sexta-feira, maio 16, 2008

NOTÍCIAS DOS GORJÕES IV


DIMINUIDOS E ENVERGONHADOS? QUEM?

Depois de uns dias em Lisboa, hoje de manhã na caixa do correio, tomei conhecimento pela 1ª vez da existência do jornal informativo "Fagar" de Março 2008. Abri a folha verde e deparei com o título em grande, "AVANÇAM AS OBRAS DE ÁGUAS E ESGOTOS, freguesias de S. Pedro, Estoi, Santa Bárbara, Conceição e Sé", que evidentemente me despertaram entusiasmado interesse em conhecer de perto o andamento das obras. Sou um dos ainda muitos portugueses que esperam por esse direito inscrito na Carta dos Direitos do Cidadão Europeu e que nos tem sido sucessivamente prometido e adiado desde Abril.

Da notícia em cabeçalho 12,5 vezes maior ( para se ver e ler bem?) que o corpo do texto (para mal se ver e não ler?), constata-se que existem 10 áreas agrupadas em: lote 1 a 4, lote 5 a 6, e lote 7 a 10, que certamente corespondem a projectos separados dado terem também orçamentos individuais. Depois vem a notícia de que o lote 5 a 6 já arrancou e ficará pronto em serviço até ao final de 2008. Estas áreas em obra, decididas prioritárias englobam as áreas de "campina" arredores próximos da cidade, correspondendo os outros lotes, ainda à espera de garantia de financiamento e, por conseguinte entendidos não prioritários, ao barrocal concelhio mais afastado da cidade. Os Gorjões, o meu lugar, uma cova plana depois e por detrás do Cerro Nexe, está incluido no lote 1 a 4, a extrema concelhia mais afastada da cidade autárquica em Kms, pensamento e cuidados de cidadania.

Pela numeração dos lotes subentende-se uma cronologia da feitura dos projectos que talvez correspondesse, originalmente, a uma intenção definidora de prioridades, o que corresponderia ao que aqui foi afirmado pelo anterior municipal Presidente, em reunião com os gorjonenses, de que as obras, impreterivelmente, teriam início nesta área. Afinal assim não foi e, mais uma vez a obscura e dolorosa maldição histórica deste Lugar se cumpriu, agora democraticamente pensando e agindo tal qual como outrora fazia a ditadura.

Depois de estarmos rodeados de electricidade por todos os lados, soubemos esperar muitos anos para poder dar ao botão de acender a luz; depois de estarmos rodeados de estradas de alcatrão por todos os lados, soubemos esperar e aguentar muitos anos a saltar covas e comer pó numa estrada de macdame; depois de muitos séculos em que filhos, netos e bisnetos puderam construir aqui as suas casas nas suas terras e junto das casas dos antepassados, saberemos esperar pacientemente que a cidade, a quem serviu as leis proibicionistas dessa construção tradicional milenar anterior à nacionalidade causadoras da desertificação da terra em contrapartida aos feios, porcos e babélicos subúrbios de engavetamento de vivos, também um dia reconsidere por dever moral ou por imposição da necessidade e volte a deixar que os pequenos povos nasçam, crescam e criem as suas identidades próprias.

Estamos tão perifericamente habituados a esperar e ser últimos que não é por voltarmos mais uma vez a tal condição que nos iremos sentir diminuidos e envergonhados. Revolver-nos-á certamente um forte sentimento de vergomha e diminuição mas não em relação a nós próprios.

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