domingo, janeiro 07, 2007

MARAFAÇÕES VI

SADDAM

Em cada homem já existe uma luta permanente de correlação de forças entre alma, espírito, coração, razão, necessidade, existêmcia, consciência, memória, que actuam sobre a súbdita carne do corpo, o executor dos planos saídos dessa luta travada no pensamento. Durante a aplicação, ao vivo, do plano, nenhuma das forças actuantes abdica da sua posição, atenta ao desenrolar dos acontecimentos e pronta a tornar-se predominante e alterar o plano. O homem é, por esse motivo, uma contradição permanente em sí e uma confusão incompreensível para o outro, o de fora. Tentando libertar-se desta permanente contradição e confusão que ele próprio é, refujia-se no preconceito que toma como o bem.
A morte de Saddam é merecida mas o enforcamento não é justo. Este é o alibi de meio mundo bem pensante para aliviar a consciência. Os mestres opinadores caseiros, J.M.F., P.P., e M.R.deS. e muitos muitos mais, são contra a pena de morte, por princípio, como tal são contra o horroroso enforcamento de Saddam. São porque são, como princípio, mas não o são como meio nem como fim. Se, como aonteceu com os filhos, uma bomba teleguiada lhe tivesse caído em cima da cabeça, era normal e tudo limpo. Se lhe enfiassem no corpo um carregador de balas quando o capturaram como fizeram com Savimbi, era perfeitamente normal e tudo limpinho. Como se houvesse mortes boas e mortes más. A vida é que tem coisas boas e más mas a morte é o mal absoluto onde não há distinções de qualidade. Do ponto de vista do morto que interessa a forma da morte se todas matam a esperança?
Aqueles senhores e muitos, muitos mais, apoiaram a invasão do Iraque feita por duzentos mil soldados equipados com espingardas, canhões, e bombas. Pensariam eles, nessa altura, que aqueles homens assim equipados iam para o Iraque caçar borboletas? Ou coçar as costas dos iraquianos e fazer festas na cabeça do Saddam? Por acaso pensaram alguma vez nos milhares de mortos que a guerra ia provocar? E que na guerra as vítimas maiores e verdadeiras são as pessoas inocentes, apanhadas entre os senhores da guerra que defendem interesses próprios?
No seu conforto condicionado longe do campo de batalha, eles defenderam a guerra e a inevitável consequente mortandade. Morreram milhares despedaçados sob balas, bombas, fogo, explosivos, seviciados e até degolados, mas estas mortes, por princípio, não têem mal em si, são normais mortes limpas de guerra justa. Nunca se debruçaram saber se estas milhentas mortes eram merecidas e o meio aplicado era justo. No preconceito de guerra não arrepiam as mortandades que esta faz e como faz, no preconceito de morte arrepia a forma.
Sobre a guerra os gregos diziam: -Ares é imparcial, mata os que matam-. Hoje o povo diz: - quem com ferro mata com ferro morre-, isto é; quem horrorosamente mata horrorosamente morre. Nestas afirmações não há o minimo vislumbre de quaquer idéia conveniente(preconceito) de piedade acerca da morte.
A barbaridade não está na forma de matar, está no matar.

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