NEXE, ESTADO DA CULTURA I
NEXISMOS
A freguesia de Santa Bárbara de Nexe ocupa uma área territorial com cerca de 4o Kms2, 20% da área do concelho de Faro, e é constituida por cerca de duas dezenas de sítios com aglomerados populacionais muito dispersos. Podemos imaginar um rectangulo de 10x4 kms encravado entre a proximidade da campina de Faro a sul e a proximidade da serra do Caldeirão a norte, deslizando pelas duas encostas do cerro nexe por terras chamadas do barrocal algarvio. O cerro nexe, do alto dos seus quase 400ms de altitude olha o mar a sul e a serra a norte, cria alguma dificuldade de tranposição mas mantem a morfologia de barrocal com os mesmos costumes ligados à actividade do cultivo agricola, pastorícia e exploração dos frutos secos. Dum lado e outro do cerro nexe a actividade cultural é identica, centrada no culto religioso, e por isso nascem em cada lado uma ermida a partir de meados do Séc.xv.
Os vários sítios da freguesia foram crescendo sempre de forma dispersa(casa no local de terra de lavrar) mas criando alguma centralidade à volta de novas realidades que nasciam localmente como os artífices, a venda, os poços, as casas de baile de roda mandado, um cruzamento com estrada nova, casa grande de lavoura, etc. No Séc.xx a partir do fim da guerra 14-18 sobressaiem três sítios onde se centraliza quase toda a actividade cultural da freguesia. São eles a Igreja, centro administrativo e paroquial com actividades na construção e ofícios ligados à pedra, Bordeira que se centraliza na actividade da exploração e trabalhos em pedra, e Gorjões que a partir das actividades da pedra se especializa na actividade de contrução de estradas. Nestes locais que aglutinam, comercial e culturalmente, todos os sítios vizinhos à volta, com pequenas diferenças temporais, nascem Sociedades Recreativas que passam a ser o local priviligiado de toda a actividade cultural desses sítios. Mesmo durante a ditadura salazarenta que proibia toda a actividade além do estritamente recreativo, estas Sociedades desenvolveram alguma actividade cultural como; leitura de jornais, escuta de notícias de fora pela telefonia, organização de peças de teatro(récitas), passagem de filmes(cinemas ambulantes), palhaços e ilusionismo(circo ambulante). Mas sobretudo eram locais de discussão, de confito de ideias, de debate acerca dos problemas da comunidade local, da guerra e das ideologias subjacentes(39-45), do desenvolvimento, das novas máquinas que surgiam; o automóvel, o combóio, o avião, a bicicleta, a estrada de alcatrão, o cinema(discussão entre bonecos mortos e bonecos vivos, cinema e teatro), a Espanha(guerra civil), comemorações do 9 de Abril(batalha de La Lys), etc., etc. Discutia-se ouvindo-se atentamente uns aos outros com tolerância, questionavam-se com o rigor e razão prática do entendimento confrontando a existência face aos acontecimentos do mundo e locais. E também com elevado sentido moral e social de comunidade organizando peditórios e festas de beneficência em favor de famílias muito pobres com filhos doentes necessitados de tratamentos especiais ou adquirindo transporte de tracção animal próprio para funerais evitando o carrego a braço dos mortos. Naquele tempo a miséria e a fome não eram figura de retórica, viam-se a olho nú à porta do pão racionado, e o direito à saúde era o direito natural da cura pela morte.
Contudo, apesar das intenções e do esforço dos fundadores das associações recreativas, o Estado Novo truncou-lhes quaiquer veleidades de dedicação mais visível ao aspecto cultural, o qual para ser digno de tal tem de ter algum fundamento ideológico. Veja-se que em nenhuma das referidas Sociedades se organizou sequer uma pequena biblioteca com literatura permitida ou outra. Estas teriam sido o meio ideal de recolha e difusão da cultura popular, nomeadamente da poesia popular, tão abundante e hoje perdida.
O Algarve não é rico em figuras de cultura de nível nacional e por conseguinte também o não é o concelho logo, só por um acaso muito original o seria a nossa freguesia. Mesmo assim há alguma originalidade cultural na nossa freguesia como é o caso de Bordeira.
Continua. Proximamente tentarei expôr opinião sobre os três nexismos que teimam em subsistir.
