A "QUESTÃO BORDEIRENSE": UMA TESE (2)
Mas atentemo-nos às origens da tradição. Tanto a "Velha Guarda" grupo
que engloba os primeiros conviventes discípulos e nobre herdeiros
directos dos criadores da tradição como alguma "Nova Guarda" charoleira,
que mais derivou para a "questão bordeirense" actual, são unânimes a
confirmar que o verdadeiro pai fundador da "tradição" foi o Mestre
José Ferreiro (Pai), brilhante acordeonista e compositor.
Foi o
conjunto da sua Música de tal forma bem construída e tão bela e
adequadamente ritmada que, no caso do corridinho, podemos afirmar que
ele inventou o ritmo e harmonia modelo daquele tipo de composição.
Mas,
para os bordeirenses, o maior contributo e fundamento para o nascimento
da sua contagiosa "tradição" está na sua magnífica composição de batida forte e
compassada de cunho militarista a qual na sua letra, da autoria de António Aleixo certamente influenciado pelo pensamento do recém-Soldado de guerra, há palavras de exortação que são pronunciadas e cantadas como se fossem gritadas a toque de clarins, trombetas e tambores gigantescos em marcha rumo à vitória ou morte, como os espartanos.
E que são e dizem assim:
Oh! Bordeirenses
Como é bonito,
Desta Bordeira,
O chão bendito!
Bordeira amada
Em que nascemos
Se fores atacada
Todos te defenderemos.
Esta
composição designada Marcha de Bordeira, de acentuado cunho e sentido
guerreiro na música e na letra, não nasceu assim porque o Poeta Aleixo ou Mestre José
Ferreiro tivessem em mente qualquer suspeição de ataque militar,
terrorista, ou de bandoleitros estrangeiros ou vizinhos numa tentativa
de invasão da terra natal.
O Mestre compositor, havia pouco
tempo ainda, tinha desembarcado vindo da 1º Grande Guerra de 1914-1918
para onde embarcara em 05/Julho/1917 e da qual desembarcara em Lisboa a
10/Julho/1919 depois de ser colocado, como ferreiro, nos Serviços Auto
em 13/11/1917 e depois nos Serviços de Trem em 09/Março/1918
precisamente um mês antes de La Lys (ver imagem acima).
O Soldado
José das Neves Vargues colocado desde cedo no Trem-Auto das tropas
portuguesas do CEP, certamente, pouco conheceu das trincheiras mas seguramente
viu-se envolvido quase permanentemente de desfiles e paradas com suas
respectivas fanfarras de marchas e cantos militares que, como tocador de acordeão de
raro instinto musical, lhe inundaram a "alma" e fizeram transbordar a
sensibilidade artística criativa.
Nos serviços de retaguarda, de
apoio à frente, também teve oportunidades várias de visitar as vilas e
aldeias francesas dos arredores do acampamento e frequentar as
Sociedades Recreativas locais para ouvir e apreciar grandes
acordeonistas da melhor "Bal Musette" tão tipicamente francesa e famosa
naquele tempo.
Encantado, e de "alma" cheia de clarins e daquela bela música moderna que
lá era dita de "acordéon" e não de "foles" ou "concertina" ganhando
estatuto de música à séria, o Mestre mal chegado da guerra começou a
aplicar a sua forte intuição musical compondo modernas e belas melodias
para serem tocadas por ele próprio e cantadas pelos grupos de "janeiras"
no 1º de Janeiro e dia de Reis.
E a "tradição" nasceu.
Etiquetas: a "questão bordeirense"
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