UM CAMINHO A PERSEGUIR
No supermercado, enquanto lia o jornal, ouvia duas mulheres ainda jovens conversar calma, pausada e inadvertidamente, olheia-as e ouvi uma delas, serenamente, dizer: "...paciência, nasceu assim, temos de aceitar, todos temos um caminho a perseguir".
Logo pensei que quereria dizer "um caminho a prosseguir", um caminho traçado do qual não podia fugir, pensei até que teria empregado o termo "perseguir" no sentido de "prosseguir". Mas eu ouvi ela repetir "o perseguir" e fiquei pensando no sentido não determinista e flexível de destino que se obtem utlizando tal termo. Dizer "um caminho a perseguir", no sentido de um destino que se persegue contém um pensamento de conteúdo elevado acerda da liberdade e da livre escolha. A ideia religiosa diz que o homem é totalmente dominado por forças exteriores transcendentes que o obrigam, que o dominam, que o manipulam como títeres nas mãos do destino e da necessidade. A ideia libertária diz que o homem é inteiramente senhor do seu agir, nenhuma força o obriga, é autor do seu caminho de pleno acordo com a sua vontade e livre-arbitrio. De um lado uma total dependência e ditaturial não-liberdade absoluta; uma fatalidade. De outro lado a inocente e ingénua liberdade absoluta; uma impossibilidade.
Entre estas duas posições, esta mulher cheia de sabedoria que ouvi no supermercado, definiu o destino como qualquer coisa muito menos rígida, e muito mais plástica, que os extremismos religioso ou libertário. Imagine-se a perseguir algo que foje, algo que tenta fugir e escapar-se de nós, algo como correr atrás de um ladrão que nos roubou. Esta imagem-situação torna imediatamente claro que o destino não tem de ser obrigatóriamente um caminho pré-determinado, ao contrário será um caminho incerto sob a pressão da liberdade e da necessidade: o ladrão tende a escapulir-se inventando, descobrindo ele mesmo, em cada momento o seu caminho próprio, mais propício à sua liberdade, ao sabor dos imprevistos surgidos no decorrer da fuga. Nós perseguimos, no encalço do ladrão, o seu percurso mas simultâneamente vamos inventando, descobrindo o melhor caminho, mais propício à nossa necessidade de o interceptar, caçar e interpelar. Segundo este ponto de observação podemos dizer que o destino é o "jogo do escondido", um jogo do gato e do rato, um contínuo buscar, perseguir e interpelar.
Os antigos já tinham dito que o caminho faz-se caminhando, pois esta mulher ensina-nos que o destino faz-se perseguindo-o. Por isso ela encarava a sua situação não sob uma resignação acabada mas sob uma aceitação lógica a ver e perseguir no tempo, serenamente, sem imprecações e maldições piedosas sobre a sua pouca sorte. E estou totalmente de acordo com a lição desta mulher simples, mas sábia. E muito obrigada a ela por isso.
Logo pensei que quereria dizer "um caminho a prosseguir", um caminho traçado do qual não podia fugir, pensei até que teria empregado o termo "perseguir" no sentido de "prosseguir". Mas eu ouvi ela repetir "o perseguir" e fiquei pensando no sentido não determinista e flexível de destino que se obtem utlizando tal termo. Dizer "um caminho a perseguir", no sentido de um destino que se persegue contém um pensamento de conteúdo elevado acerda da liberdade e da livre escolha. A ideia religiosa diz que o homem é totalmente dominado por forças exteriores transcendentes que o obrigam, que o dominam, que o manipulam como títeres nas mãos do destino e da necessidade. A ideia libertária diz que o homem é inteiramente senhor do seu agir, nenhuma força o obriga, é autor do seu caminho de pleno acordo com a sua vontade e livre-arbitrio. De um lado uma total dependência e ditaturial não-liberdade absoluta; uma fatalidade. De outro lado a inocente e ingénua liberdade absoluta; uma impossibilidade.
Entre estas duas posições, esta mulher cheia de sabedoria que ouvi no supermercado, definiu o destino como qualquer coisa muito menos rígida, e muito mais plástica, que os extremismos religioso ou libertário. Imagine-se a perseguir algo que foje, algo que tenta fugir e escapar-se de nós, algo como correr atrás de um ladrão que nos roubou. Esta imagem-situação torna imediatamente claro que o destino não tem de ser obrigatóriamente um caminho pré-determinado, ao contrário será um caminho incerto sob a pressão da liberdade e da necessidade: o ladrão tende a escapulir-se inventando, descobrindo ele mesmo, em cada momento o seu caminho próprio, mais propício à sua liberdade, ao sabor dos imprevistos surgidos no decorrer da fuga. Nós perseguimos, no encalço do ladrão, o seu percurso mas simultâneamente vamos inventando, descobrindo o melhor caminho, mais propício à nossa necessidade de o interceptar, caçar e interpelar. Segundo este ponto de observação podemos dizer que o destino é o "jogo do escondido", um jogo do gato e do rato, um contínuo buscar, perseguir e interpelar.
Os antigos já tinham dito que o caminho faz-se caminhando, pois esta mulher ensina-nos que o destino faz-se perseguindo-o. Por isso ela encarava a sua situação não sob uma resignação acabada mas sob uma aceitação lógica a ver e perseguir no tempo, serenamente, sem imprecações e maldições piedosas sobre a sua pouca sorte. E estou totalmente de acordo com a lição desta mulher simples, mas sábia. E muito obrigada a ela por isso.
Etiquetas: crónica comentário
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home