CORRUPÇÃO
CONCURSOS, CÂMARAS, CORRUPÇÃO, FINGIMENTO.
Vai por aí uma alta ladainha, outra vez, contra a corrupção a propósito da possível lei, provisória para este período de crise, que permite adjudicações por ajuste directo. Opinadores empoleirados fazem prognósticos de fé que a corrupção vai explodir nas Câmaras. E porque vai ser assim? Porque, explicam prenhes de convicção, se é certo haver corrupção nas Cãmaras, então estas, com tal lei na mão, farão disparar corrupção por todos os lados conhecidos e amigos. Se se pergunta porque são corruptas as Câmaras e como o são, apontam os exemplos de Felgueiras, Oeiras, Gondomar, Marco Canavezes e pouco mais em centenas de Câmaras. Portanto de uns quantos casos, que por sinal estão sob investigação da justiça, deduzem automáticamente que Câmara é sinónimo de corrupção.
Esta portuguezinha mentalidade é também um dos motivos do nosso atraso sócio-económico, cultural, etc. O nosso mesquinho raciocínio é levado logo a concluir que se uns são, então são todos e desta certeza imaginada passamos a desconfiar todos uns dos outros, e depois a ser afirmativos e acusadores inexoráveis. Por outro lado, este modo de ver a corrupção nos outros é um bom alibi para a nossa consciência, ela própria altamente comprometida no alastrar do fenómeno. Nas últimas eleições, um licenciado meu conhecido morador em Oeiras, afirmou-me perentoriamente ir votar no Isaltino porque, embora pudesse ser corrupto tinha obra feita, engrandecera e orgulhava o Concelho. Foi na base de tal "conceito" moral de "corrupção boa" que o Isaltino, a Fátima e o Major, mesmo contra os partidos ganharam as eleições. E são grande parte deste tipo de eleitores, que fazem jogos mentais de conveniência contra a ética e a moral política, os mais exaltados quando se pronunciam sobre qualquer caso de corrupção.
Outra consequência deste pensar mesquinho português é também o facto de promover a idéia da imutabilidade do carácter ético e social das pessoas, e por consequência a imutabilidade do seu comportamento. Nem a mudança das condições de vida das pessoas, nem as leis, nem a justiça, nem a malha do escrutínio público cada vez mais apertada, nem o desenvolvimento tecnico-científico, nem novas concepções mais elevadas e ricas socialmente, nenhuma mudança de circunstâncias, nem a mudança de gerações, nada faz alterar o pensamento unicórneo que um dia, há muito tempo, formou a mente do português. Não é por acaso que gostamos e admiramos muito a "coerência" dos casmurros que não mudam um milímetro o seu ponto de vista mesmo quando o mundo já mudou anos-luz de forma, conteúdo e perspectiva. Deste modo, pensa-se a corrupção como uma pele indespegável da condição humana portuguesa e inerente à nossa própria existência, e jamais como uma condição social susceptível de aperfeiçoamento e melhoramento.
Assim os autarcas, qual pecado original, em Portugal serão sempre apontados como únicos culpados genéticamente corruptos, contudo continuam sendo eleitos sucessivamente pelos emocional e exaltadamente não corruptos e portanto éticamente puros. Um paradoxo só compreensível pelo refinado e alto grau de fingimento da maneira de ser português adquirido ao longo de séculos de decepções de grandezas históricas falhadas.
Vai por aí uma alta ladainha, outra vez, contra a corrupção a propósito da possível lei, provisória para este período de crise, que permite adjudicações por ajuste directo. Opinadores empoleirados fazem prognósticos de fé que a corrupção vai explodir nas Câmaras. E porque vai ser assim? Porque, explicam prenhes de convicção, se é certo haver corrupção nas Cãmaras, então estas, com tal lei na mão, farão disparar corrupção por todos os lados conhecidos e amigos. Se se pergunta porque são corruptas as Câmaras e como o são, apontam os exemplos de Felgueiras, Oeiras, Gondomar, Marco Canavezes e pouco mais em centenas de Câmaras. Portanto de uns quantos casos, que por sinal estão sob investigação da justiça, deduzem automáticamente que Câmara é sinónimo de corrupção.
Esta portuguezinha mentalidade é também um dos motivos do nosso atraso sócio-económico, cultural, etc. O nosso mesquinho raciocínio é levado logo a concluir que se uns são, então são todos e desta certeza imaginada passamos a desconfiar todos uns dos outros, e depois a ser afirmativos e acusadores inexoráveis. Por outro lado, este modo de ver a corrupção nos outros é um bom alibi para a nossa consciência, ela própria altamente comprometida no alastrar do fenómeno. Nas últimas eleições, um licenciado meu conhecido morador em Oeiras, afirmou-me perentoriamente ir votar no Isaltino porque, embora pudesse ser corrupto tinha obra feita, engrandecera e orgulhava o Concelho. Foi na base de tal "conceito" moral de "corrupção boa" que o Isaltino, a Fátima e o Major, mesmo contra os partidos ganharam as eleições. E são grande parte deste tipo de eleitores, que fazem jogos mentais de conveniência contra a ética e a moral política, os mais exaltados quando se pronunciam sobre qualquer caso de corrupção.
Outra consequência deste pensar mesquinho português é também o facto de promover a idéia da imutabilidade do carácter ético e social das pessoas, e por consequência a imutabilidade do seu comportamento. Nem a mudança das condições de vida das pessoas, nem as leis, nem a justiça, nem a malha do escrutínio público cada vez mais apertada, nem o desenvolvimento tecnico-científico, nem novas concepções mais elevadas e ricas socialmente, nenhuma mudança de circunstâncias, nem a mudança de gerações, nada faz alterar o pensamento unicórneo que um dia, há muito tempo, formou a mente do português. Não é por acaso que gostamos e admiramos muito a "coerência" dos casmurros que não mudam um milímetro o seu ponto de vista mesmo quando o mundo já mudou anos-luz de forma, conteúdo e perspectiva. Deste modo, pensa-se a corrupção como uma pele indespegável da condição humana portuguesa e inerente à nossa própria existência, e jamais como uma condição social susceptível de aperfeiçoamento e melhoramento.
Assim os autarcas, qual pecado original, em Portugal serão sempre apontados como únicos culpados genéticamente corruptos, contudo continuam sendo eleitos sucessivamente pelos emocional e exaltadamente não corruptos e portanto éticamente puros. Um paradoxo só compreensível pelo refinado e alto grau de fingimento da maneira de ser português adquirido ao longo de séculos de decepções de grandezas históricas falhadas.
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