TRABALHO COMUNITÁRIO VOLUNTÁRIO
"AJUDADAS"
Ficou o mundo português pasmado quando viu o Presidente eleito dos USA, descontraído de pincel na mão, a pintar paredes em trabalhos para a comunidade. Uma coisa destas feita nos USA e ainda por cima ao nível supremo é um espanto, um nunca visto, um incrível, uma grandeza suprema. Uma coisa destas feita em Portugal seria ridícula, mesquinha e sobretudo propaganda manhosa. Contudo, era eu uma criança de bibe rachado atrás, e já frequentava as "Ajudadas", organizadas para realizar um trabalho voluntário "duro e custoso" em benefício de famílias pobres ou, outras vezes, para realizar um trabalho "leve e de festa" para famílias pequenas e médias proprietárias.
Das "Ajudadas" festivas eram típicas as "desfolhadas" de milho, noite fora, com o povo à roda da "meda" de maçarocas e ao som de cantigas de bailes de roda. Os homens bebiam, as mulheres cantavam, os moços-rapazes namoravam por olhares, toques e encostos de pernas, mas ninguém arredava da roda e do serviço enquanto na "meda" houvesse uma única maçaroca sem bagos rosados a brilhar à luz do petróleo. Outro tipo de "Ajudada" festiva dava-se na ceifa mas especialmente na debulha. No tempo da debulha do trigo, vizinhos e outros, "tiravam um dia" e punham os animais para ir ajudar, na eira "posta em comum", à debulha do pequeno "roleiro" de molhos do modesto proprietário não auto-subsistente, ceifados de "dois pedaçitos" de terra. Esta era uma "Ajudada" especialmente festiva para os moços-miúdos que se juntavam e brincavam perdida e inesquecivelmente por entre os molhos de trigo e os montes de palha.
As "Ajudadas" de trabalhos duros e custosos reuniam os mais capazes, fortes e robustos do povo, para suportarem sem parar, um dia de esforço contínuo no carrego, transporte e manipulação de cargas de "derrear" possantes quanto mais fraquezas. Eram típicas destas "Ajudadas", os domingos ou feriados "tirados" para ajudar na construção da casa de um casal modesto mas bem visto e respeitado no lugar, muito especialmente quando se tratava do "arranque" ou "fecho" da casa habitação própria. Mais tarde esta "Ajudada" de fecho de casa, passou a realizar-se para quando se preparava cuidada e demoradamente o fecho da cobertura da casa por meio da "placa" de ferro e cimento. Preparada e escorada a cofragem, antes do romper do Sol os homens da "massa" arrancavam com as pás de areia e cimento, outros com as forquilhas de pedra britada e outros com baldes de água, tudo atirado umas sobre as outras e rápidamente o conjunto revolvido e revolteado várias vezes, com destreza e força bruta, ganhava a forma dum monte de argamassa de betão. De seguida os homens do "sarilho" baixavam o gancho e os homens dos baldes entravam em acção; cá em baixo uns enchiam baldes que levavam ao gancho, lá em cima outros tiravam do gancho e carregavam os baldes enormes cheios, de fazer ranger ossos, até aos pedreiros que iam compondo a massa e dando forma à placa.
Qual cadeia de montagem chaplinesca, mais que isso trabalhava-se ao ritmo de corrida aos sprints que se repetiam circularmente, sem parar horas e horas, até que os pedreiros dessem por concluida a placa. Quase sempre, este trabalho doloroso mas feito com gosto e abnegadamente, durava de sol a sol, com intervalo para almoço que o dono da casa oferecia, fartamente, a todos os participantes na boa causa da "Ajudada". Após a limpeza dos restos e das ferramentas, os próprios homens cobertos de poeira dos materiais, amassada com suor, mais pareciam estatuária feita de blocos de betão que propriamente figuras humanas. Uma última ida ao bidom da água para uma lavação de mãos com esfrega da cara, cabeça, braços e tronco, deixava-os preparados para a grande ceia. Para celebar a dádiva do desgastante esforço ofertado, havia a mesa da ceia comum posta com fartura de carne pão e vinho, para uma merecidamente ganha comunhão de alegria partilhada ao vivo na hora, e sobretudo no reforço de uma unidade social comum e de um forte sentimento bom de pertença a uma comunidade com sentido de entreajuda entre sí e dada a valores generosos, referênciais duma consciência comunitária com identidade em tradições genuínas próprias. Também as mulheres e filhos garotos participavam da mesa da ceia final comungando da alegria geral, contributo valioso para o fomento e criação de laços de amizade e fraternidade de ambiente familiar. E assim um povoado se tornava um povo.
