sexta-feira, julho 20, 2012

ELOGIO DA POBREZA


Finalmente, foram precisos quase nove séculos de vida em comunidade como país para que um povo triste e cabisbaixo, reencontrasse a sabedoria original e descobrisse sem pieguice o remédio que lhe faltava e precisava tomar para ser feliz: a pobreza.

A pobreza é a filha dilecta da natureza: vimos ao mundo no mais puro estado de pobreza natural, nus e desprotegidos, nem sequer uma fralda quanto mais uma roupa de marca, anel de ouro ou pedra preciosa. Ao nascer-mos não temos nada nem somos Prof, Dr., Eng.º, Arq.º, nem de nós mesmos somos donos.
O que é precioso no nosso nascimento é, precisamente, a pobreza, essa manifestação exemplar de sabedoria superior com que a natureza brinda à nossa individualidade. A pobreza é o primeiro bem com que somos agraciados ao nascer.

A pobreza é, portanto, o nosso estado natural. Finalmente, uma elite do nosso país reencontra a filosofia natural da existência para a aplicar ao povo e fazê-lo feliz. E nos clássicos encontrou a máxima orientadora de sua acção em prol do povo: «Quanto maior for a pobreza, mais feliz a vida».
Desta máxima tirada dos clássicos derivam as máximas da elite aplicadas ao povo:

1. Ao nascermos, o estado puro de felicidade coincide com o estado puro de pobreza.

2. Para quê estragar, no estado adulto, esta graça da natureza por nossas própria mãos?

3. Adulterado o estado de felicidade-pobreza inicial a natureza não nos obriga sempre, na velhice, ao retorno da decadência e pobreza natural?

4. Se nascemos completos de perfeição compostos de felicidade e pobreza, porque havemos de nos orientar pela imperfeição e corrupção do ter e dos bens?

5. É próprio da natureza que tudo seja perfeito e sem vícios como as árvores, animais, rios, mares, céu, sol, estrelas, astros, etc. porque razão há-de o homem querer ser diferente?

6. A pobreza é o estado natural e feliz do homem pelo que deve ser impedido que se subverta a ordem natural e queira viver em permanente tragédia existencial.

7. A felicidade não consiste em querer ser o que se não é mas em ser e viver sob o estado natural de pobreza.

8. Até Deus quis salvar o mundo escondendo o mistério da salvação aos ricos e só o revelou aos pobres. A sua companhia dilecta é a dos pobres pescadores e mulheres. A pobreza aproxima-nos do paraíso de Deus e a riqueza do inferno do Diabo.

9. A pobreza faz o homem rico de desejos e sonhos, que são de graça, enquanto os ricos guerreiam-se e matam-se por obter mais riqueza e poder.

10. A pobreza é fundamento de uma felicidade sem custos e que todos podem fruir em comum. Assim, finalmente, a pobreza é a mais poderosa promotora de igualdade entre o povo.

Em conformidade, é com entusiasmo que se devem apoiar todas as medidas para o empobrecimento do povo com dignidade ; isto é, para a obtenção de uma felicidade que levanta ânimos, alegra os tristes, estimula os indolentes, esperta os estúpidos, alivia os doentes, amansa os ferozes, promove a igualdade, induz a obediência dos iguais aos mais iguais.
Se tudo correr bem no programa de pobreza em benefício do povo, será dever natural da elite velar com toda a força que tiver à mão e disposição, para que nada perturbe o estado de pobreza feliz geral do povo que lhe foi confiado.

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1 Comments:

Blogger António said...

Se não existisse dinheiro todos seriamos ricos!

1:27 da manhã  

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