sábado, agosto 11, 2012

QUARTEIRA, TU ÉS PORTUGAL


Ao vendedor ambulante de peixe com areia, demos
o nome de "arreeiro", aquele que numa bicicleta
com canastras de cana, um potencial atleta,
comprara na lota do areal, aos pescadores a remos
da Quarteira de mar e hortejos que tivemos,
temos na memória, inteira repleta
de casas térreas e largos quintais brilhantes de cal
habitada de homens do mar brilhantes de sal.

Aldeia marítima movida a braço e vela, tempo velho
quando era longe ir até à tasca "toca do coelho",
sardinha e carapau era o prato rico do pescador
pobre, os "ingleses" do Barrocal e Serra do Concelho
montavam toldos com lencóis e, limpas de pudor
mulheres em combinações de linho, faziam furor
de galhofa aos ricos-filhos-família-meninos das "villas"
sobre a praia, mirónes do colorido arraial de mochilas
de tachos, cestos, bolsas de trapos, toalhas e panos alvos
estendidos sobre o areal, cobertos de caseiros manjares
inveja de deuses, contudo para louletanos papalvos,
imitadores macacóides de falsas nobrezas e seus pares,
motivo de chacota, mote para anedota, gozos imbecis
acerca dos "ingleses" afinal, seus avós e sua matriz.

Já dizia o poeta, imbatível conhecedor desta gentinha:
- vem da serra o infeliz vender sémea por farinha-
e passado tempo diz: - vê o que eu tinha e o que tenho,
visto fato, uso chapéu de loja, vou de popó p'ra Quarteira,
fiz lá "villa" p'rá família, montei negócios fiz carreira,
sou considerado, que foi e que é isso de ser serrenho? -

Ó Aldeia operária do mar, a tua matriz primeira
fez-se teu corpo e pele, hoje a nova elite foleira,
moderna como a dos seus "ingleses-avós", doutores
da mula ruça, do piorio mental de tolos burgueses,
trata-te agora, como sempre, de terra dos "ingleses"
de Portugal inteiro e, cantando idílicos louvores
subservientes, vão habitar zonas de aparências, onde
páram os refugiados do capital escroque, que os trata
àparte como seus "ingleses", pois ali anda e se esconde
o smith e o fritz assaltantes do mundo, o novo pirata
lavadeira branqueadora de coca e corrupção, o pior
da canalha universal no mundo do buziness off shore.

E tu, restas Cidade acolhedora do limpo turismo interno,
os do trabalho duro para se manterem remediados,
os que ao vai-vem de iates ao largo, lançam olhados,
os que sendo "português de gema", é povo subalterno
vexado pelos teus "ingleses-avós", feito moderno
novo-rico na venda de tuas casas, hortas e quintais
para erguer "torres" de seu risco e embolsar capitais
chorudos que, dado o seu elevado espírito de manada,
faz que, uns atrás dos outros, procurem édens de fachada
ali ao lado onde, por efeito misterioso de natureza social,
tudo acaba bem: eles mudam de ser mas tu és Portugal.

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