Obama, talvez interpretando os sinais dos tempos que correm, de sentido com regresso ao real, à terra chão, o seu apelo aos concidadãos para revisitarem a recém-história dos actos de heroísmo e liberdade dos pais fundadores e o gesto de trabalho comunitário voluntário, estarão carregados de simbolismo para o regresso ao bem-estar e prosperidade dentro da iniludível condição humana natural, não artificial. O regresso aos velhos valores e costumes saudáveis de progresso sem ansiedades, com base humanista, sem processos de dolonia.
Das "Ajudadas" festivas eram típicas as "desfolhadas" de milho, noite fora, com o povo à roda da "meda" de maçarocas e ao som de cantigas de bailes de roda. Os homens bebiam, as mulheres cantavam, os moços-rapazes namoravam por olhares, toques e encostos de pernas, mas ninguém arredava da roda e do serviço enquanto na "meda" houvesse uma única maçaroca sem bagos rosados a brilhar à luz do petróleo. Outro tipo de "Ajudada" festiva dava-se na ceifa mas especialmente na debulha. No tempo da debulha do trigo, vizinhos e outros, "tiravam um dia" e punham os animais para ir ajudar, na eira "posta em comum", à debulha do pequeno "roleiro" de molhos do modesto proprietário não auto-subsistente, ceifados de "dois pedaçitos" de terra. Esta era uma "Ajudada" especialmente festiva para os moços-miúdos que se juntavam e brincavam perdida e inesquecivelmente por entre os molhos de trigo e os montes de palha.
As "Ajudadas" de trabalhos duros e custosos reuniam os mais capazes, fortes e robustos do povo, para suportarem sem parar, um dia de esforço contínuo no carrego, transporte e manipulação de cargas de "derrear" possantes quanto mais fraquezas. Eram típicas destas "Ajudadas", os domingos ou feriados "tirados" para ajudar na construção da casa de um casal modesto mas bem visto e respeitado no lugar, muito especialmente quando se tratava do "arranque" ou "fecho" da casa habitação própria. Mais tarde esta "Ajudada" de fecho de casa, passou a realizar-se para quando se preparava cuidada e demoradamente o fecho da cobertura da casa por meio da "placa" de ferro e cimento. Preparada e escorada a cofragem, antes do romper do Sol os homens da "massa" arrancavam com as pás de areia e cimento, outros com as forquilhas de pedra britada e outros com baldes de água, tudo atirado umas sobre as outras e rápidamente o conjunto revolvido e revolteado várias vezes, com destreza e força bruta, ganhava a forma dum monte de argamassa de betão. De seguida os homens do "sarilho" baixavam o gancho e os homens dos baldes entravam em acção; cá em baixo uns enchiam baldes que levavam ao gancho, lá em cima outros tiravam do gancho e carregavam os baldes enormes cheios, de fazer ranger ossos, até aos pedreiros que iam compondo a massa e dando forma à placa.
Qual cadeia de montagem chaplinesca, mais que isso trabalhava-se ao ritmo de corrida aos sprints que se repetiam circularmente, sem parar horas e horas, até que os pedreiros dessem por concluida a placa. Quase sempre, este trabalho doloroso mas feito com gosto e abnegadamente, durava de sol a sol, com intervalo para almoço que o dono da casa oferecia, fartamente, a todos os participantes na boa causa da "Ajudada". Após a limpeza dos restos e das ferramentas, os próprios homens cobertos de poeira dos materiais, amassada com suor, mais pareciam estatuária feita de blocos de betão que propriamente figuras humanas. Uma última ida ao bidom da água para uma lavação de mãos com esfrega da cara, cabeça, braços e tronco, deixava-os preparados para a grande ceia. Para celebar a dádiva do desgastante esforço ofertado, havia a mesa da ceia comum posta com fartura de carne pão e vinho, para uma merecidamente ganha comunhão de alegria partilhada ao vivo na hora, e sobretudo no reforço de uma unidade social comum e de um forte sentimento bom de pertença a uma comunidade com sentido de entreajuda entre sí e dada a valores generosos, referênciais duma consciência comunitária com identidade em tradições genuínas próprias. Também as mulheres e filhos garotos participavam da mesa da ceia final comungando da alegria geral, contributo valioso para o fomento e criação de laços de amizade e fraternidade de ambiente familiar. E assim um povoado se tornava um povo.
Obama, talvez interpretando os sinais dos tempos que correm, de sentido com regresso ao real, à terra chão, o seu apelo aos concidadãos para revisitarem a recém-história dos actos de heroísmo e liberdade dos pais fundadores e o gesto de trabalho comunitário voluntário, estarão carregados de simbolismo para o regresso ao bem-estar e prosperidade dentro da iniludível condição humana natural, não artificial. O regresso aos velhos valores e costumes saudáveis de progresso sem ansiedades, com base humanista, sem processos de dolonia.
Etiquetas: histórias gorjonenses
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