sábado, junho 23, 2007

MEMÓRIAS



Maja Desnuda
Goya, 1798-1800



MANUEL SILVA, 1971

Decorriam os princípios de 1971, dirigia o estaleiro de instalações eléctricas de MT da Laminagem da Siderurgia Nacional no Seixal, admiti um idoso de 83 anos mas ainda vivo e ladino, sempre bem disposto, jovial e sábio prático tanto quanto a dura experiência da longa vida saudável lhe ensinara. Ficou adstrito ao escritório do estaleiro para fazer recados e levar água aos locais de trabalho dispersos. Naquela altura vivia sózinho mas já vivera com mais de meia dúzia e conhecera um quarteirão de mulheres, contava ele. Notava-se logo a sua efervescência e olhar em bico quando uma mulher bonita por ali passava. Às vezes, quando não tinha que fazer, vinha ter comigo e se era propício o momento, logo explanava a sua filosofia de vida experimentada. Eu tentava rebatê-lo apelando às minhas leituras mas as suas réplicas tiradas da leitura do livro vivo do dia a dia eram irrefutáveis. Recordo-me de uma vez, falando acerca de mulheres, o seu maior gosto, me dar estes ensinamentos:

-Ao trocar conversas com uma mulher olhe-a bem e se um dia lhe notar um brilho especial nos olhos esse é o dia dela e pode ser o seu também.

-A mulheres não são como os gatos que só têm um mês no ano, elas têm os meses todos do ano e estão sempre prontas.

O Ti Manel Silva do Seixal ainda me fez ouvir muitas outras máximas dos seus pensamentos da vida prática que certamente ele aplicou com sucesso. A vida depois ensinou-me que a receita terá um efeito plenamente conseguido quando o tal brilho especial se repercute entre ambos os olhares. O Ti Manel Silva tinha esse condão de fácilmente fazer repercutir o seu brilho de olhar nos olhos das mulheres.

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