sexta-feira, janeiro 19, 2007

GORJEIOS II

SANTA BÁRBARA DE NEXE, a História, a Igreja e a Memória
A MONOGRAFIA

Dada uma olhadela rápida pela História contada no recentemente(10.12.06) apresentado trabalho monográfico da nossa Freguesia, ficamos logo decididos a uma leitura passo a passo, atenta e gostosa, acerca dos antepassados que, com o seu rasto inscrito, deram uma ajuda preciosa para saber-mos donde viemos, quem fomos e o que somos.
No livro, coordenado por João Rocha Bernardes e Luis Filipe Oliveira, reconhecemos imediatamente um trabalho sério, competente e esforçado de pesquiza de campo e de arquivo para encontrar os nossos rastos, tarefa nada fácil dado as poucas pégadas ainda existentes. Ficou muito bem entregue o encargo deste trabalho em boa hora decidido pelo colectivo da Junta de Freguesia. Sem dúvida uma excelente idéia; este estudo, apesar dos escassos vestígios, consegue, com rigor, dar-nos alguma identidade própria no contexto da região circundante.
Também a boa organização e exposiçao dos assuntos, a redacção concisa e limpa de artifícios, são elevado contributo para o convite a uma leitura agradável através da história dos nossos avós familiares. Até os sempre enfadonhos gráficos, mapas, quadros e números ilustrativos, implantados a propósito e adequadamente, não perturbam nada a leitura agarrada, uma vez que os quadros mais pesados foram remetidos para os anexos. Dou a minha impressão elogiosa, contudo, ela pode estar contagiada de sentimento, pois sinto-me parte interessada na história que o livro conta, não o vejo de fora com distanciamento e isso ajuda ao preconceito.
Ficámos a saber que a 1ª referência documental a Nexe está no diploma de D. Dinis de 26 de Junho de 1291(tempos medievais), e que em 1458(tempos de Reforma) houve uma importante reunião algarvia em «Çanta barbara». Em 1479 aparece a 1ª referência ao apelido «Gorjam» no nome de seis importantes contribuintes, sendo um deles o sacador das contribuições para um elevado empréstimo aprovado em Lisboa. O apelido desta importante família gorjonense, segundo hipótese de José Pedro Machado(Ensaio sobre a toponímia do concelho de Faro) que os coordenadores corroboram, terá dado origem ao nome Gorjões.
A tradição oral aponta para que o nome seja muito anterior e com origem numa abundante existência local de pássaros gorjeadores natos, que por esse motivo, os de fora, passaram a chamar terra dos gorjões. Regra geral, um apelido familiar dá nome a um local quando é a 1ª família a implantar-se nesse local. Ora a existência de seis famílias ricas em terras, gado, cereais e frutos secos no local, pressupõe a existência de muitas outras famílias remediadas ou pobres no mesmo local, e portanto um lugar já povoado muito anteriormente. A riqueza possuída pelas seis famílias ricas, naquele tempo, certamente durou séculos a criar-se, não nasceu expontâneamente como hoje acontece.
Aliás, não parece razoável que após quase dez séculos de ocupação romana seguidos de mais cinco séculos de ocupação islâmica, ainda subsistisse locais próximos do mar sem designação. Em Estoi estava o mar e uma figura importante da hierarquia romana. No «Algarão da Goldra» foram encontrados rastos humanos do Calcolítico, os romanos deixaram rastos na Silveira e Poço do Canal, os islâmicos também deixaram rasto no Poço do Canal e deram nome a Benatrite, locais próximos. Sabemos que estes dois povos eram, civilizacionalmente, os mais avançados na época, e se andaram por aqui, não chamaram nomes aos locais?
As hipóteses do nome Gorjões proceder do nome «gorjão», pássaro ou apelido de família, é um produto de imaginação, e como esta é maior que Deus, pois este criou um mundo e eu pela imaginação posso criar quantos mundos quizer, imagino que o apelido «dos Gorjões» ou «a dos Gorjões» é consequência e não causa.
Mas a discussão é irrelevante perante o facto novo de, a partir de agora, haver uma postigo aberto para o nosso passado comum.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bom dia caro Adolfo:

A este nível não deixa de ser logo pertinente confirmar que há cerca de 400 / 500 anos esta freguesia tinha como pólos mais fortes (ou pelo menos mais documentados) a Goldra, os Gorjões, Bordeira e até mesmo o Pé do Cerro. Aliás, hoje onde é a sede de freguesia, não existia mais do que a Igreja e uma singela casa paroquial (e assim terá sido até ao século XVII ?!).

Sobre as origens dos topónimos ainda existem várias possibilidades ou teorias, mas de facto parecem surgir de características naturais (flora ou fauna), actividades humanas (cal, mel) ou familias importantes...

Sérgio

3:43 da manhã  

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