segunda-feira, janeiro 05, 2009

GUERRA QUENTE OUTRA VEZ


AGORA O MARTÍRIO VEM DO INIMIGO
Custa escrever sobre guerra a quente despejando toneladas de bombas e televisões despejando quilómetros de imagens de feridos mortos e casas destruidas. Custa-me a mim pessoalmente que fui envolvido numa guerra durante mais de dois anos, contra vontade. Foi há quarenta e sete anos mas ainda hoje dói o coração lembrar que falamos sobre o futuro com um camarada e, horas depois, de repente, uma bala fura-lhe a cabeça por onde escorrem os sonhos o cérebro e a vida sobre a picada. E custa saber também, hoje em dia, que essa guerra poderia ter sido evitada com outra clarividência política, ou melhor, com uma discussão política democrática sobre o ultramar e não com imposições ditaturiais.

E aqui reside o ponto desta guerra actual na Palestina: a questão da democracia e liberdade contra a ditadura religiosa intolerante, inflexível, extremista. É renconhecido, desde os tempos do primeiro testamento bíblico, o direito de ambos os povos àqueles territórios. Se assim é têm obrigação de arranjar uma solução politico-social de coexistência e convivência pacífica. Se uma ou as duas partes não se esforçam empenhadamente nessa solução, ou é imposta à força de fora ou resolve-se pela força entre os contendores. E tudo indica que é esta solução que ambas as partes persseguem, convencidos a curto prazo um, a longo prazo outro, que têm possibilidades de vencer aniquilando o adversário.

Mas esta guerra não tem batalhas, avanços e recuos de trincheiras e linhas da frente, é uma guerra total pela sobrevivência de cada povo, se a coisa der para o torto só o aniquilamento de um deles ditará o vencedor. Por isso custa a crer que os lideres, especialmente os do mais fraco militarmente, não tenham consciência que jogam a vida do seu próprio povo. E, puta maldição, eles sabem mas creem que quanto maior o martírio maior a glória e victória. Eles, a uns individualmente, ensinam que quanto mais quilos de trotil à cintura mais sangue e pedaços de carne espalham com agradecimento e recompensa divina, a outros colectivamente engordam para fazer deles, na hora certa, carne para canhão, sacrificando para obter favores do além propícios à victória. Sacrificiam os seus concidadãos aos seus desígnios político-religiosos terrenos e depois fingem chorar aos berros os mortos que sacrificaram e ostentam para conquistar simpatias alheias.

Pode o povo palestiniano obter simpatia e vir a constituir uma nação respeitada sem deixar de continuar a lutar pelos seus legítimos direitos mas, antes de mais, tem de libertar-se de regimes bárbaros fervendo de ódio a avanços culturais. Pode algum povo do mundo conviver com um vizinho que não só não aceita a sua existência como proclama, defende e aje no sentido da sua destruição e erradicação total; que é fanático-religioso dogmático, irredutível de crença redentora; que lapída quem tem a mais leve diferença de opinião relativamente à sua?
O sistema social mundialmente instalado só pode coexistir com gente deste mundo que dá primazia e baseia a vida no mundo existente e não numa promessa de um mundo pressuposto. Quem cria e quer obrigar outros a viver sob sistemas sociais que representam séculos de regressão civilizacional tem de confrontar-se com vontades opostas e sujeitar-se às consequências. Ensinar que o martírio é superior à vida, incentivá-lo e organizá-lo, e face à morte carpir aos berros sobre o sangue imolado no martírio é uma vigarice completa.







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