quarta-feira, março 21, 2007

ALLGARVE

MARKETING E PROVOCAÇÃO

Antigamente a publicidade puxava pela imaginação para nos provocar pelo insólito, pelo absurdo, pela junção duma musiquinha e letra de leitura fácil e imediata, pelo contraste exagerado com algo do senso comum, por uma imagem ou representação informal, contra corrente, etc. Esse tipo de publicidade era simples e inofensivo, retinha-se na memória pelo contraste com a normalidade corrente, continha no seu modo um sentido anedótico que nos predispunha à sua retenção pela graça e riso que nos proporcionava. Fazia-nos cócegas e não apelos subtis às fantasias eróticas, eram divertidos e colocavam-se sempre dentro da moral e da lei vigente.
Com a revolução dos costumes e da moral beata a partir do Maio francês e que entre nós explodiu com a liberdade de Abril, também a publicidade se revolucionou e posicionou no sentido de derrubar todos os antigos tabus moralistas. Usou, abusou e abusa da imagem do corpo e beleza carnal sinuosa feminina, insinuando que o produto contém aquele apetitoso corpo ou leva à obtenção dum corpo assim. Também o uso e abuso dessa imagem deixou de impressionar, tornou-se rotineira e para crianças face à proliferação do erótico-pornografico em suportes cada vez mais à mão.
Então a publicidade, utilizando igualmente a imagem do corpo feminino desnudado, usa-o num quadro encenando uma situação dúbia perante a exigência da lei face à exposição pública. Veja-se o que se passa com as recentes fotografias de campanhas publicitáris de criadores de moda mandadas retirar do mercado e o mesmo já acontecera com a Benetton à anos. O publicitário precisa, para seu sucesso e proveito, impingir a mensagem no subconsciente da cabeça do consumidor e para isso inventa sucessivamente novos métodos. Tem de inovar porque nos modelos muito usados a sua mensagem é descodificada aos primeiros visionamentos e, tal como uma anedota que nos contam, deitada fora da memória mais ou menos rápidamente. Esta situação acaba por dar-se quando se estabelece uma relação apenas entre a imagem publicitária e o consumidor.
Hoje em dia o publicitário joga com uma mensagem encenada de modo a enquadrar-se fora da lei para obrigar à discussão da ética e moral pública e obrigar à intervenção do poder. Chegado aqui o publicitário já conseguiu o seu objectivo; a sua imagem-mensagem está à discussão pública como se fora qualquer medida extraordinária tomada pelo governo. A argumentação e contra argumentação entre o poder e o publicitário salta para o público, a discussão prolongada tranforma a mensagem num prego enfiado na cabeça à martelada.
O certo é que a globalização do mercado transforma tudo num produto comercial vendável por um eficiente marketing. Se desde sempre na venda e compra houve poucos escrúpulos com valores no novo marketing vale tudo. Deste modo já se faz publicidade na bandeira nacional, faz-se publicidade ao som do hino nacional, as casas são "villas" e "home", O Algarve é Allgarve, e Portugal é uma "marca".
Dá-me pena que sejam os próprios governantes a subverter os nomes e símbolos que representam a unidade do país como nação.

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