quarta-feira, janeiro 10, 2007

MARAFAÇÕES VII

ABORTO

Já é perfeitamente nítido que a linha de separação entre sim e não está entre religiosos crentes e religiosos cépticos ou indiferentes.Cada lado esgrime dados científicos, morais, éticos e ultimamente joga-se com dados económicos.Vê-se, contudo, que sob as várias capas da argumentação trocada pelas partes, está sempre subjacente o efeito religioso.
Os do não são pela vida, a anunciada, que começa com a fecundação,a partir da qual existe um ser independente e intocável.Os do sim são pela vida,a existente,que deve determinar, por si, de sua consciência, o destino do que tráz em si e é seu.
Nos do não vê-se de caras o credo eclisiástico e a alma religiosa do crente. A mulher apenas acolhe dentro de si um novo ser que não lhe pertence: pura imagem pura de Maria.A mulher é apenas o receptáculo Escolhido, pela graça divina que pré-determinou, nela ,a criação de vida. A nova vida não foi fecundada pelo amor entre homem e mulher, ela foi criação do amor sobrenatural, já pré-existia antes da concepção humana, na conceptora mente divina.Logo é sacrilégio tocar e, sobretudo alterar, aquilo que é a vontade e criação do divino.Nem a mulher Escolhida, pois esta apenas é delegada responsável pelo transporte e cuidado do novo ser, sem qualquer direito sobre ele.
Nos pelo sim há matizadas motivações conforme são crentes cépticos, indiferentes, agnósticos, etc., isto é, conforme ao seu grau de religiosidade.Embora com diferenças de opinião reúnem-se todos pelo sim, pois a sua religiosidade não alcança as subtilezas da vontade divina, nunca vista nem ouvida, e ainda por mais sempre transmitida através dos homens devotos que se auto-excluem da experiência da fecundaçao humana.Estes discordam da salvação do homem pelo sofrimento, não estão dispostos a nenhuma forma de martírio para alcançar o céu, preferem levar da vida na terra quanto puderem que depois logo se verá, à boa maneira portuguesa.Para estes a felicidade deve construir-se e viver-se cá em baixo, pelo que exigem da sociedade que se organize para esse fim.Ora quem dirige a sociedade são homens e mulheres já seres feitos e não por fazer ou em vias de ser.Deste modo só aos humanos viventes maiores cabe a decisão de determinar o que é melhor para si, enquanto é vivo, e deixar aos filhos vivos, que deseje ter, como herança.
A discussão actual sobre o aborto é a continuação da eterna discussão entre o humano e o sagrado, entre o corpo e a alma.Para os do não o embrião já é corpo e tem alma própria, para os do sim o embrião é promessa de corpo e depende da alma da mãe.
Eu que me tenho por pessoa humana vulgar, um mortal sem qualquer graça ou conteúdo sagrado, votarei como tal.

Etiquetas:

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bom dia.

Parabéns a mais um Nexense que se lançou na blogosfera. Que a "Necessidade, Circunstância, Consciência" continue a bafejar-nos com mais pérolas neste blog de "Gorjeios".

4:28 da manhã  
Blogger HFR said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

5:56 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home