A freguesia de Santa Bárbara de Nexe ocupa uma área territorial com cerca de 4o Kms2, 20% da área do concelho de Faro, e é constituida por cerca de duas dezenas de sítios com aglomerados populacionais muito dispersos. Podemos imaginar um rectangulo de 10x4 kms encravado entre a proximidade da campina de Faro a sul e a proximidade da serra do Caldeirão a norte, deslizando pelas duas encostas do cerro nexe por terras chamadas do barrocal algarvio. O cerro nexe, do alto dos seus quase 400ms de altitude olha o mar a sul e a serra a norte, cria alguma dificuldade de tranposição mas mantem a morfologia de barrocal com os mesmos costumes ligados à actividade do cultivo agricola, pastorícia e exploração dos frutos secos. Dum lado e outro do cerro nexe a actividade cultural é identica, centrada no culto religioso, e por isso nascem em cada lado uma ermida a partir de meados do Séc.xv.
Os vários sítios da freguesia foram crescendo sempre de forma dispersa(casa no local de terra de lavrar) mas criando alguma centralidade à volta de novas realidades que nasciam localmente como os artífices, a venda, os poços, as casas de baile de roda mandado, um cruzamento com estrada nova, casa grande de lavoura, etc. No Séc.xx a partir do fim da guerra 14-18 sobressaiem três sítios onde se centraliza quase toda a actividade cultural da freguesia. São eles a Igreja, centro administrativo e paroquial com actividades na construção e ofícios ligados à pedra, Bordeira que se centraliza na actividade da exploração e trabalhos em pedra, e Gorjões que a partir das actividades da pedra se especializa na actividade de contrução de estradas. Nestes locais que aglutinam, comercial e culturalmente, todos os sítios vizinhos à volta, com pequenas diferenças temporais, nascem Sociedades Recreativas que passam a ser o local priviligiado de toda a actividade cultural desses sítios. Mesmo durante a ditadura salazarenta que proibia toda a actividade além do estritamente recreativo, estas Sociedades desenvolveram alguma actividade cultural como; leitura de jornais, escuta de notícias de fora pela telefonia, organização de peças de teatro(récitas), passagem de filmes(cinemas ambulantes), palhaços e ilusionismo(circo ambulante). Mas sobretudo eram locais de discussão, de confito de ideias, de debate acerca dos problemas da comunidade local, da guerra e das ideologias subjacentes(39-45), do desenvolvimento, das novas máquinas que surgiam; o automóvel, o combóio, o avião, a bicicleta, a estrada de alcatrão, o cinema(discussão entre bonecos mortos e bonecos vivos, cinema e teatro), a Espanha(guerra civil), comemorações do 9 de Abril(batalha de La Lys), etc., etc. Discutia-se ouvindo-se atentamente uns aos outros com tolerância, questionavam-se com o rigor e razão prática do entendimento confrontando a existência face aos acontecimentos do mundo e locais. E também com elevado sentido moral e social de comunidade organizando peditórios e festas de beneficência em favor de famílias muito pobres com filhos doentes necessitados de tratamentos especiais ou adquirindo transporte de tracção animal próprio para funerais evitando o carrego a braço dos mortos. Naquele tempo a miséria e a fome não eram figura de retórica, viam-se a olho nú à porta do pão racionado, e o direito à saúde era o direito natural da cura pela morte.
Contudo, apesar das intenções e do esforço dos fundadores das associações recreativas, o Estado Novo truncou-lhes quaiquer veleidades de dedicação mais visível ao aspecto cultural, o qual para ser digno de tal tem de ter algum fundamento ideológico. Veja-se que em nenhuma das referidas Sociedades se organizou sequer uma pequena biblioteca com literatura permitida ou outra. Estas teriam sido o meio ideal de recolha e difusão da cultura popular, nomeadamente da poesia popular, tão abundante e hoje perdida.
O Algarve não é rico em figuras de cultura de nível nacional e por conseguinte também o não é o concelho logo, só por um acaso muito original o seria a nossa freguesia. Mesmo assim há alguma originalidade cultural na nossa freguesia como é o caso de Bordeira.
Continua. Proximamente tentarei expôr opinião sobre os três nexismos que teimam em subsistir.
Etiquetas: nexenses
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