terça-feira, abril 21, 2020

AMÉRICO DO BRITO DAS NEVES; UMA FIGURA GORJONENSE.


Américo do Brito das Neves foi uma figura gorjonense Mestre calceteiro, continuador de uma antiga família de grandes profissionais na arte de fazer calçada à portuguesa, e o exemplo inspirador para alguns familiares que se reviam no Tio Mestre para se dedicarem a trabalhar desde a original calçada vulgar até à verdadeira arte da "Calçada Artística", tal como o Tio já fizera.
Fez a 4ª Classe da Escola Primária do seu tempo de "moço" nos Gorjões mas a sua verdadeira e merecida equivalência catedrática foi a Vida Prática sob uma mente inquieta e vontade irresistível de questionar-se e ultrapassar-se sucessivamente ao longo da sua vida nos trabalhos práticos do dia a dia.
 Mas, também, questionar-se sobre o próprio sentido da vida: acerca de si e relação com o outro; da sua ética de valores com a do outro; a visão de si e do povo; acerca de ser emigrante e da sua terra e tradições.
Já pai e homem de trabalho em pleno, maduro e esclarecido, nos anos'60 do Séc. passado emigrou para França onde viveu e trabalhou na sua profissão e como Mestre ensinando outros na sua arte. O resto de sua vida activa passou nesse país que estimava e comparava com o seu onde nunca faltava à comparência na sua terra natal por altura de vacances.   
Todas essas inquietações ele as tentava exprimir pela via poética inspirado no exemplo do seu amigo grande poeta António Aleixo que desde miúdo ouvira dizer e cantar "quadras" que lhe não saíam da cabeça. E também do Poeta Bexiga, de sua juventude, com quem despicava poeticamente.
Acerca dos poetas deixou escrito:
    
Acerca do que sentia, ou melhor, devia ser uma quadra para si, entendia que ela devia suscitar no leitor "Mil respostas e perguntas" o que é uma proposição de profundo conteúdo poético-filosófico.
  
Era leitor assíduo de jornais e revistas comuns e mostra que foi também leitor de Camilo Castelo Branco;

Da religião e política;
Da condição de Emigrante;
 
Da sua terra natal, das saudades;


Da observação e dos costumes;
 
Em 1943 um grupo de dezoito homens letrados e respeitados juntaram-se para criar uma Sociedade Recreativa Gorjonense que inaugurasse modos e costumes novos de organizar bailes e festas locais conforme à modernidade que já se instalara noutros lugares e Vilas próximas.
Este grupo de homens locais conheciam o Américo do Brito como o mais capaz de fazer belos versos dedicados aos costumes e tradições da sua terra para escrever a "letra" da marcha símbolo da referida SRG.
Era costume estas Sociedades Recreativas terem uma bandeira, marcha e hino como símbolos próprios. Assim reuniram dois grupos criadores desses símbolos: Para o hino o poeta António Aleixo e o acordeonista local Joaquim de Jesus e para a marcha o poeta Américo do Brito e o acordeonista José Ferreiro (pai).
Símbolos que ainda perduram mesmo para além da vida da antiga SRG.
A referida marcha pode ouvir-se no video abaixo, tal como foi cantada numa homenagem a outro falecido acordeonista gorjonense em 1999.

Segue-se o original da Letra da Marcha escrita pelo próprio autor e de seguida a marcha cantada por um grupo de jovens gorjonenses como era tradição.



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