segunda-feira, dezembro 17, 2012

SOBRE O NOVO A ENORMIDADE SABE NADA


Recentemente na TVI estavam, no habitual retrógrado paleio do costume, a Judite passarinha laranja, com o Medina passarão salazarento, mas, naquele dia estava com eles um Professor empresário de novas tecnologias e ciências com uma linguagem aberta sobre os avanços nas novas ciências tecnológicas e falava de aplicações e exportações dessas mesmas novas ciências e tecnologias que deixava os outros dois boqueabertos, sem fala.
O Medina não via um boi nem percebia ou tinha pinga de ideia da existência daquelas ciências novas de que o Professor falava. Quando este falava em milhares de cientistas em Portugal a trabalhar e a inventar coisas novas já aplicadas na indústria e eram vendidas por empresas portuguesas, o Medina espantado, de olhar enfiado apenas balbuciava, "não fazia ideia disso", "não conhecia esse trabalho cá" , " um! um! sim! nas isso é interessante", e interjeições deste tipo sem ser capaz de exprimir uma opinião sobre o assunto. 
Uma miséria de conhecimento sobre a actualidade da ciência, ou melhor, um lastimoso desconhecimento sobre a ciência  e desenvolvimento científico actual no seu país. Para tal enormidade astrológica logo que a conversa vá para além da economia ou fiscalidade do tempo de Salazar o Medina parece um boi a olhar para um palácio e como tal explica os factos qualificando-os com adjectivos carregados de desgraças.
A Judite, impressionada com as explicações do Professor, às tantas volta-se para Medina e avança com a ideia; "Dr. Medina não lhe parece que o anterior governo tinha uma ideia, uma linha coerente quanto ao desenvolvimento tecnológico?" 
Aí o Medina retrógrado e chunga apressou-se logo a dizer: "qual quê, era só propaganda, propaganda, aquilo parecia o Goebels".

Ao dar inesperadamente com este artigo de Boaventura de Sousa Santos não resisti em transcrever  parte importante, pois nele, está a explicação para a fala que o tal Professor empresário falava com desenvoltura.

É este o texto de BSS,

Portugal foi o país da UE que nos últimos vinte anos mais progrediu nas diferentes áreas da ciência. Os números falam por si. A despesa em investigação em % do PIB em 1995 foi 0.5 e em 2010, 1.6. Em 1990, havia 8000 investigadores, em 2010, 46.256, o que correspondia a 8.3 investigadores por mil ativos (a média da UE é 6 e a da OCDE, 8), a maior taxa de crescimento da Europa. Em 1990 realizaram-se 337 doutoramentos e em 2010, 1660. Quanto à produção científica referenciada internacionalmente no Science Citation Index, em 2000 somava 2602 artigos e em 2010, 8224. As patentes submetidas à European Patent Office foram 8 em 1990 e 165 em 2009. O crescimento do número de investigadores gerou uma dinâmica no setor privado, onde a integração de investigadores foi igualmente galopante: passaram de 4.014 em 2005 para 10.841 em 2009.

O significado mais óbvio destes números é que eles mostram o caminho que Portugal estava a tomar para fugir à fatalidade de sermos um fornecedor de mão-de-obra barata. À medida que o sistema nacional de ciência se ampliava e os avanços científicos eram paulatinamente transferidos para a indústria e serviços, alterava-se a especialização internacional da nossa economia de modo a aproximá-la da que é típica dos países mais desenvolvidos. A mão-de-obra altamente qualificada manteria a vantagem comparativa do país já que, apesar de bem paga, seria mais barata que a correspondente noutros países europeus.

Este esforço deu um salto qualitativo a partir de 2000 com a criação dos laboratórios associados (LA). Os LAs resultaram da conversão de alguns dos melhores centros de investigação (com classificação excelente), aos quais foram dadas melhores condições para se expandirem, contratando investigadores exclusivamente dedicados à investigação e criando estruturas administrativas que lhes permitissem colaborar com outras instituições, celebrar contratos ou concorrer a financiamentos europeus. Isto permitiria ainda acabar com a situação perversa de Portugal, um dos países menos desenvolvidos da Europa, contribuir com mais dinheiro para os fundos de ciência da UE do que aquele que os seus investigadores obtinham em projetos. Pode discutir-se se outros centros mereciam ter sido convertidos em LAs (situação que pode corrigir-se a qualquer momento, e aliás conduziu, ao longo dos últimos 12 anos, ao alargamento do leque inicial), mas o que não pode pôr-se em causa é o êxito da aposta nesta inovação do sistema científico e tecnológico nacional. Foram até agora criados 26 LAs. Integram 28% do total dos investigadores doutorados; entre 2007 e 2012, obtiveram 88% dos financiamentos europeus do 7º programa-quadro (122 milhões de euros) conseguidos pela totalidade dos centros de investigação. A renovação do pessoal científico tornada possível pelos LAs explica que a maioria dos seus investigadores esteja abaixo dos 45 anos de idade, enquanto nos outros centros a maioria está acima dos 50 anos.

Boaventura de Sousa Santos
Visão, 13.12.2012

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