MARAFAÇÕES XXVIII
PEPE, O METRALHADOR
No princípio foi apenas a linguagem guerreira dos relatadores que tranformavam os campos das disputas futebolísticas em campos de batalha. O avançado tal "metralha" o guarda-redes com "disparos e tiros fulminantes", o clube tal "tombou" após a "batalha" em campo, o avançado tal saiu "ferido" após a "guerra que travou" com o defesa tal, e outros mimos militares para descrever ilustradamente o jogo do pontapé na bola. Daqui foi um passo para os posteriores comentadores estudiosos das academias futebolísticas, juntarem à terminologia militar anterior, sofisticações como "disposição no terreno em W, em linha, em quadrado, em cunha", utilização de "estratégias de ataque e defesa", aplicação de "tácticas de penetração pelas alas", visão de jogo para abrir espaços livres onde aparece "o ponta de lança que fulmina a rede e mata o adversário", e outras subtilezas retiradas das novas maneiras limpas de guerrear.
Também desde a antiguidade se apelidou o campo de batalha como o "teatro de guerra". Ora se o jogo de bola é descrito e comentado como batalha, então também nele tenderá a haver, necessáriamente, o elemento de representação teatral. E se a batalha do pontapé na bola por via das multidões, televisões e milhões em jogo rápidamente se transformou em grande espectáculo de entretenimento universal, consequentemente teria de haver no interior desse universo circense o inevitável palco para representação, aclamação ou apupação dos jogadores-actores. Por via do gosto das multidões, cada vez mais, a "batalha" se vai transformando em "teatro" o qual, por sua vez, interpretando e descendo ao gosto mais rasteiro, incorpora todas as variantes conhecidas e desconhecidas da arte teatral. No "teatro" futebolístico coexiste e sobe ao palco conjuntamente a tragédia, a comédia, o drama, a sátira, o burlesco, o surrealismo, o erotismo, o bordalismo, o machismo, o populismo, o oportunismo, o burlanismo, o escapismo, etc., etc., e os psicanalistas sacariam da sebenta completa de Freud. Isto porque quando os actores entram em cena já os media escalpelizaram a vida pública, a privada e a íntima de cada actor, acentuaram ou amenizaram o carácter e interesses próprios de cada um, concorrendo deliberadamente para picar a clubite de cada espectador. Este interpreta e interpela o jogador-actor de acordo com os valores morais pré-concebidos e sua côr clubítica e não pela habilidade do jogador em si.
É tal a primazia do teatro sobre o jogo que muitos jogadores já são apelidados de "fiteiros", "peseteiros", e grande parte deles são precisamente acusados de "fazer teatro", "fintar o árbitro", "fazer ronha". Mas além da acção teatral visível, existe o lado invisível aos espectadores, mas audível e duramente sensível no palco, de tal forma que leva a reacções violentas entre actores. É a táctica do actor menor, quando encarregado de segurar outro maior que ele o não consegue, então usa a cuspidela na cara, a agressão dissimulada, a ofensa injuriosa pela palavra, espera a reacção do adversário e teatralmente finge-se o agredido. Topa-se muitas vezes que este tipo de actuação é uma estratégia usada tacitamente por forma a alterar a correlação de forças em campo por via das expulsões. O exemplo mais flagrante deu-se no último campeonato do mundo com a victória dos italianos por força da forçada expulsão do melhor jogador francês. As entediantes explicações éticas e morais dos comentadores destes comportamentos para desculpar o fundamento e causador do mal em detrimento da legítima defesa, dá cobertura a que cada vez mais esta cena teatral seja representada.
Vem tudo isto a propósito de Pepe que agora foi "vendido" por milhões. Também este actor do pomtapé na bola, ou no adversário, tinha a sua cena especial como actor no "teatro de guerra" do futebolismo: cada vez que "fuzilava" as redes adversárias corria com o seu fuzil-metralhadora na mão e disparava tiros para o ar num simulacro perfeito de anunciação de guerra. Por mim acho que devia ter sido mandado disparar tiros para outro lado há muito tempo.
Também desde a antiguidade se apelidou o campo de batalha como o "teatro de guerra". Ora se o jogo de bola é descrito e comentado como batalha, então também nele tenderá a haver, necessáriamente, o elemento de representação teatral. E se a batalha do pontapé na bola por via das multidões, televisões e milhões em jogo rápidamente se transformou em grande espectáculo de entretenimento universal, consequentemente teria de haver no interior desse universo circense o inevitável palco para representação, aclamação ou apupação dos jogadores-actores. Por via do gosto das multidões, cada vez mais, a "batalha" se vai transformando em "teatro" o qual, por sua vez, interpretando e descendo ao gosto mais rasteiro, incorpora todas as variantes conhecidas e desconhecidas da arte teatral. No "teatro" futebolístico coexiste e sobe ao palco conjuntamente a tragédia, a comédia, o drama, a sátira, o burlesco, o surrealismo, o erotismo, o bordalismo, o machismo, o populismo, o oportunismo, o burlanismo, o escapismo, etc., etc., e os psicanalistas sacariam da sebenta completa de Freud. Isto porque quando os actores entram em cena já os media escalpelizaram a vida pública, a privada e a íntima de cada actor, acentuaram ou amenizaram o carácter e interesses próprios de cada um, concorrendo deliberadamente para picar a clubite de cada espectador. Este interpreta e interpela o jogador-actor de acordo com os valores morais pré-concebidos e sua côr clubítica e não pela habilidade do jogador em si.
É tal a primazia do teatro sobre o jogo que muitos jogadores já são apelidados de "fiteiros", "peseteiros", e grande parte deles são precisamente acusados de "fazer teatro", "fintar o árbitro", "fazer ronha". Mas além da acção teatral visível, existe o lado invisível aos espectadores, mas audível e duramente sensível no palco, de tal forma que leva a reacções violentas entre actores. É a táctica do actor menor, quando encarregado de segurar outro maior que ele o não consegue, então usa a cuspidela na cara, a agressão dissimulada, a ofensa injuriosa pela palavra, espera a reacção do adversário e teatralmente finge-se o agredido. Topa-se muitas vezes que este tipo de actuação é uma estratégia usada tacitamente por forma a alterar a correlação de forças em campo por via das expulsões. O exemplo mais flagrante deu-se no último campeonato do mundo com a victória dos italianos por força da forçada expulsão do melhor jogador francês. As entediantes explicações éticas e morais dos comentadores destes comportamentos para desculpar o fundamento e causador do mal em detrimento da legítima defesa, dá cobertura a que cada vez mais esta cena teatral seja representada.
Vem tudo isto a propósito de Pepe que agora foi "vendido" por milhões. Também este actor do pomtapé na bola, ou no adversário, tinha a sua cena especial como actor no "teatro de guerra" do futebolismo: cada vez que "fuzilava" as redes adversárias corria com o seu fuzil-metralhadora na mão e disparava tiros para o ar num simulacro perfeito de anunciação de guerra. Por mim acho que devia ter sido mandado disparar tiros para outro lado há muito tempo.
Etiquetas: cronica futebol
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home