quarta-feira, outubro 31, 2007

AS GUERRAS DE JOAQUIM FURTADO III


3ºEPISÓDIO

Neste episódio JF mantem a explicação da guerra através dos depoimentos posterioes dos combatentes dos dois lados. Tomada e ideia de relatar o início das hostilidades enquadradas apenas na política caseira colonial, nesta altura, desencadeadas as operações no terreno de parte a parte já não faria sentido outra coisa que não analisar as motivações, armamento, condições, modos de actuação, tácticas e estratégias de cada lado. O filme de JF até este episódio mantem um equilíbrio notável de rigor e honestidade histórica, montando os fios filmicos e documentais condutores do desenrolar do teatro de início da guerra ordenadamente nos momentos certos, o que torna a leitura e compreensão dos factos, fácil e acessível a todo o povo português. Sobretudo aos portuguêses que estiveram lá, foram intérpretes dos factos, são testemunhos vivos de muitas das acções relatadas e até hoje ainda ninguem lhes tinha ajudado tanto a entender a guerra em que se viram envolvidos.
O novo episódio incide especialmente no sentimento dramático e de vingança que se apossou, justificadanmente, dos portuguêses de Luanda após os relatos dos sobreviventes acerca do tribalista bárbaro massacre empreendido pela UPA em 15 de Março de 1961 no norte de Angola.
As primeiras tropas são recebidas como salvadoras e aconselhadas pela população anónima a retaliar da mesma forma sobre os pretos indígenas, mas também encorajados oficialmente e até prescritos os procedimentos de cortar cabeças e exibi-las para exemplo. E realmente a resposta da primeira tropa foi igualmente irracional e bárbara, foi a tentativa de devolver no espelho da guerra uma imagem igual para a UPA e de resgate e segurança para Luanda. A mortandade feita pela nossa tropa com o infantil pretexto de mostrar "que bala de branco mata mesmo", ou com o cínico pretexto de "tirar o retrato", que levou ao arrasar de sanzalas inteiras, foi a principal causa da fuga das populações para a mata. A partir daqui estas populações foram enquadradas pela forças rebeldes que passaram a contar com mulheres, homens e filhos na rectaguarda para educação independentista e recrutamento para a guerrilha sem parar.
Depois desta primeira tropa enviada em socorro para conter e evitar que os sublevados nativos fossem carregar sobre Luanda e aliviar as tensões que lá se viviam desesperadamente, foram enviadas novas tropas em barcos literalmente entulhados, que vão desenvolver, já operacionalmente coordenadas por estados maiores militares, operações planeadas para ocupação de todo o norte ocupado territorialmente pela Upa.
Ressalta ainda deste episódio, a candura cínica de Adriano Moreira, que logo após o falhado golpe de B.Moniz, foi nomeado por Salazar para preparar e dirigir o Ultramar em guerra, quando depoia que "é fácil alimentar uma esperança o difícil é concretizá-la". Por acaso quando apoiou a ida para a guerra não lhe veio à cabeça tão sábia sentença? Sendo um dos altos responsáveis vivos pela guerra e pelos seus 9000 mortos e muitos mais feridos, vem sofísticamente quase auto elogiar-se porque alimentou uma esperança vã. E não tem vergonha de o vir proclamar públicamente.

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