FALA TRISTE DA AMENDOEIRA ARGARVIA
Fala triste da amendoeira algarvia:
Podem espreitar pelos vales e chapadas
dos cerros do Barrocal e verão que ainda
existo. Não como antes existia,
em mantos contínuos de brancura avistadas
de qualquer lado do olhar a sempre linda
paisagem de amendoeiras juntas que floria
e rendilhava o tapete verde de pinceladas
alvas, não vindas do céu, para recriar neve
a princesas nórdicas mas promessa de fruto
nascido da terra para dar beleza e sustento
a quem gostava e tratava de mim, como deve,
como mereço, como se eu fora um produto
do amor dos homens como já fui e lamento
ser hoje seu desprezo; ruína sem tratamento.
Sim, fui o carinho delicado das gentes amigas
do campo que apreciavam em mim a beleza
da flor e o belo fruto do doce algarvio
inigualável. Fui isso e hoje fui dada às urtigas,
ao mato daninho que mata a minha natureza
de ser bela e boa ao mundo da vida, mata o cio
de minha semente e a torna irreprodutível
condenando-me a um holocausto lento.
E ninguém me ajuda, ninguém me dá a mão.
Estou condenada! Eu a óptima face à sofrível
concorrência sem sol e de doçura um intento.
Eu, a mancha maior de beleza e fruto de então
estou reduzida a salpicos à espera da terrível
morte sem esperança levada no igual desalento
dos que gostaram e lutaram por mim em vão.
Vivo ainda da força de raízes próprias, apodrecidas,
que dão belas flores; falsa promessa de novas vidas.
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