diferênça.
Já na antiguidade arcaica os pitagóricos tentaram explicar o mundo pela decifração do mistério contido nos números e em muitos casos não dixaram de ter razão até hoje.

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