segunda-feira, março 12, 2007

TELEVISÃO ÃO ÃO ÃO

RTP, 50 ANOS

Durante anos a fio Mário Castrim, dia a dia, programa a programa, assinalou, desmascarou e desmontou a total subserviência política e cultural da RTP perante a ditadura. Ensinou-nos não só a ver mas sobretudo como ver televisão, como olhar o modelo, a encenação, o enquadramento, a omissão, a forma, o conteúdo da notícia, a sua mensagem sempre, directa ou subrepticiamente carregada de tendencioso efeito político, moral e cultural conveniente ao poder. Tudo isso, os mais velhos aprenderam, conheceram e sabem bem como se cozinha e não é preciso os novos papas comentadores nos virem agora lembrar a velha subserviência da cinquentenária senhora.
E quem, nesse tempo ligado à comunicação, não foi subserviente? Quem não se sujeitou à censura? E quem não foi subserviente depois ou o não é hoje?
Falar da subserviência do tempo da ditadura para apontar a subserviência como uma fatalidade da RTP é mistificar a condição inevitável de subordinação hierárquica da instituição. O carácter subserviente ou prepotente duma instituição influente revela tão sómente o desígnio fatal do poder. É da natureza e necessidade do poder exercer e fazer cumprir esse poder, não podendo agir por via violenta, usará meios de sedução pavloviana para condicionar atitudes, consciências, auto-propagandear-se, etc., e a televisão é o meio ideal, de efeito imediato e fácil manipulação, que tem à mão e não o desperdiça. Por isso a RTP serve sempre quem está no poder e é sempre criticada por quem está na oposição no momento.
Vasco Pulido Valente, Ex-Secretário de Estado, Ex-Deputado, diz(Público de 9 pp) :«Mas neste meio século reflectiu sempre servilmente o pior país. Não deu o mais ligeiro contributo para a liberdade e educação de Portugal».
E eu pergunto-lhe: e a televisão privada deu?
Eduardo Cintra Torres, Ex-colaborador para a definiçao do modelo da RTP2, diz(Público de 10 pp) : «Em 50 anos, a RTP teve uma informação globalmente subserviente ; uma produção cultural erudita diminuta e uma produção popular em geral pimba»
E eu pergunto- lhe: e a produção das privadas não é pimba é o quê?
Pacheco Pereira, influente Ex-Deputado, diz(Público de 10 pp) : «A concepção de fundo é clara e atravessou governos do PS e PSD: entretenimento competitivo com as privadas, futebol, concursos e telenovelas, para manter as audiências para o que verdadeiramente interessa - a manutenção de uma informação(no telejornal e nos programas de debate) controlada nos seus efeitos perturbadores).
E eu pergunto-lhe: e as privadas além das telenovelas, concursos, futebol e publicidade dão o quê?
Mas a pergunta crucial que deve fazer-se a estes senhores é a seguinte: a RTP é subserviente do governo e as privadas são subservientes dos anjinhos? A TV pública obedece ao poder livremente eleito por milhões e a TV privada apenas obedece ao patrão privado, muitas vezes escondido atrás dum qualquer testa de ferro. A TV pública servindo o governo ainda assim pode estar a ajudar o país se este fôr um bom governo enquanto a privada servirá sempre em primeiro lugar os interesses comerciais privados do patrão. A TV pública é escrutinada pela oposição, pelos comentadores, críticos, jornalistas, parlamento, cidadãos, também nas eleições legislativas, etc., e as privadas são vigiadas e controladas por quem? Já alguem viu os jornalistas do Expresso criticar pública e negativamente a SIC? E quando estes lançaram notícias desagradáveis ao BES e este ameaçou imediatamente cortar os acordos de publicidade, não se viu que tanto o jornal como a impoluta televisão meteu a viola no saco? E não se viu mui recentemente a independência do jornal Público perante a opa da Sonaecom sobre a PT? E qual foi a televisão que se atreveu a dizer, no auge do record de audiências, que se fosse preciso vendia um Presicente da República tal qual um sabonete? E qual correu com o inefável parecereiro Marcelo R. de Sousa quando este se fez inconveniente? E a mandado de quem?
Quanto a independência estamos perfeitamente empatados com a particularidade de que na privada nada poder ser alterado contra os interesses do dono. Essa é a terrível particularidade da particular.
Quanto à programação lembrar-se-ão ainda estes senhores quem introduziu, protegeu, alimentou, vendeu em doses maciças ao público def...rxyz a pimbalhice mais rasca da música, dança, concursos, erotismo de playboy e outros, telenovelas em série, o futebolismo mais primário, concursos deprimentes, telejornais de desgraças, acidentes, sangue, lágrimas, encenação de anedotas boçais, emissões fora da lei, cortes em filmes, programas patrocinados, publicidade visível e encapotada ininterrupta, etc., etc.? Acaso já não se lembram do Rangel, senhor televisão todo poderoso, em debates académicos defender a pimbalhice porque era isso que o público gostava? Depois o Moniz, senhor televisão todo poderoso aprendiz do Rangel, fazer ainda pior que o mestre e dizer que a programação abaixo de cão que emitia era exigência do público? Só se esqueceram de dizer quem tinha educado o público em tão elevado bom gosto que só queria, pedia, exigia a porcaria que o sabão das lavagens ao cérebro tinha amontoado. Infelizmente a RTP, endividada e sem receitas, apertada pelas dívidas e pelos adeptos da privatização, correu atrás das audiências e apimbalhou-se totalmente pela mão do senhor Arons que teve a lamentável idéia de ir buscar à pressa e peso de ouro o tal Rangel inventor e dono da pimbalhice pública. Começa agora a libertar-se da guterrista pimbalhota hard core para uma mais soft, de conteúdos polémicos duvidosos embrulhados vistosamente.
Saberão dizer-me estes senhores comentadores porquê as televisões privadas, e outros importantes meios de informação, vão sempre parar às mãos de grandes senhores já com grandes interesses em muitos outros negócios? Será para sevir o público ou criar um público condicionado e dirigido para os seus interesses privados escondidos?
Uma RTP privada para o senhor Sonaecom? Para o senhor Olivedesportos? Para o senhor Bes?
Evidentemente, as mãos privadas, propiciam discreta e privadamente, privados ávontades para todos os privados independentes se baterem pela maior independência do seu privado poder de compra.

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