terça-feira, novembro 18, 2008

SEM CANTO NEM ARMAS, UM DESENCANTO.


MANUEL ALEGRE
Não suporta os tiques autoritários da ministra.
Não suporta a falta de cultura democrática da ministra.
Não suporta mais o posso quero e mando deste governo.
Prevê, preocupado, que por este andar o PS perca votos, a maioria ou as eleições.

A utilização de uma linguagem brusca e expressiva de estados de alma: "não suporto, não suporto mais" é sintomático de emoção e não de razão. Com a sua idade admito que já não tenha paciência para aturar certas coisas, mas se a não tem também não serve, hoje em dia, nem para chefiar politicamante a oposição a uma Junta de Freguesia quanto mais um partido político ou um governo. Por isso mesmo faz, ao seu estilo troante, o mais fácil e de ressonância mediática instantânea: critíca de dentro o seu próprio partido. Se tivesse responsabilidade governativa e efectivamente governasse com base no que pode ou não suportar pessoalmente, rápidamente, numa situação semelhante à que enfrenta a ministra, a sua cultura democrática iria direitinha a um qualquer autoritarismo iluminado ou mesmo parar num qulquer despotismo esquerdista.

Depois de declarar troantemente, à maneira de um deus grego poderoso e implacável, que não suporta isto e aquilo, desce, do alto do seu auto-cultivado estatudo de consciência moral do partido, para a política mais rasteira e comezinha da contagem dos votos; isto é, da política da contabilidade e caça ao voto. As suas lutas trovejantes, contra o próprio partido, que ninguém cala (resíduos tóxicos, presidenciais, urgências-maternidades, professores), afinal tem como fito o benéfico e substancial aumento de votos no seu partido. Está explicado porque é deputado desde a Constituinte e merece continuar.

MA ainda não digeriu racionalmente a derrota nas primárias do PS e, depois da relativa mas improfícua victória interna nas presidenciais, não pára de confrontar-se com o seu fingimento de que quer assumir a canseira da acção política, um calvário na actualidade, em detrimento de estar bem sentado na poltrona da AR, da caça, da pesca e da escrita. Longe vão os tempos que MA, no canto e na acção, antes e depois do 25 Abril, lutava contra a imposição duma classe sobre as outras, pela liberdade. Cego, talvez pela miragem de um projecto político pessoal, até se esquece que uma victória de uma classe obtida na rua sobre um governo democráticamente eleito por todas as classes da nação, é uma perda de liberdade face à captura do Estado a quem foi outorgado garantir liberdade igual a todos os cidadãos. MA não vê, ou não quer ver, que de uma multidão algo dionisíaca, virada de suplicantes a menádes celebrando os ritos do culto na rua de igreja própria, só pode terminar com o rolar de uma cabeça, de outra e de outra se para tal sentir força e até pode acontecer fazer rolar a cabeça da sua cantada querida e amada liberdade.

Numa, já não muito recente, querela que travou por causa de não ser incluido para uma antologia poética, os responsáveis pela escolha dos poetas antologiados, justificavam a sua não inclusão porque, diziam eles; "MA era o poeta maior dos poetas menores". Também agora, politica e moralmente (luta contra Soares), arrisca-se a ser considerado, ou ficar na história, como o político maior dos políticos menores.

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